18.04.2013 Views

O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo

O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo

O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

certeiros tiros <strong>de</strong> seu arco a arara azul ou encarnada, a alva garça, rainha<br />

<strong>do</strong>s lagos, o róseo colhereiro, cujas penas são tão estimadas, o tucano <strong>de</strong><br />

enorme bico, cujo peito rubro é procura<strong>do</strong> para enfeite da túnica das virgens,<br />

o jaó, o inhambu, a capoeira, cujas carnes são tão tenras e saborosas, e mil<br />

outras aves, <strong>de</strong> cujas lindas penas Guaraciaba com suas hábeis mãos<br />

compunha vistosos ornatos para as armas <strong>de</strong> seus guerreiros.<br />

Guaraciaba tanto tinha <strong>de</strong> meiga e singela, como <strong>de</strong> alegre e trêfega;<br />

ela se aprazia por vezes em perturbar com encanta<strong>do</strong>ras travessuras as<br />

graves e profundas cismas <strong>de</strong> seu amigo. Ora lesta e subtil como uma lebre<br />

sumia-se entre as moitas da floresta, sem que Itajiba o pressentisse; este<br />

dan<strong>do</strong> por sua falta, olha inquieto para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s , chama-a gritan<strong>do</strong><br />

seu nome uma e muitas vezes, aplica o ouvi<strong>do</strong> aos ecos; mas Guaraciaba<br />

não respon<strong>de</strong>, nem aparece em parte alguma. No auge da inquietação Itajiba<br />

perplexo não sabe nem o que pensar nem o que fazer, quan<strong>do</strong> sente por<br />

<strong>de</strong>trás uma ligeiras mãozinhas a lhe tapar os olhos.<br />

— Guaraciaba! lhe diz ele sorrin<strong>do</strong>, que susto me causaste! oh! não<br />

brinques mais por essa forma, que me fazes mal.<br />

— Per<strong>do</strong>a-me, Itajiba; quis distrair-te <strong>de</strong> teus cuida<strong>do</strong>s. Estavas tão<br />

triste e pensativo! parece que tens muita sauda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s teus e <strong>do</strong> teu pai!<br />

— Não; pura e formosa filha <strong>de</strong> Oriçanga, quan<strong>do</strong> estou junto a teu<br />

la<strong>do</strong>, que me importa o resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>?...<br />

Outras vezes com pena das pobres avezinhas, em que Itajiba fazia a<br />

mira, ou lhe espantava a caça, ou lhe fazia per<strong>de</strong>r o tiro tocan<strong>do</strong>-lhe o braço<br />

no momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedir a seta.<br />

Uma vez ambos atravessavam o rio em uma canoa, que Itajiba<br />

remava; estavam ainda longe da barranca oposta, quan<strong>do</strong> Guaraciaba súbito<br />

dá um grito, salta na água e <strong>de</strong>saparece. Itajiba páli<strong>do</strong> <strong>de</strong> susto pensa que<br />

algum monstro <strong>do</strong> rio, algum jacaré ou sucuri, a arrebatou; sem per<strong>de</strong>r um<br />

momento salta na água com a faca em punho, mergulha e surge <strong>de</strong> novo à<br />

tona da água, torna a mergulhar e a surgir, e nada vê senão a canoa<br />

rodan<strong>do</strong> rio abaixo sem governo.<br />

Em <strong>de</strong>sesperada ansieda<strong>de</strong> estava resolvi<strong>do</strong> a morrer naquelas águas<br />

antes <strong>do</strong> que sair <strong>de</strong>las sem Guaraciaba, quan<strong>do</strong> uma gargalhada vibrante e<br />

harmoniosa como o canto da siriema retroa no barranco vizinho. Era<br />

Guaraciaba, que <strong>de</strong> propósito se lançara ao rio, e <strong>de</strong> um mergulho ganhara a<br />

margem. Itajiba ganha <strong>de</strong> novo a canoa, e dirige-se para o barranco.<br />

— Ó querida e formosa Guaraciaba, diz ele ao chegar entre risonho e<br />

grave, por pieda<strong>de</strong>, não brinques mais assim. Olha que um dia, assim como<br />

hoje tomei um gracejo teu pela realida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>rei tomar a realida<strong>de</strong> por<br />

gracejo e faltar-te no perigo.<br />

Um dia a alegria e contentamento, que sempre reinavam nas partidas<br />

<strong>de</strong> caça <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is selváticos amantes, foram perturba<strong>do</strong>s por um triste, posto<br />

que bem simples inci<strong>de</strong>nte. Itajiba avistara pousadas sobre um galho <strong>de</strong> uma<br />

alta canjerana duas lindas e gran<strong>de</strong>s juritis <strong>de</strong> luzidia plumagem, que se<br />

47<br />

47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!