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Litera tu ra Portugueza. 65<br />
Praza aos Ceos que minha vos chegue ao Throno, e<br />
" A solidão, que vós tendes fabricado no fundo do vosso coraçaõ, vos<br />
dispensa de procurar outra : os claustros naõ saõ estimáveis, se naõ em<br />
quanto nellesse conserva o espirito recolhido: naõ saõ os muros d'hum<br />
Mosteiro, que fazem o seu merecimento.<br />
" A caza da Trapa, que hoje temos em Italia, e para onde vos quereis<br />
retirar naõ hé menos regular que a de França ; mas para que hé deixar o<br />
mundo quando se edifica ? sempre será pei verso, se todas as pessoas honestas<br />
o abandonarem.<br />
Alem d'issp, a ordem de Malta, em que viveis, naõ hé ella hum<br />
Estado Religiozo, e capaz de vos santificar, se vos observardez os seus<br />
deveres ?<br />
" Naõ gosto de ver carregar de obrigaçoens ; o Evangelho hé a verdadeiro<br />
Regra do Christaõ ; e he preciso huma vocação bem experimentada<br />
para se hir enterrar n'huma solidão.<br />
" Hé hum caminho extraordinário aquelle, q:>e nos tira da vida commum<br />
; e quando se abraça a vida cenobitica, devemos temer naõ seja<br />
isto huma illusaõ. Eu honro perfeitamente os solitários, que seguem o<br />
Instituto da Cartuxa, e da Trapa; mas he precizo que hajaõ poucos.<br />
AU in de ser difficil achar hum grande numero de Religiozos ferventes,<br />
de\ e se temer empobrecer o Estado, fazendo-se inútil á Socie lade. Nos<br />
naõ nascemos Frades, e nascemos cidadaõs : o mundo necessita sugeitos,<br />
que concorra õ á sua harmonia, e que façaõ florecer os Imperes pelos<br />
seus talentos, trabalhos, e costumes.<br />
4< Estas profundas solidoens, aonde exteriormente se naõ dá sinal algum<br />
de vida, saõ exactamente sepulcros.<br />
" S. Antaõ, que viveo tanto tempo nos dezertos, naõ tinha feito voto<br />
de nelies habitar. Deixou o seu retiro, e veio ao meio de Alexandria para<br />
combater o Arianismo, e para dissipar os Arianos ; porque estava convencido,<br />
que se deve servirá Religião, eao Estado por a. ç >ens, ainda<br />
mais que por oraçoens. Assim, depois de ter cumprido a sua missaõ,<br />
tornou para a sua ermida, desgostoso de tornara ievar para ella o pouco<br />
sangue, que a velhice deixava nas suas veias, e de naõ ter x>íTrírio o martjrrio.<br />
" Quando estiverdez na Trapa, he verdade que haveis de orar a Deus<br />
de dia, e de noite; mas naõ podeis vós elevar o vosso coraç :Õ para elle<br />
ainda que no meio do mundo ? Naõ saõ as supplicas vocai s, quem faz<br />
o mérito da oraçaÕ. O Soberano legislador rios adverte, que naõ hé<br />
a multiplicidade das palavras, quem nos obtém os sorcorros doCéo.<br />
" Muitos E-critores respeitáveis naõ fazem difficuldade em dizer, que<br />
a reíaxaçaõ dos Mosteiros he procedida em parte de se terem n'ei!es multiplicado<br />
os ofíicios em demasia. Pensavaõ com razaõ, que a attenç