Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
53<br />
território é uma condição <strong>da</strong> existência humana, que é exatamente a relação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> com<br />
a natureza”, sendo o território “natureza mais cultura através do po<strong>de</strong>r, através <strong>da</strong> política”.<br />
Sobre a tría<strong>de</strong> território, territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong> e territorialização, Porto-Gonçalves diz que:<br />
Não tem território sem o processo <strong>de</strong> territorialização. Todo território é conformado<br />
por um processo <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado grupo social <strong>da</strong>quela área, <strong>da</strong>quele<br />
espaço. Ao mesmo tempo, todo grupo social quando ocupa uma área, ocupa com um<br />
<strong>de</strong>terminado sentido, tem uma territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>. É sempre bom ver a tría<strong>de</strong> território,<br />
territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong> e territorialização. (Informação Verbal) 27 .<br />
As 53 famílias <strong>de</strong> pescadores e pescadoras artesanais viviam distribuí<strong>da</strong>s nas 17 ilhas<br />
apropriando-se a seu modo, <strong>de</strong>ste espaço, <strong>de</strong>ste lugar, do seu jeito <strong>de</strong> ser, ou seja, expressava<br />
sua territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> ter sido a pesca a principal ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, essa, se conjugava com a<br />
agricultura <strong>de</strong> subsistência, sobretudo, quando a maré “não <strong>da</strong>va”. Seu Ivanildo Luiz dos<br />
Anjos, que morava na ilha do Cais, e que foi expulso pela usina Trapiche 28 , fala <strong>da</strong> plantação<br />
<strong>de</strong> “macaxeirazinha, uma roça”, que tinha nas ilhas. Fala também que “criava galinha”, e<br />
comprovando a conjugação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, pesca e agricultura, ele fala que “quando a maré<br />
arrinava, o caranguejo, o peixe, aí tinha dois, três frangos, vendia, aí tinha o dinheiro pra<br />
fazer minha feirinha”. O termo “arrinava”, na fala <strong>de</strong> seu Ivanildo, significa dizer que, no<br />
período em que a maré não provia do pescado para os pescadores. É <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong><br />
muitos, o dito popular: “um dia é do mar e outro do pescador”. Isto expressa, ain<strong>da</strong>, a<br />
pluriativi<strong>da</strong><strong>de</strong> típica <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s camponesas.<br />
Os ilhéus também beneficiavam a mandioca nas ilhas. Haviam casas <strong>de</strong> farinha, que<br />
serviam para a fabricação <strong>de</strong> farinha e beiju do proprietário, <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> vizinhança. O<br />
beneficiamento <strong>da</strong> mandioca era feito pelas pessoas mais próximas <strong>da</strong>s ilhas on<strong>de</strong> estavam<br />
instalados os equipamentos <strong>de</strong> beneficiamento. A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> fabricação <strong>da</strong> farinha era feita<br />
por muita gente, como lembra Dona Antônia Amara <strong>de</strong> Santana, 70 anos, e que viveu 52 anos,<br />
esposa <strong>de</strong> seu Luís <strong>José</strong> <strong>de</strong> Santana e que morava também na ilha do Cais. “O pessoal ia fazer<br />
beiju,… arrancava macaxeira. Luís vinha fazia farinha,… quem plantava por perto ia tudo<br />
fazer farinha na minha casa <strong>de</strong> farinha”. Apesar <strong>de</strong> Dona Antônia se referir como “minha”, a<br />
casa <strong>de</strong> farinha era <strong>de</strong> uso comum a todos e to<strong>da</strong>s que precisassem beneficiar a mandioca para<br />
fazer farinha, outra característica camponesa.<br />
O pescado, além <strong>de</strong> servir <strong>de</strong> alimento para as famílias, era comercializado na feira <strong>de</strong><br />
27 Carlos Walter Porto-Gonçalves. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 19 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2010<br />
28 Veremos o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>s-territorialização no capítulo 3.