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94 Correspondei. cia.<br />

plendor que nasce das muitas luzes e riqueza. A qualidade<br />

necessaria para ser homem de Estado naõ esta pois na sua<br />

nobreza, mas nas suas virtudes e talentos: a experiencia<br />

ilos serviços, e a sua lealdade ao Principe e a Patria saõ<br />

as qualidades distinctas que se requerem para bem se preencherem<br />

as altas dignidades do Estado, e naõ simples títulos<br />

de nobreza, ou decora^oens exteriores, que quando<br />

muito só servem para fazer mais aparatoza huma festa de<br />

Corte.<br />

Quando a natureza forma o homem, logo o dota de huma<br />

nobreza pessoal, e de huma certa elevaçaõ d'alma, que nós<br />

de ordinário chamamos—Amor proprio.—Este amor proprio<br />

he o que nos excita os dezejos das honras, que nos marca<br />

o caminho da gloria, e o que faz com que hum individuo,<br />

muitas vezes na apparencia bem insignificante emprehenda<br />

as couzas mais extraordinarias á bem do Principe e da Patria.<br />

He em consequência deste mesmo amor proprio que<br />

nós, quando temos as verdadeiras virtudes pessoaes, nos<br />

julgamos dignos de chegar athe aos pés do throno, e sacrificamos<br />

entaõ voluntariamente a nossa tranquillidadc, c até<br />

a nossa vida, na defeza do Soberano na esperança dc huma<br />

recompensa proporcional aos nossos merecimentos. Se os<br />

fataes Concelhos do Marquez de Penalva se dirigem a extinguir<br />

todas as esperanças desta natureza, os serviços de<br />

milhares de cidadaons, úteis ao Estado vaõ converter-se em<br />

rigorozo tributo de huma mizeravel escravidaõ, que naõ tem<br />

direitos á recompensas nem prémios. A vista destas consequências<br />

horriveis qual seria o homem de bem e qual o Portuguez<br />

que naõ tremesse? Athe naõ faltariaõ pais que<br />

tivessem talvez a horroroza lembrança de suffocarem no<br />

berço á seo< filhos, para os livrar de serem hum dia os escravos<br />

da ambiçaõ desenfreada de hum punhado dc Nobres,<br />

que formaõ a Corte do Monarca! Esta proposição, que<br />

abrange em si huma grande animo/idade contra essa classe<br />

do povo a mais qualificada pelas suas virtudes, tende taobem<br />

a levantar entre o Soberano e o Povo huma barreira desastroza;<br />

e debaixo da aparência de hum zelo hypocrita pertende<br />

crear no Coraçaõ do Principe huma profunda desconfiança<br />

da segunda classe da nobreza, a fim de estabelecer a<br />

juneçaõ inseparavel dos Grandes e do Clero, conio únicos<br />

apoios da existencia do Soberano. Se eu naõ tivesse notado<br />

que as intençoens do Marquez de Penalva eraõ filhas de<br />

hum interesse mui particular e rasteiro, deveria ser considerado<br />

como hum vassallo traidor ao seo Principe pela proposição<br />

escandaloza que ouzou sustentar contra a honra era<br />

geral de toda huma naçaõ fiel e amiga do seo Monarca:

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