Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra
Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra
Séneca. Medeia - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ana Alexandra Alves <strong>de</strong> Sousa<br />
montada no carro alado. Não esqueçamos que do seu<br />
futuro nada a peça nos diz, pois isso seria fazê-la regressar<br />
ao plano do humano, <strong>de</strong> que se afasta.<br />
Há uma tensão crescente na tragédia, que culmina<br />
numa aguda sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo, seja a peça uma<br />
dramatização dos efeitos nefastos da paixão erótica ou<br />
uma dramatização da impotência do homem que tenta<br />
dominar as forças da natureza, neste caso <strong>de</strong>sbravando<br />
mares ignotos na nau Argo. As constantes comparações<br />
<strong>de</strong> <strong>Me<strong>de</strong>ia</strong> com a Natureza, que logo no início se autocaracteriza<br />
como “mar e terra / e ferro e fogo e <strong>de</strong>uses<br />
e relâmpagos!” (166-167), permitem-nos interpretar o<br />
<strong>de</strong>sfecho da peça como um castigo da própria natureza,<br />
que é <strong>Me<strong>de</strong>ia</strong>, sobre o homem que ousa <strong>de</strong>safiá-la. Plena<br />
dominadora das forças da natureza, até no <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro<br />
momento <strong>de</strong> dúvida, recorre ao símile marítimo para<br />
retratar a sua in<strong>de</strong>cisão: “assim como os céleres ventos<br />
travam guerras violentas, / e ondas em conflito levam<br />
o mar em direcções contrárias, / e as águas fervilham,<br />
in<strong>de</strong>cisas, assim o meu coração vacila” (940-943). Ao<br />
homem que tenta caminhos interditos resta-lhe o vazio<br />
e a solidão <strong>de</strong>samparada: “Pelas profun<strong>de</strong>zas do espaço,<br />
no mais alto firmamento, / vai testemunhar, por on<strong>de</strong><br />
passares, que não existem <strong>de</strong>uses”.<br />
<strong>Me<strong>de</strong>ia</strong> na Posterida<strong>de</strong><br />
Na época mo<strong>de</strong>rna, o drama póstumo <strong>de</strong> La<br />
Péruse (m. 1556), discípulo <strong>de</strong> Ronsard, inspira-se<br />
sobretudo em <strong>Séneca</strong>. Corneille (1635) aproveita<br />
32