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e durante deslocamentos do indivíduo. Ela é seletiva, motivo pelo qual se registram<br />

apenas campos visuais com grau adequado de estímulo da configuração espacial e<br />

em alguns momentos de nossos trajetos. As informações visualmente recolhidas<br />

sofrem mudanças profundas em nossa inteligência, tornando-se noções sobre o<br />

lugar percebido, ricas e abrangentes. São essas decodificações que constroem a<br />

ideia sobre a identidade de certo lugar.<br />

Assim, para a percepção, edifícios, cidades e paisagens são sistemas de sinais que<br />

adquirem significados quando interpretados. Porém, as tarefas de projetação exigem<br />

abstrações como são as plantas, cortes, fachadas, perfis e perspectivas<br />

axonométricas. O sistema de projeções ortogonais é o modo de representação<br />

adequado ao projeto, mas não expressa atributos do espaço presentes em sua<br />

percepção. Habitantes e visitantes de lugares preservados jamais perceberão certo<br />

edifício por sua representação em planta, nem um setor da cidade sob a forma de<br />

cortes ou elevações. Percebem composições de superfícies que, por nos cercarem<br />

de modo mais próximo ou mais afastado, estabelecem limites físicos para nossa<br />

visão e para nosso corpo; ou elementos que atraem a atenção para o final da cena<br />

que se oferece ao nosso olhar, ou que a interrompem bruscamente, impedindo que<br />

se saiba o que esconde. Apreendem,na verdade, efeitos visuais que se descrevem<br />

por meio de uma geometria própria à percepção,e não à tradição projetual.<br />

Enquanto a geometria da percepção representa o mundo tal como o vivenciamos,<br />

isto é, sensivelmente, a geometria projetual o expressa como jamais será<br />

efetivamente visto, mas disponibiliza dados indispensáveis às ações de preservação<br />

de monumentos e sítios patrimoniais. 40<br />

Porém, os lugares têm natureza histórica, estão em permanente mudança e são<br />

cenários dinâmicos das práticas diárias. No decurso de quaisquer atividades<br />

desenvolvidas no espaço, captamos informações sobre sua forma que se tornam<br />

noções espaciais a partir da percepção humana. Logo, o reconhecimento de áreas<br />

preservadas pode também ser um aprendizado permanente durante nosso ciclo vital<br />

e não restrito a certos momentos e condições. Nesse processo, a forma dos lugares<br />

torna-se bem simbólico e o sentido das noções espaciais se requalifica, pois se<br />

vetorizam para a formação da memória por meio da identidade dos mesmos.<br />

Como um “anti-museu” preconizado por Certeau (1994), a partilha do usufruto dos<br />

bens culturais deve abrir-se à trama das relações sociais também para suprir<br />

carências da memória popular. Desprovida da profundidade histórica presente em<br />

documentos, símbolos e demais representações restritas a intelectuais, esse tipo de<br />

memória beneficia-se dos processos de percepção universal, possibilitando a<br />

formação de uma identidade coletiva. Restringir a decodificação de símbolos<br />

patrimoniais a grupos intelectualmente privilegiados é evitar o exercício da cidadania<br />

através da construção da memória popular. Expor à percepção das populações esse<br />

tipo de símbolo, deve ser o objetivo das ações de preservação.<br />

40 Cf. Maria Elaine Kohlsdorf: A Apreensão da Forma da Cidade (1996). Brasília: Ed. UnB.

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