Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
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“A minha vonta<strong>de</strong> não era ter saído não”. E completa, explicando porque queria voltar para<br />
as ilhas, lembrando que sua família to<strong>da</strong> nasceu e se criou no estuário:<br />
Ah, eu voltava, voltava. Que, veja só, a pessoa nascer num lugar, se criar, mim casei,<br />
meus filhos nasceu tudinho lá, minha primeira filha agora em Santana inteira 50<br />
anos. Já tenho filho com 47 anos. Já tenho bisneto com 17 anos… tudo lá. Os meus<br />
filhos quem pegou tudinho foi a minha mãe e a minha madrinha. (Informação<br />
verbal) 55.<br />
Seu João, que morava na ilha do Cais e que foi expulso, comenta <strong>da</strong> falta que sente <strong>da</strong>s<br />
ilhas e <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> voltar para lá. Fala ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>struição do viveiro e <strong>da</strong> plantação, o<br />
sentimento que ficou com a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> tudo.<br />
Morar ali <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro é bom <strong>de</strong>mais, ali <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quelas ilhas. Todo mundo sentiu<br />
falta. Voltar a pescar nas ilhas, fazer suas casinhas e plantar. Eu vivia ali, eu<br />
plantava, eu tinha minha lavoura ali <strong>de</strong>ntro. Tinha um viveirinho <strong>de</strong> peixe que eu fiz.<br />
Achava bonito quando era <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, eu ia olhar a saúna, tava tudo pulando, pulando,<br />
pulando, <strong>de</strong>ntro do viveiro… Acabou-se tudo, <strong>de</strong>struíram tudo o que foi meu. Eu<br />
fiquei <strong>de</strong> graça! (Informação verbal) 56 .<br />
Ao falar <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> ilha em que morava, seu João lembra com muita<br />
sau<strong>da</strong><strong>de</strong> e com muita emoção, o que marca muito ele, que era to<strong>da</strong> a tar<strong>de</strong> “olhar a saúna”,<br />
que fica, em viveiros construídos por ele, “pulando, pulando, pulando”. Ele se emociona e<br />
sente sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s com o pular <strong>da</strong>s saunas, sentimentos que só tem quem vivencia o território,<br />
quem constrói sua territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>, sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> com o lugar.<br />
Mesmo morando em Santo Amaro, distrito <strong>de</strong> Sirinhaém, seu Mija, como também é<br />
conhecido, fala que todos os dias vai para o porto, em Trapiche, para olhar as ilhas. “Quase<br />
todo dia eu tô em Trapiche, vou lá pro porto, tem que olhar, olhar o movimento como tá, eu<br />
tenho que tá lá no porto olhando… sinto uma sau<strong>da</strong><strong>de</strong> medonha”.<br />
Ele completa expressando seu sentimento dizendo que “o maior prazer é <strong>de</strong> voltar pra<br />
aquelas ilhas”, explicando esse sentimento, “porque lá é um lugar bom”. Ain<strong>da</strong> que more<br />
fora <strong>da</strong>s ilhas seu João não per<strong>de</strong>u a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> com o seu território, pois esta i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />
construí<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s relações dos sujeitos com o lugar e <strong>de</strong>stes com outros sujeitos<br />
(SAQUET, 2007). As ilhas, mesmo que <strong>de</strong>sertas, mas não <strong>de</strong>serta<strong>da</strong>s as ilhas pululam <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>,<br />
a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus moradores expulsos.<br />
55 Dijanete Cristina dos Santos. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 26 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007. Fonte:Arquivo CPT.<br />
56 João. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.