O ermitão de Muquen - a casa do espiritismo
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estendi<strong>do</strong>s e chorou <strong>de</strong> alegria apertan<strong>do</strong>-a contra o peito. Oriçanga or<strong>de</strong>nou<br />
que se retirasse a turba que se apinhava tumultuosa à porta <strong>de</strong> sua cabana,<br />
e ficou com Guaraciaba e Itajiba.<br />
— Querida filha, exclama ele, que mau espírito te <strong>de</strong>sencaminhou por<br />
essas selvas, e ia-te <strong>de</strong>sgarran<strong>do</strong> da sombra da taba paterna?... Ah! quantas<br />
angústias, quantos frios sustos não embebeste no coração <strong>de</strong> teu velho pai,<br />
<strong>de</strong>moran<strong>do</strong>-te assim até as horas mortas da noite entre os perigos da<br />
floresta tenebrosa!... Esse estrangeiro, que te acompanha, por que não te<br />
guiou ele mais ce<strong>do</strong> às nossas tabas? Oh! minha Guaraciaba, por Tupá eu te<br />
peço, dize-me, não seria ele acaso quem <strong>de</strong> propósito transviou-te<br />
procuran<strong>do</strong> roubar vil e traiçoeiramente a minha filha, único bem que o céu<br />
ainda me conserva, a Inimá a esposa que eu lhe tinha prometi<strong>do</strong>, e à tribo o<br />
último ramo <strong>de</strong> um antigo e ilustre tronco <strong>de</strong> heróis já quase extinto?... Ai<br />
<strong>de</strong>le se tal era seu louco intento! por enorme e cruel que seja não haverá<br />
castigo que seja excessivo para punir tão nefanda traição.<br />
— Tranqüiliza-te, meu pai, atalhou Guaraciaba, nem eu nem Itajiba<br />
cometemos crime algum, nem praticamos ação <strong>de</strong> que possamos nos<br />
envergonhar diante <strong>de</strong> ti. Eu vou contar-te fielmente a história <strong>do</strong>s<br />
acontecimentos que nos <strong>de</strong>tiveram na floresta até estas horas, e se ainda me<br />
acreditas, meu pai, verás que somos inocentes e nos per<strong>do</strong>arás.<br />
Então Guaraciaba, com a franqueza e ingenuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma alma pura,<br />
referiu-lhe por miú<strong>do</strong> o seu <strong>de</strong>scaminho, a tempesta<strong>de</strong> que os assaltou e os<br />
obrigou a procurarem refúgio <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma furna; pinta-lhe com calor e<br />
vivacida<strong>de</strong>, como quem se achava ainda sob a impressão <strong>do</strong>s<br />
acontecimentos, as terríveis cenas que ali tiveram lugar, e por fim em tom<br />
grave e triste acrescentou estas palavras:<br />
— Agora, pai queri<strong>do</strong>, forçoso é revelar-te um sentimento, que não <strong>de</strong>vo<br />
ocultar-te por mais tempo; ah! e quanto me custa fazê-lo, pois sei que vou<br />
magoar-te o coração.<br />
— Filha, se para repouso <strong>de</strong> teu coração é preciso que me faças essa<br />
revelação, fala, que estou pronto a ouvir-te, embora isso <strong>de</strong>va <strong>do</strong>er-me<br />
como uma seta envenenada.<br />
— Per<strong>do</strong>a-me, meu pai, se vou <strong>de</strong> encontro às tuas vistas a meu<br />
respeito; mas <strong>de</strong>vo hoje <strong>de</strong>clarar-te com franqueza, eu não <strong>de</strong>vo jamais ser<br />
esposa <strong>de</strong> Inimá.<br />
— Que dizes, filha? pois queres que eu falte a minhas sagradas<br />
promessas?<br />
— Mas, meu pai, se esse que <strong>de</strong>stinais para meu companheiro e que<br />
<strong>de</strong>ve substituir-te no coman<strong>do</strong> da tribo, tornar-se por suas ações indigno<br />
<strong>de</strong>ssa hora, se proce<strong>de</strong> como um vil e vai <strong>de</strong>slustrar teu nome e tua geração,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse momento estás <strong>de</strong>sliga<strong>do</strong> <strong>de</strong> tuas promessas. Des<strong>de</strong> o berço<br />
ouço falar que sou <strong>de</strong>stinada a Inimá, mas posto que não lhe tivesse<br />
repugnância, contu<strong>do</strong> nunca ao seu nome palpitou-me o coração, nem<br />
suspirou por essa união. Hoje, porém, tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u-se; sua presença me<br />
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