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O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo

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— Inimá, brada ele, és um vil e um cobar<strong>de</strong> tu, que à testa <strong>de</strong> tantos<br />

guerreiros não te pejas <strong>de</strong> insultar a um estrangeiro só e sem outra <strong>de</strong>fesa<br />

mais que as suas armas, e <strong>de</strong>stilas <strong>de</strong> teus lábios o veneno da calúnia contra<br />

a filha <strong>de</strong> teu chefe, contra uma virgem a<strong>do</strong>rável digna <strong>do</strong> respeito e <strong>do</strong> culto<br />

<strong>do</strong>s homens. És um vil e um cobar<strong>de</strong> tu, que voltas tuas armas contra aquele<br />

que há poucos instantes salvou-te a vida po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> te <strong>de</strong>ixar morrer vilmente<br />

entre as garras <strong>de</strong> uma fera...<br />

Inimá espuman<strong>do</strong> <strong>de</strong> raiva não o <strong>de</strong>ixou prosseguir, lança-se <strong>de</strong> um<br />

salto sobre Itajiba e atira-lhe um furioso golpe <strong>de</strong> tacape. Itajiba <strong>de</strong>stro<br />

como a onça <strong>de</strong>svia-se rapidamente dan<strong>do</strong> um pulo para trás, e com a faca<br />

em uma das mãos e o tacape na outra está pronto e em atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> pelejar.<br />

Aquela caverna ia ser testemunha <strong>de</strong> uma luta tão feroz e sanguinolenta<br />

como essa que Itajiba já tivera a sustentar ao chegar entre os Chavantes;<br />

mas ah! <strong>de</strong>sta vez ele não quereria morrer, pois o prendia com os mais<br />

suaves laços ao mun<strong>do</strong> e à vida o amor da linda e inocente criatura que ali<br />

se achava testemunhan<strong>do</strong> todas aquelas cenas <strong>de</strong> horror. Entretanto o<br />

combate era <strong>do</strong>s mais arrisca<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>siguais; embora matasse Inimá, Itajiba<br />

teria <strong>de</strong> travar-se <strong>de</strong>pois com os cinco ou seis guerreiros da comitiva<br />

daquele. Mas o ânimo não lhe franqueia, encomenda-se com mais fervor que<br />

nunca à celestial protetora e resoluto aguarda novo ataque <strong>de</strong> Inimá.<br />

Guaraciaba, porém, lança-se no meio <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is conten<strong>do</strong>res, e voltan<strong>do</strong>-se<br />

para Inimá com ar altivo e senhoril exclama:<br />

— Detém-te, Inimá! que furor te cega? é com esse procedimento atroz e<br />

indigno que esperas merecer um dia ter a teu la<strong>do</strong>, em tua taba, a filha <strong>do</strong><br />

nobre e valente Oriçanga? é assim que preten<strong>de</strong>s tornar-te digno <strong>de</strong><br />

comandar a heróica e generosa nação <strong>do</strong>s Chavantes?... no furor insensato<br />

que te alucina, ousas lançar injúrias e baldões contra a filha <strong>de</strong> teu chefe, e<br />

atentar contra a vida daquele que a acompanha e protege por estas solidões!<br />

sabes acaso o motivo que nos obrigou a procurar este abrigo, on<strong>de</strong> nos<br />

vieste encontrar? quem te disse que fugimos oculta e traiçoeiramente da<br />

cabana <strong>de</strong> Oriçanga?... Mas não é para contigo, Inimá, que <strong>de</strong>vo justificarme<br />

<strong>de</strong>sta singular ocorrência. Guerreiros, continua ela dirigin<strong>do</strong>-se aos<br />

companheiros <strong>de</strong> Inimá, guiai-me a mim e a este estrangeiro às nossas<br />

tabas e conduzi-nos à presença <strong>de</strong> meu pai; a ele e a mais ninguém <strong>de</strong>vo<br />

dar satisfação <strong>do</strong> meu procedimento.<br />

Falan<strong>do</strong> assim o peito <strong>de</strong> Guaraciaba ofegava <strong>de</strong> indignação, seus olhos<br />

cintilavam como diamantes entre as sombras da caverna, e seu talhe e colo<br />

elevavam-se garbosos como o da ema, rainha das campinas, quan<strong>do</strong> irritada<br />

se ergue contra aquele que preten<strong>de</strong> roubar-lhe o ninho. Em seu orgulhoso<br />

porte, na altivez <strong>de</strong> sua nobre linguagem, revelava-se a <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

heróicos caciques, a verda<strong>de</strong>ira princesa das florestas. A estas nobres e<br />

severas palavras <strong>de</strong> Guaraciaba Inimá sentiu gelar-se-lhe no coração toda a<br />

sua cólera, e esteve a ponto <strong>de</strong> cair <strong>de</strong> rojo a seus pés suplican<strong>do</strong>-lhe<br />

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