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Litera tu ra Portugueza.<br />
649<br />
vida d'hum Monge,* muito menos pode ser agradavel<br />
a hum Estado, que naõ deve consentir estragadas tantas<br />
*" As riquezas Monastieas saõ aos olhos de todos hum dos maiores<br />
desvios da virtude, e dos seus deveres; ellas naõ tem a origem no primeiro<br />
Monaehato, sua acquiziçaõ hé mui posterior, e com ella veio ao<br />
claustro o sumpto, o luxo, e todo o genero de grandeza própria do homem<br />
rico, do homem do século ; daqui nasceo, e nascerá sempre a relaxaçaõ,<br />
qua fraco, ou nenhum remedio pode ter em quando existir a opulência<br />
Monastica: o homem regalado asombra da devoção, que nunca encarou<br />
a mizeria, o traoalho, hade infallivelmente ser accompannado<br />
d'aquelles grandes perigos inherentes a ociozidade, e abundância. Quanto<br />
he alheio do homem Monje o incentivo de tantos males 1 Aquelle, que se<br />
destina a este modo de vida, deve evitar as menores occazioens, que<br />
o possaõ transtornar, e por nas bordas do precipio. As roeditaçoen»<br />
solitarias, a oraçaõ, huma consciência mais delicada, e mais timorata,<br />
huma rígida abstinência, a separaçaõ «le todos os negocios seculares,<br />
e de toda a Sociedade taziaõ a baze do instituto Monacal na sua primeira<br />
existencia; os primeiros Monges evitavaõ cuidadosamente alé aí<br />
menores occazioens de peccar, fugiaõ a toda a sensaçaõ agradavel,<br />
privavaõ se das commodidades as mais innocentes, procurava© o merecimento<br />
cm viver na tristeza, e no despojo de todas as coizas ganhando<br />
com o suor do seu rosto o diário sustento ; com esta energia d'alma<br />
s'elevavaõ sublime, e heroicamente a contemplaçaõ da Divindade.<br />
Em quanto durou esta vida houve virtude Monastica com grande<br />
lustre, e honra da Religião de Christo, e sem pêzo aos Estados ; mudada<br />
ella mudou taõbem a virtude em vicio, fez torpeçar a Religião, e sérvio<br />
depezo á Sociedade.<br />
S'algum (apezar d'eslas reflexoens) ainda naõ estiver decidido, que as<br />
riquezas foraõ, e saõ ainda a ruína do Monacato, eu lhe continuarei<br />
a citar o mesmo Fleury.<br />
Ouçaõ os sábios do meu tempo, ouça o mundo inteiro os pensamentos<br />
d'bum escritor sem suspeita, e de bem conhecida piedade.<br />
Fallando da ordem de Cluni estabelecida peios fins do Século 9, e principies<br />
do seguinte, ja mencionada n'csta Memoria, diz d'esta maneira no<br />
disc. c. 3. No. 22., os nossos Monges de Clugni eraõ pobres em particular,<br />
inas ricos em coinuiuin : tinhaõ como todos os de mais Monges, havia<br />
" muitos séculos, naõ somente terras, e gados, mas vassallos e servos.<br />
O pretexto do bem da Communidade hé huma das mais sutis illuzoens<br />
do amor proprio. Se S. Odou, e S. Mayeul recuzassem liuma parte dos<br />
grandes bensque se lhes oflereeiaõ, a Igreja se edificaria mais, e os<br />
seus successores conservariaõ por mais largo tempo a regulai idade. S.<br />
Nil dc Calabria hé de todos os d'aquelle tempo o que me parece comprehendeo<br />
milhor a importância da pobreza Monastica. Com effeito<br />
as grandes rendas obrigaõ a grandes cuidados e originaõ contendas com<br />
os vizinhos que obrigaõ a solicitar os Juizes, e a procuraõ a protecção<br />
dos poderozos muitos vezes até uzar da condescendência, e lizonja,<br />
os superiores e Procuradores, que trabaihaõ deba xo das suas<br />
ordens estaõ mais carregados de negocios que os simples páis de familia :<br />
deve se dár parte á communidade dos negocios, ao menos dos ma>s importantes;<br />
e assim muitos tornaõ acair nos embaraços do século, aos<br />
quais tinhaõ renunciado, principalmente os superiores que devem seios<br />
mais interiores e espirituaes de todos."<br />
" Por outra parte, a muita riqueza traz com sigo atentaçaõ de grandes<br />
despezas. He necessário fazer huma magnifica Igreja, ernála, a pia-