O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo
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o vigor e girar-te nas veias um sangue cheio <strong>de</strong> vida e calor como nos mais<br />
belos dias <strong>de</strong> tua mocida<strong>de</strong>.<br />
Dizen<strong>do</strong> isto Itajiba apresenta ao cacique um copo <strong>de</strong> cristal cheio <strong>de</strong><br />
um purpúreo e generoso vinho.<br />
— É sem dúvida <strong>de</strong>licioso, exclamou Oriçanga <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter toma<strong>do</strong><br />
alguns sorvos; tal <strong>de</strong>ve ser a bebida que se serve aos heróis no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
espíritos nos festins e folgue<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ibaque! Não é um licor que me <strong>de</strong>ste a<br />
beber, Itajiba, é sangue novo e juvenil que me entornaste nas veias, e que<br />
me restitui o alento e vigor <strong>do</strong>s ver<strong>de</strong>s anos.<br />
E o velho cacique, com a imaginação aquecida pelos balsâmicos<br />
vapores daquele suave licor, entreven<strong>do</strong> no futuro mil venturas e glórias<br />
para Itajiba e para sua querida Guaraciaba, sentiu um suave languor<br />
apo<strong>de</strong>rar-se <strong>de</strong> seu corpo, e a<strong>do</strong>rmeceu entre sonhos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s sobre a sua<br />
enorme pele <strong>de</strong> onça.<br />
O guerreiro vitorioso, feliz amante <strong>de</strong> Guaraciaba, pendurou com suas<br />
mãos ao colo <strong>de</strong>la um lin<strong>do</strong> colar <strong>de</strong> ouro com uma cruz crivada <strong>de</strong><br />
diamantes, obra primorosamente trabalhada pelos afama<strong>do</strong>s ourives <strong>de</strong> Vila<br />
Boa. Itajiba, que a <strong>de</strong>speito <strong>do</strong>s <strong>de</strong>svarios e excessos <strong>de</strong> sua vida<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada conservava sempre singular aferro e veneração pela religião <strong>de</strong><br />
seus pais, queria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo ir familiarizan<strong>do</strong> com os objetos sagra<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
seu culto o espírito daquela a quem tanto amava, e a quem esperava em<br />
breve chamar ao grêmio <strong>do</strong> cristianismo. Guaraciaba não conhecia o símbolo<br />
santo <strong>de</strong> nossa religião, mas ven<strong>do</strong> que Itajiba ao entregar-lhe o tinha<br />
beija<strong>do</strong> respeitosamente, imitou-o com cândida ingenuida<strong>de</strong>.<br />
Deslumbra<strong>do</strong>s com os brilhantes sucessos da expedição <strong>de</strong> Itajiba, e<br />
embriaga<strong>do</strong>s com o esplen<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s festins que os celebravam, os Chavantes<br />
quase que se esqueciam <strong>de</strong> Inimá e <strong>de</strong> seus bravos companheiros, <strong>do</strong>s quais<br />
nem a mais leve notícia havia ainda chega<strong>do</strong> às tabas. A estrela <strong>do</strong> jovem e<br />
infeliz cacique empali<strong>de</strong>cia visivelmente diante <strong>do</strong> astro <strong>de</strong>slumbrante <strong>de</strong> seu<br />
afortuna<strong>do</strong> rival. O mun<strong>do</strong>, quer entre os selvagens, quer nas socieda<strong>de</strong>s<br />
civilizadas, é sempre assim. O feliz e po<strong>de</strong>roso é sempre queri<strong>do</strong>, festeja<strong>do</strong> e<br />
aplaudi<strong>do</strong>; mas aquele a quem a fortuna aban<strong>do</strong>na, esse <strong>de</strong>ve dar-se por<br />
contente quan<strong>do</strong> lhe testemunham um pouco <strong>de</strong> estéril e fria compaixão.<br />
Os triunfos <strong>de</strong> Itajiba foram celebra<strong>do</strong>s com gran<strong>de</strong>s e extraordinários<br />
festejos, que duraram por três dias. As ribas <strong>do</strong> Tocantins troaram<br />
longamente ao som <strong>de</strong> músicas selváticas, <strong>de</strong> rui<strong>do</strong>sas aclamações, <strong>de</strong><br />
danças guerreiras e <strong>de</strong> mil variadas folganças. Três sóis volveram-se rápida<br />
e alegremente em contínuos banquetes e regozijos.<br />
No último dia um estra<strong>do</strong> ou palanque to<strong>do</strong> enrama<strong>do</strong> <strong>de</strong> palmas <strong>de</strong><br />
coqueiro, e enfeita<strong>do</strong> <strong>de</strong> flores silvestres, tinha si<strong>do</strong> erigi<strong>do</strong> bem junto à<br />
margem a espelhar-se nas águas <strong>do</strong> rio; nos quatro ângulos tremulavam-lhe<br />
vistosos penachos <strong>de</strong> longas e ondulantes penas <strong>de</strong> ema tingidas <strong>de</strong> variadas<br />
e brilhantes cores. A um e outro la<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse estra<strong>do</strong> estavam estendidas duas<br />
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