Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
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5 CONSIDERAÇÕES PARA O DEBATE<br />
123<br />
[...] o território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> coisas<br />
superpostas. O território tem que ser entendido como território usado, não o<br />
território em si. O território usado é o chão mais a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>. A i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> é o<br />
sentimento <strong>de</strong> pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fun<strong>da</strong>mento do<br />
trabalho, o lugar <strong>da</strong> resistência, <strong>da</strong>s trocas materiais e espirituais e do exercício <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>. (SANTOS apud SILVA, 1990)<br />
Como po<strong>de</strong>mos verificar nesta pesquisa, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>senvolvido na Zona <strong>da</strong> Mata <strong>de</strong><br />
<strong>Pernambuco</strong>, baseado na concentração <strong>de</strong> terra e no monocultivo <strong>da</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />
expropriou e explorou os trabalhadores e as trabalhadoras, bem como as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta<br />
região. Além disso, este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>gradou o meio ambiente e as pessoas que viviam e vivem<br />
nele, diminuindo a mata original a menos <strong>de</strong> 3%.<br />
O mo<strong>de</strong>lo do monocultivo <strong>da</strong> cana impôs sua territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre outras<br />
territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>s existentes ao longo do tempo, como as territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos povos indígenas<br />
que existiam nesta região; como a imposição aos povos negros trazidos para cá; e outras<br />
formas que se construíram às “margens” dos canaviais, como por exemplo, os pescadores e as<br />
pescadoras artesanais, expulsos <strong>da</strong>s terras, e atualmente passam a ser expulsos do mar, dos<br />
manguezais, dos seus territórios <strong>da</strong> pesca artesanal. Esta tensão territorial ou os conflitos entre<br />
o mo<strong>de</strong>lo do monocultivo <strong>da</strong> cana e as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s camponesas estão espalha<strong>da</strong>s por to<strong>da</strong><br />
Zona <strong>da</strong> Mata pernambucana. Esse é um elemento, a nosso ver e como sugestão, <strong>de</strong>ve ser<br />
melhor estu<strong>da</strong>do e compreendido pelas ciências sociais, e em particular pela ciência<br />
geográfica. Pois o “mar” <strong>de</strong> cana <strong>de</strong>sta região não é um território homogêneo. Esta pesquisa<br />
trouxe um exemplo <strong>de</strong> tensão territorial entre o capital sucroalcooleiro, que neste caso se<br />
corporifica na usina Trapiche e uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pescadores artesanais que viviam nas<br />
ilhas do estuário do Rio Sirinhaém, no município <strong>de</strong> mesmo nome. Outros exemplos <strong>de</strong>vem<br />
ser estu<strong>da</strong>dos em suas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
O estuário, local em que ocorreram as tensões territoriais, era/é um território <strong>da</strong> pesca<br />
artesanal <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que ali vivia com uma territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira própria. Foi essa<br />
territorialização <strong>da</strong> pesca artesanal, a ocupação <strong>de</strong> forma tradicional nas 17 ilhas do estuário<br />
do rio Sirinhaém que possibilitou a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> construir sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> com o lugar,<br />
construindo assim seu território. Território que se construiu a partir e com os conhecimentos<br />
construídos tradicionalmente e socialmente com o ambiente em que eram exerci<strong>da</strong>s suas<br />
práticas e a arte <strong>da</strong> pesca e <strong>da</strong> agricultura. As ilhas e o estuário a partir <strong>de</strong> uma territorialização<br />
específica se constituíram / foram constituídos em território <strong>de</strong> abrigo e <strong>de</strong> fartura que foi