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IÍ10<br />
Literatura Portugueza.<br />
verdade conhecida que a multidão de Mendigos enfraquece<br />
os Estados, privando-os por hum lado dos<br />
braços, que podiaõ dar lhes, e por outra parte do que<br />
tiraõ aos pòvos, que podia servir para os industriozos,<br />
e laboriozos ? S'estas consideraçoens politicas sao de<br />
todo o pezo, como pode a Sociedade Civil, ou Ecclesiastica<br />
admittir por profissão aquillo mesmo, que<br />
ella deve desterrar por lei ?*<br />
*>Ninguem pode duvidar que o soccorro dos pobres hé huma lei phi-<br />
Iosophica ; hé huma lei gravada no coraçaõ do homem, bem ensinada,<br />
e explicada no Codigo Divino ; todavia favorecer o pobre, que pode<br />
trabalhar, servindo o Estado, e a Religião, ja mais será considerado<br />
como partilhado Philosopbo Christaõ.<br />
Os males, que aecompanhaõ huma mendicidade voluntaria, nos<br />
inculeaõ a ruina, a queda, e a reíaxaçaõ u'aquelles, que a professaõ ;<br />
o seu voto hé inteiramente op posto á separaçaõ do mundo; eu observo<br />
que o Mendicante renuncia o século perante hum D» us, e que no t»rsmo<br />
acto se introduz no lugar, de que foi desterrado, frequentando o diariamente<br />
para o alcance da esmola, e sustento h-eligiozo.<br />
Hum Frade Mendigo rodea" as Cidades, e as grandes povoaçoens;<br />
n'este giro mundano participa do seu sabor, e das grandes tentaçoens,<br />
que mais facilmente s'intioduzem em hum homem de pouco serviço:<br />
no meio da escura noite, e do horrível cho eiró recorre á caza do bem<br />
feitor, do honrado lavrador; demorado alli adquire relaçoens domesticas,<br />
communicaçaõ de familias, donde tem biotaio as péssimas consequências,<br />
de que está cheia a historia dos nossos dias.<br />
ija respeito muito a santidade d'hum Francisco, e, sem que, a prejudique,<br />
posso duvidar, bem como o douto Fleury, das suas luzes no<br />
estabelecimento da pobreza Religioza : aquelle homem Sauto d'aigum<br />
modo conheçeo a fraqueza do seu instituto, que a substituio na falta de<br />
trabalho; com tudo depois da sua morte a pobiez». foi unicamente<br />
adoptada.<br />
A pouca combinaçaõ dos antecedentes, e consequentes têm dado ao<br />
Evaugelho interpretaç >ens bem diversas do espirito dos eu Divino Author;<br />
assim suceedeo a S, Francisco, e a quem apoiou a sua pobreza; hé<br />
terminante a este respeito a reflexão .io Abbade Fleury; eu a copio.<br />
" Se os inventores de novas ordens naõ fossem pela maior parte Santos<br />
Canonizados, poder se hia suspeitar que se deixarão corromper do amor<br />
próprio, e que quizeraõ distinguir-se e refinai sobre os outros. Mas sem<br />
pieju ZJ da sua santidade segurarnente se pôde desconfiar das suas luzes,<br />
e u merque naõ soubessem tudo o que lhes era necessário saber. S.<br />
Francisco imaginava que a sua regra naõ era mais que puro Evangelho,<br />
atendo se particularmente a estas palavras: naõ possuais nem ouro,<br />
nem prata, nem alforue para viajar nem calçado, e o resto ; e como o<br />
Papa Innocencio III. difficultava approvnr este novo instituto, o Cardial<br />
de S. Paulo, Arcebispo de Sabina, lhedice;,se vos naõ admittis<br />
apeiiçiõ d\ste pobre homem, c-nsiderai que naõ rejeiteis o Evangelho.<br />
Mas a verdade hé qi.e o d;to Cardial, e o mesmo Santo n; õ tinha meditado<br />
bi in na continu ç..õ do texto, Jesus Christo mandando pregar os<br />
stos doz Apo>toios, lhes dice logo: curai os enfermos, resuscitai os<br />
mortos, pur ficai os lepr >zo.s, lançai fora os demou ios, dai de graça o<br />
que recebeste de graça. Depois hé que accrescenta, nao possuais nem