19.04.2013 Views

Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco

Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco

Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

84<br />

“A minha vonta<strong>de</strong> não era ter saído não”. E completa, explicando porque queria voltar para<br />

as ilhas, lembrando que sua família to<strong>da</strong> nasceu e se criou no estuário:<br />

Ah, eu voltava, voltava. Que, veja só, a pessoa nascer num lugar, se criar, mim casei,<br />

meus filhos nasceu tudinho lá, minha primeira filha agora em Santana inteira 50<br />

anos. Já tenho filho com 47 anos. Já tenho bisneto com 17 anos… tudo lá. Os meus<br />

filhos quem pegou tudinho foi a minha mãe e a minha madrinha. (Informação<br />

verbal) 55.<br />

Seu João, que morava na ilha do Cais e que foi expulso, comenta <strong>da</strong> falta que sente <strong>da</strong>s<br />

ilhas e <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> voltar para lá. Fala ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>struição do viveiro e <strong>da</strong> plantação, o<br />

sentimento que ficou com a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> tudo.<br />

Morar ali <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro é bom <strong>de</strong>mais, ali <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quelas ilhas. Todo mundo sentiu<br />

falta. Voltar a pescar nas ilhas, fazer suas casinhas e plantar. Eu vivia ali, eu<br />

plantava, eu tinha minha lavoura ali <strong>de</strong>ntro. Tinha um viveirinho <strong>de</strong> peixe que eu fiz.<br />

Achava bonito quando era <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, eu ia olhar a saúna, tava tudo pulando, pulando,<br />

pulando, <strong>de</strong>ntro do viveiro… Acabou-se tudo, <strong>de</strong>struíram tudo o que foi meu. Eu<br />

fiquei <strong>de</strong> graça! (Informação verbal) 56 .<br />

Ao falar <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> ilha em que morava, seu João lembra com muita<br />

sau<strong>da</strong><strong>de</strong> e com muita emoção, o que marca muito ele, que era to<strong>da</strong> a tar<strong>de</strong> “olhar a saúna”,<br />

que fica, em viveiros construídos por ele, “pulando, pulando, pulando”. Ele se emociona e<br />

sente sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s com o pular <strong>da</strong>s saunas, sentimentos que só tem quem vivencia o território,<br />

quem constrói sua territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>, sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> com o lugar.<br />

Mesmo morando em Santo Amaro, distrito <strong>de</strong> Sirinhaém, seu Mija, como também é<br />

conhecido, fala que todos os dias vai para o porto, em Trapiche, para olhar as ilhas. “Quase<br />

todo dia eu tô em Trapiche, vou lá pro porto, tem que olhar, olhar o movimento como tá, eu<br />

tenho que tá lá no porto olhando… sinto uma sau<strong>da</strong><strong>de</strong> medonha”.<br />

Ele completa expressando seu sentimento dizendo que “o maior prazer é <strong>de</strong> voltar pra<br />

aquelas ilhas”, explicando esse sentimento, “porque lá é um lugar bom”. Ain<strong>da</strong> que more<br />

fora <strong>da</strong>s ilhas seu João não per<strong>de</strong>u a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> com o seu território, pois esta i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />

construí<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s relações dos sujeitos com o lugar e <strong>de</strong>stes com outros sujeitos<br />

(SAQUET, 2007). As ilhas, mesmo que <strong>de</strong>sertas, mas não <strong>de</strong>serta<strong>da</strong>s as ilhas pululam <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus moradores expulsos.<br />

55 Dijanete Cristina dos Santos. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 26 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007. Fonte:Arquivo CPT.<br />

56 João. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!