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Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

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também a outra abordagem, mais “imaterial”, subjetiva, <strong>de</strong> caráter simbólico e cultural,<br />

constituída por grupos sociais, como forma <strong>de</strong> referência e representação, no processo<br />

<strong>de</strong> apropriação do espaço em que vivem. Dominação e apropriação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />

espaço constituem, então, o território que, nesse sentido, é fruto <strong>de</strong> relações sociais no<br />

e com o espaço. Esses espaços são produzidos por um po<strong>de</strong>r político-econômico (dominação)<br />

e um po<strong>de</strong>r cultural-simbólico (apropriação), diferenciados no tempo e no<br />

espaço (HAESBAERT, 2004).<br />

No território associam-se e chocam-se o movimento geral da socieda<strong>de</strong> e o movimento<br />

particular do lugar. Esses movimentos acontecem simultaneamente com um processo<br />

<strong>de</strong> fragmentação do espaço, coor<strong>de</strong>nados pelos atores hegemônicos. O território<br />

rígido, coeso, fechado por suas fronteiras está, nos dias <strong>de</strong> hoje, cada vez mais fragmentado,<br />

<strong>de</strong>scontínuo, mas conectado por re<strong>de</strong>s informacionais. Uma visão, porém, não<br />

exclui a outra; ambas “convivem”, sobrepõem-se, formando um território híbrido, justaposto<br />

por tempos e espaços do passado, do presente e do futuro.<br />

Segundo Haesbaert (2004), as relações sociais no e com o espaço que constroem o<br />

território são produtos <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> forças que envolvem o controle<br />

político-econômico e a apropriação simbólica do território por uma parte “privilegiada”<br />

da socieda<strong>de</strong>. Esses fatores apresentam-se ora conjugados e mutuamente reforçados,<br />

ora <strong>de</strong>sconectados e contraditoriamente articulados.<br />

Milton Santos (1994) <strong>de</strong>nomina essa diferença “relações <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> forças, <strong>de</strong> verticalida<strong>de</strong>s<br />

e horizontalida<strong>de</strong>s”. Segundo ele, as horizontalida<strong>de</strong>s são os domínios da contigüida<strong>de</strong>,<br />

da vizinhança territorial, do cotidiano e da proximida<strong>de</strong>. Já as verticalida<strong>de</strong>s<br />

são constituídas por locais distantes uns dos outros, mas conectados pela informação,<br />

por formas e processos sociais hegemônicos.<br />

As relações <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> força e, conseqüentemente, sua segregação espacial, social,<br />

econômica e política não <strong>de</strong>vem ser compreendidas simplesmente como um processo<br />

<strong>de</strong> exclusão social, porque essa parte da população segregada está incluída no processo<br />

econômico, mesmo que <strong>de</strong> forma precária. O que ocorre, <strong>de</strong> fato, são contradições <strong>de</strong><br />

um mesmo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção capitalista. Essa população faz parte <strong>de</strong>sse momento<br />

histórico, seja negando ou afirmando esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> “<strong>de</strong>senvolvimento”, que não é só<br />

nacional mas, também, mundial.<br />

O território apresenta, portanto, uma condição complexa e dinâmica, na qual os “excluídos”<br />

ou precariamente incluídos tentam, a todo instante, se firmar como cidadãos. A falta<br />

<strong>de</strong> opção, a incerteza (o imóvel, “estável”) e o movimento, o fluxo (a instabilida<strong>de</strong>) <strong>de</strong>ssa<br />

população po<strong>de</strong>m aparentar <strong>de</strong>smobilização, conformismo, fruto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperança no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do país e <strong>de</strong> suas próprias vidas. Por outro lado, a inclusão precária que<br />

ten<strong>de</strong> a dissolver os laços territoriais po<strong>de</strong> levar, a partir <strong>de</strong> um sentimento coletivo <strong>de</strong><br />

cidadania, à organização <strong>de</strong> grupos sociais em torno <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias e esperanças <strong>de</strong> transformação<br />

<strong>de</strong> suas realida<strong>de</strong>s. Por conseguinte, assegurar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a cidadania à população<br />

menos favorecida e sua participação no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social e econômico<br />

do país faz com que esses grupos locais se reúnam por suas necessida<strong>de</strong>s específicas,<br />

transformando-se em movimentos sociais <strong>de</strong> resistência, <strong>de</strong> contracorrentes.<br />

102<br />

Geografias Belo Horizonte 02(1) 93-106 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />

ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

A importância das escalas espaciais para compreensão do processo <strong>de</strong> globalização

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