Junior, José Placido da Silva. - Universidade Federal de Pernambuco
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Determinado pela organização societal, no qual, a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> historicamente<br />
constituí<strong>da</strong> também tem centrali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como permanências (sedimentos materiais<br />
cognitivos) que se manifestam nos lugares. O território é produto histórico e<br />
condição <strong>de</strong> processos sociais, com formas e territoriali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, interações local,<br />
articula<strong>da</strong>, mas com capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autogestão, valorizando a natureza. A aju<strong>da</strong><br />
mútua, o pequeno comércio, a autonomia, o trabalho manual do agricultor, os<br />
saberes populares, a cooperação, os marginalizados, o patrimônio culturali<strong>de</strong>ntitário,<br />
a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, […] (SAQUET, 2007. p.117).<br />
Na fala do senhor Luiz, um dos ilhéus que foi expulso do estuário do Rio Sirinhaém,<br />
fica bastante explícita essa noção <strong>de</strong> apropriação do território, seja pelo fato <strong>de</strong> produzir os<br />
meios <strong>de</strong> subsistência <strong>da</strong> população local, seja pela i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> com o lugar:<br />
Morava 48 anos, vivia <strong>da</strong> pescaria. Plantava, feijão, batata, milho , mandioca, ali<br />
possuía uma casa <strong>de</strong> farinha on<strong>de</strong> construía a farinha, o beiju, o manuê, tudo aquilo<br />
que aparecia, prumo<strong>de</strong> eu mim manter, agora tanto pra mim como para os outros.<br />
Hoje eu vivia sempre <strong>da</strong> pesca, aquilo ali era para me manter e vendia o resto para<br />
ter a minha segurança. A minha situação financeira. (Informação verbal 34 )<br />
Apesar <strong>de</strong> que o senhor Luiz “vivia sempre <strong>da</strong> pesca”, ele <strong>de</strong>sempenhava a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> agricultura plantando “feijão, batata, milho, mandioca ...”, sendo essa conjugação, para a<br />
manutenção <strong>da</strong> família, quando para “situação financeira”, ou seja, pra provir <strong>da</strong>s outras<br />
coisas que o mangue não os proviam diretamente.<br />
Dona Antônia, esposa do senhor Luiz, falando <strong>da</strong> diferença <strong>de</strong> viver fora e <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s<br />
ilhas, ela diz que, “lá eu armava ratoeira, eu botava covo, tinha meu viveiro <strong>de</strong> botar<br />
guaiamum, fazia minha farinha, pescava, era uma vi<strong>da</strong> muito boa”. A vi<strong>da</strong> boa, aqui, está<br />
relaciona<strong>da</strong> as práticas <strong>da</strong> pesca e <strong>da</strong> agricultura <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s ilhas, que<br />
propiciava uma fartura e uma “vi<strong>da</strong> muito boa”, on<strong>de</strong> ali era possível sustentar a família.<br />
fartura.<br />
O mesmo nos fala, Maria <strong>da</strong>s Dores, <strong>da</strong>s ilhas como um lugar bom, um lugar <strong>de</strong><br />
A gente aqui conviveu com os nossos filhos, trabalhando no mangue, que a gente<br />
pescava <strong>de</strong> siri, botava covo, pescava muito mesmo… A gente planta macaxeira,<br />
milho, <strong>de</strong> tudo planta aqui … isso aqui é ótimo. A gente não tem outro lugar melhor<br />
que esse não, esse é um lugar <strong>de</strong> fartura mesmo (Informação verbal) 35 .<br />
Maria <strong>da</strong>s Dores, é mais enfática, quando fala que “não tem outro lugar melhor que<br />
esse não,...”. Em outro <strong>de</strong>poimento ela fala que “aqui tem tudo <strong>de</strong> bom”. Maria <strong>de</strong> Nazareth,<br />
34 Luiz <strong>José</strong> <strong>de</strong> Santana. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.<br />
35 Maria <strong>da</strong>s Dores. Entrevista realiza<strong>da</strong> em 26 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007. Fonte: Arquivo CPT.