Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
também, que as <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong>s dos sítios era uma outra forma <strong>de</strong> expulsar os ilhéus.<br />
A gente tava lá e aí começou que o homem queria as ilhas, o homem <strong>da</strong>í <strong>da</strong> usina,…<br />
Tiraram <strong>de</strong>rrubando as coisas, <strong>de</strong>rrubando as ilhas e plantando ingá,… Chegou até<br />
polícia, … eu não aguentei ver não, caí. Eu tava no rio lavando roupa, quando eu vi<br />
<strong>de</strong> lá, eu vi quando eu vi foi o baque, nem a roupa eu estendi... É brinca<strong>de</strong>ira você<br />
morar numa ilha e não ter na<strong>da</strong> e ver tudo assim carregado? (Informação verbal) 52<br />
Mais uma vez, como na queima <strong>da</strong> casa <strong>de</strong> Dona Zeza, esperou-se ela sair <strong>de</strong> casa para<br />
fazer a <strong>de</strong>struição. Dona Antônia estava lavando roupa quando escutou a <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> do seu<br />
sítio, na ilha. Ela afirma que foi a usina quem fez a <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ilhas. E completa,<br />
chorando, dizendo, “eu saí à <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira, saí à estoca<strong>da</strong> mesmo, não vou mentir, saí<br />
empurra<strong>da</strong>”.<br />
Saiu a “estoca<strong>da</strong>” e saiu “empurra<strong>da</strong>” se referindo a sua expulsão, pois, não teve<br />
como escolher ficar, <strong>de</strong>vido a violência <strong>de</strong>senfrea<strong>da</strong> pratica<strong>da</strong>, segundo os ilhéus, pela usina<br />
Trapiche.<br />
Dona Dijanete Cristina dos Santos, que também foi expulsa, apesar <strong>de</strong> ter nascido e se<br />
criado na ilha Constantino, e que segundo ela, sua mãe vivia lá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1914, se referindo a<br />
uma outra forma <strong>de</strong> expulsar os ilhéus, <strong>de</strong>sta vez com intimi<strong>da</strong>ções. Ela lembra que “chegava<br />
carro lá em casa tar<strong>de</strong> <strong>da</strong> noite… chegava com a luz apaga<strong>da</strong>, fazia a volta e saia”, se<br />
referindo, a um tipo <strong>de</strong> ameaça por parte <strong>da</strong> usina. Dona Dijenete lembra que os filhos tinham<br />
medo e avisavam a ela dizendo que, “mãe a senhora está arriscando sua vi<strong>da</strong>”. To<strong>da</strong>s essas<br />
violências foram publiciza<strong>da</strong>s à socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, fato esse que fez com que a usina mu<strong>da</strong>sse sua<br />
estratégia, propondo aos ilhéus um “acordo”, mantendo o mesmo objetivo, que era <strong>de</strong><br />
expulsar as famílias <strong>da</strong>s ilhas, na lei e na marra.<br />
3.3.2 Os “acordos” <strong>da</strong> guilhotina com o pescoço<br />
A partir 1998 a Usina Trapiche inicia, pela segun<strong>da</strong> vez, a expulsão dos ilhéus <strong>da</strong>s<br />
ilhas do estuário do Rio Sirinhaém. Além <strong>da</strong> <strong>de</strong>struição <strong>da</strong>s casas, dos sítios, <strong>da</strong>s plantações,<br />
com o uso <strong>da</strong> violência, uma outra forma encontra<strong>da</strong> <strong>de</strong> expulsar os moradores e as moradoras<br />
foi um “acordo” que a usina propunha aos ilhéus, certamente por causa <strong>da</strong>s <strong>de</strong>núncias feitas<br />
<strong>da</strong>s violências cometi<strong>da</strong>s pela usina. A usina encontrou outros mecanismos para garantir as<br />
expulsões. A Trapiche oferecia uma casa, e em alguma situação, uma parte em dinheiro, para<br />
52 Antônia Maria <strong>de</strong> Santana. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.<br />
80