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edição de 11 de dezembro de 2023

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última página<br />

Alê Oliveira<br />

Stalimir Vieira<br />

é diretor da Base <strong>de</strong> Marketing<br />

stalimircom@gmail.com<br />

70 anos<br />

Stalimir Vieira<br />

Este ano, completei sete décadas. E gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar<br />

meu último artigo <strong>de</strong> <strong>2023</strong> a quem tem menos<br />

<strong>de</strong> 70 anos. De preferência, bem menos. Que<br />

esteja naquela fase da vida em que a existência ainda<br />

é repleta <strong>de</strong> curvas, dotada <strong>de</strong> espaço bastante para<br />

altos e baixos, incertezas excitantes e doces esperanças<br />

com relação ao futuro.<br />

É o seguinte: pratiquei a vida driblando o <strong>de</strong>finitivo. É<br />

uma luta, porque somos educados para edificar e legar<br />

alguma coisa mensurável, sob a ótica <strong>de</strong> padrões conhecidos<br />

e consagrados. Fora disso, é uma espécie <strong>de</strong> loucura.<br />

Morrer e renascer <strong>de</strong> quando em quando não é para<br />

qualquer mortal, quem sabe, para nenhum.<br />

Não falta gente equilibrada e bem-intencionada para<br />

alertar: não faça isso, a evolução continuada é o eixo<br />

seguro da realização que <strong>de</strong>ixa feliz. Passei, no entanto,<br />

a vida teimando. Não aquela teimosia saudável, popularizada<br />

como resiliência, aquela que nos permite vencer<br />

quando já encouraçamos a sensibilida<strong>de</strong>.<br />

Não existe vitória sem algum tipo <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>struição.<br />

É um negócio que fazemos conosco: damos um pedaço<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro em troca <strong>de</strong> um pedaço <strong>de</strong> fora. E um dia chegamos<br />

lá, com algum aleijume: físico, mental ou emocional.<br />

Ninguém escapa.<br />

Observem-se os <strong>de</strong>sportistas, os artistas, os publicitários,<br />

por exemplo. Ninguém chega lá inteiro. Ou íntegro.<br />

As convicções absolutas levadas a um extremo extenuante,<br />

por décadas <strong>de</strong> prontidão e ação, <strong>de</strong>formam-nos<br />

irremediavelmente.<br />

E acabamos enredados numa liberda<strong>de</strong> impossível<br />

<strong>de</strong> escapar. Atentos, portanto, jovens! Movimentos repetitivos<br />

levam a dores lancinantes no futuro. Pensamentos<br />

repetitivos levam a cegueiras incuráveis no futuro.<br />

Sem medo <strong>de</strong> ser infeliz é uma bela resposta à superficialida<strong>de</strong><br />

do “sem medo <strong>de</strong> ser feliz”. A pergunta tem<br />

<strong>de</strong> ser: feliz ou infeliz em relação ao quê? A questão incomoda,<br />

o que significa dizer que nos torna incômodos.<br />

Mas sempre se po<strong>de</strong>rá escolher entre ser incômodo<br />

ou ser incomodado. Como vocês, imensa maioria, se sentem<br />

no trabalho? Incômodam ou incomodadas? Preciso<br />

dizer? Isso implica no seguinte: a imensa maioria rema,<br />

obediente e contrariada, sem saber para on<strong>de</strong>.<br />

E quando terminar a sua vez, será reconhecida por ter<br />

remado, e não por ter chegado, mas estará convencida<br />

<strong>de</strong> que “chegou lá”.<br />

Convenhamos que, ainda que, possivelmente, estável<br />

para viver os anos finais da existência, não terá essa<br />

maioria, a bem da verda<strong>de</strong>, chegado a parte alguma.<br />

Mas sua vida pregressa será carimbada pelo legado<br />

<strong>de</strong> uma “contribuição inestimável”. O que, por um lado,<br />

não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser verda<strong>de</strong>. Afinal, ter aceitado uma vida<br />

incomodada como cômoda, significa o sacrifício <strong>de</strong> algum<br />

valor potencialmente mais importante.<br />

Sim, essa consciência parcial se nos terá permanecida<br />

latente ao longo dos anos, mas é perfeitamente compreensível<br />

(e nos perdoaremos sempre por isso) que ao<br />

adotar o pensamento repetitivo teremos evitado um risco<br />

tremendo. Principalmente consi<strong>de</strong>rando que nossos<br />

estímulos são também repetitivos.<br />

Libertar-se <strong>de</strong> estímulos e objetivos padronizados<br />

carrega a glória da irresponsabilida<strong>de</strong> completa. Com o<br />

tempo (suponham 70 anos), nos torna totalmente incapazes<br />

<strong>de</strong> fazer as coisas certas.<br />

Será por isso que eu nunca experimentei um medicamento<br />

tarja preta? Ou o contrário? Puxa vida, eu podia<br />

dormir sem essa.<br />

“Gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar<br />

meu último artigo<br />

<strong>de</strong> <strong>2023</strong> a quem<br />

tem menos<br />

<strong>de</strong> 70 anos”<br />

42 <strong>11</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2023</strong> - jornal propmark

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