QUMRAN Exegese Histórica e Teologia de Salvação
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didaskaiía<br />
palavras com diversos sentidos que impõe a modificação completa<br />
do contexto histórico e salvífico 65 . Ainda voltaremos a este pormenor<br />
com maior insistência, seja em relação aos textos <strong>de</strong> Q como à<br />
tradução dos LXX.<br />
O MÉTODO DAS RELEITURAS<br />
DENTRO DO ANTIGO TESTAMENTO<br />
Os métodos exegéticos <strong>de</strong> Q não nasceram ao acaso «pure et<br />
simpliciter». Têm prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ntro do próprio A. T., cuja formação<br />
é progressiva e conscientemente elaborada a partir <strong>de</strong> textos já<br />
formados. Determinados livros ou perícopas <strong>de</strong> livros relêm outros<br />
livros ou perícopas, modificando-os em parte e actualizando-os.<br />
Semelhante modo ou método bíblico é classificado <strong>de</strong> «releituras».<br />
Qualquer releitura tem a sua origem em novas interpretações.<br />
Assim, por ex. po<strong>de</strong>mos classificar o Deuteronómio duma releitura<br />
e actualização em relação aos feitos do Êxodo e à missão profética<br />
<strong>de</strong> Moisés. As Crónicas relêem Samuel e Reis, revendo as antigas<br />
fontes e enriquecendo-as com fontes adicionadas. Há releituras<br />
conscientemente elaboradas <strong>de</strong> actualização histórica relacionadas<br />
com a história da salvação. Por ex., quando as Crónicas afirmam<br />
que Satan tentou David para organizar o recenseamento militar<br />
<strong>de</strong> Israel (1 Cr. 21, 1) corrige o parecer <strong>de</strong> 2 Sam. 24, 1 ao afirmar<br />
que o Senhor foi quem tentou David. Em 2 Cr. 34, 30 aparece-nos<br />
a leitura «sacerdotes e levitas», ao passo que em 2Re. 23, 2 «sacerdotes<br />
e profetas» e isto porque, segundo a tese <strong>de</strong> A. R. JOHNSON 66 as<br />
associações proféticas nos tempos pré-exílicos estavam incluídas<br />
entre as associações levíticas do judaísmo post-exílico. As Crónicas<br />
referem constantemente o <strong>de</strong>senvolvimento da música do templo<br />
e da salmodia a <strong>de</strong>terminadas corporações Levíticas cujos nomes<br />
aparecem no início <strong>de</strong> muitos salmos. A composição dum salmo<br />
45 Diz FITZMYEB: «A acomodação foi muitas vezes feita pela adopção <strong>de</strong> um outro<br />
pensamento que a mesma radical hebraica podia suportar, dando às palavras um sentido<br />
alegórico, esmiuçando o sentido da expressão do Antigo Testamento ou omitindo palavras<br />
(por exemplo, as negativas)» (p. 324). Não temos uma exegese uniforme e sistemática em Q<br />
acerca dos textos do AT. O mesmo texto po<strong>de</strong> receber interpretações diferentes (como é o<br />
caso das variantes em CD VII e IX citando Num. 24,17 e Am. 9,11) em diferentes contextos.<br />
A aplicação varia consoante as exigências da «actualização» histórica, à maneira dos «pesharim»<br />
e <strong>de</strong> alguns exemplos dos «midrashím» (ver FITZMYER, O. c. p. 331s).<br />
44 The Cultic Prophets in Ancient Israel, Cardiff, 1944.