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O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo

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alma, e toman<strong>do</strong> brandamente a Maroca pelo braço, chamou-a a si com<br />

carinho.<br />

— Minha querida, lhe diz com voz meiga e suplicante, não sei que mal<br />

te fiz eu para assim me tratares tão <strong>de</strong>sabridamente, e me <strong>de</strong>spedaçares o<br />

coração com tanta cruelda<strong>de</strong>. Acaso não me queres mais?... se assim é, se<br />

és tão leviana e ban<strong>do</strong>leira, que foi bastante uma só noite, um só momento<br />

para riscar <strong>do</strong> teu coração o meu nome e o meu amor, eu te peço por<br />

pieda<strong>de</strong>, fala, não me encubras nada. Antes assim, <strong>do</strong> que viver iludi<strong>do</strong>.<br />

Quero ouvir da tua própria boca a sentença <strong>de</strong> minha con<strong>de</strong>nação. Será este<br />

o último favor que te peço, e te <strong>de</strong>ixarei livre para ir bem longe <strong>de</strong> teus olhos<br />

morrer <strong>de</strong> mágoa e <strong>de</strong>sesperação.<br />

No olhar e na voz <strong>do</strong> mancebo pintava-se uma <strong>do</strong>r tão sincera e tão<br />

profunda, que Maroca, apesar <strong>de</strong> ter um coração leviano e pouco sensível,<br />

não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> enternecer-se.<br />

— Não te enfa<strong>de</strong>s comigo, meu Reinal<strong>do</strong>, replicou com meiguice;<br />

per<strong>do</strong>a-me, se te agravei: eu sou uma estouvada, e já nem sei o que te<br />

disse. Realmente eu estava com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ficar por mais algum tempo;<br />

mas se isso te incomoda, não ficarei mais nem um momento, e estou pronta<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já para acompanhar-te.<br />

— Não, meu amor, não quero estorvar-te em teus divertimentos, diz<br />

Reinal<strong>do</strong> já mais tranqüiliza<strong>do</strong>; dança e folga, quanto for <strong>do</strong> teu agra<strong>do</strong>. Mas<br />

por pieda<strong>de</strong>, Maroca, mais reserva para com esse rapaz , que se diz meu<br />

amigo, e que tanto te persegue com suas estouvadas galantarias: ele parece<br />

que nos quer per<strong>de</strong>r a to<strong>do</strong>s três.<br />

— Não te dê isso cuida<strong>do</strong>, disse ela; e dan<strong>do</strong> um saltinho <strong>de</strong>u um beijo<br />

e uma bofetadinha na face <strong>de</strong> Reinal<strong>do</strong>, e leve como uma pena <strong>de</strong>sapareceu<br />

pelo interior da <strong>casa</strong> cantarolan<strong>do</strong> e tocan<strong>do</strong> castanhola nos <strong>de</strong><strong>do</strong>s.<br />

Esta cena não escapou ao matreiro Gonçalo, que estava na outra<br />

extremida<strong>de</strong> da sala ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong> <strong>de</strong> comparsas, estendi<strong>do</strong> em um banco a to<strong>do</strong><br />

o comprimento, toman<strong>do</strong> da assada, e vomitan<strong>do</strong> chalaças e palavradas <strong>de</strong><br />

arrepiar os cabelos. Os ouvintes o aplaudiam vivamente e com as mais<br />

gostosas e retumbantes gargalhadas.<br />

— Bravo! o bicho está feri<strong>do</strong>, disse lá consigo Gonçalo ven<strong>do</strong> o ar<br />

sombrio e misterioso <strong>de</strong> Reinal<strong>do</strong>, que se sentara pensativo no tamborete<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> por Maroca, e levantan<strong>do</strong>-se foi acen<strong>de</strong>r o cigarro na can<strong>de</strong>ia<br />

que estava junto ao seu amigo.<br />

— Que diabo tens tu hoje, meu Reinaldinho, disse ele <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />

acendi<strong>do</strong> o cigarro, que estás <strong>de</strong> cara tão fechada e trombu<strong>do</strong> como uma<br />

anta? Quem te ofen<strong>de</strong>u, amigo? Fala, que quero já <strong>de</strong>sagravar-te.<br />

— Gonçalo, nem sempre a gente está para brinca<strong>de</strong>iras. Se és <strong>de</strong>veras<br />

meu amigo, não estejas a provocar-me com esses gracejos <strong>de</strong> mau gosto;<br />

olha que há certas coisas, certos sentimentos, com que não se po<strong>de</strong> brincar<br />

sem perigo.<br />

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