Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais
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<strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar o fluxo global também a partir do encontro feito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sencontros e<br />
<strong>de</strong> estranhamentos: “[...] à medida que dissolve as barreiras da distância, torna o encontro<br />
entre o centro colonial e a periferia colonizada imediato e intenso” (ROBINS apud<br />
HALL, 1997, p. 85). Assim, o jogo do período colonial inverte-se, e o Oci<strong>de</strong>nte vê-se<br />
invadido pelo movimento <strong>de</strong> pessoas dos países excluídos, em busca do estilo imposto<br />
— e agora negado — pelos colonizadores.<br />
Stuart Hall (1997) dispensa atenção também às transformações <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas nos indivíduos<br />
do lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, submetidos à presença <strong>de</strong> outros indivíduos com formações<br />
culturais diferentes. Referindo-se à posição da Inglaterra, o autor <strong>de</strong>tecta o surgimento<br />
<strong>de</strong> reações <strong>de</strong>monstrativas <strong>de</strong> uma não receptivida<strong>de</strong> aos imigrantes, criando<br />
barreiras a uma total integração. O autor afirma: “O fortalecimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s locais<br />
po<strong>de</strong> ser visto na forte reação <strong>de</strong>fensiva daqueles membros dos grupos étnicos dominantes<br />
que se sentem ameaçados pela presença <strong>de</strong> outras culturas” (HALL, 1997, p. 91).<br />
Stuart Hall (1997, p. 95) chama a atenção para o fato <strong>de</strong> que “po<strong>de</strong> ser tentador pensar<br />
na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, na era da globalização, como estando <strong>de</strong>stinada a acabar num lugar ou<br />
noutro: ou retornando a suas ‘raízes’ ou <strong>de</strong>saparecendo através da assimilação e da homogeneização.<br />
Mas esse po<strong>de</strong> ser um falso dilema”. Ao refletirem sobre a questão da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, Akhil Gupta e James Ferguson (2000) sugerem a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> novos fatores.<br />
Não se po<strong>de</strong> pensar o lugar como autônomo nem uma cultura como específica <strong>de</strong><br />
um lugar. Na contemporaneida<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> do hibridismo é sempre algo a ser<br />
avaliado como integrante das relações que se ampliam. 20 Mas ainda há o que pensar<br />
sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nos lugares, diante das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intercâmbio. Frente às transformações<br />
operadas no nível global, po<strong>de</strong>-se refletir sobre possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alterações<br />
i<strong>de</strong>ntitárias. I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m se mesclar. Algumas funções e <strong>de</strong>terminados papéis locais<br />
po<strong>de</strong>m, inclusive, fornecer novas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s aos lugares. Isso significa que, nos<br />
lugares, em função do seu dinamismo — que também é reflexo do dinamismo do mundo<br />
contemporâneo —, algumas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m se sobrepor às outras; além disso,<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m, inclusive, per<strong>de</strong>r significado. Isso não resulta, entretanto, em perda<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos lugares. Eles sempre carregam, em si, a sua natureza, a sua história <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s que se adaptam ao movimento do mundo.<br />
Finalmente, uma outra questão <strong>de</strong>ve ser focalizada ao se refletir sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nos<br />
lugares e, simultaneamente, sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos lugares. Trata-se <strong>de</strong> uma questão fundamental<br />
para que, na contemporaneida<strong>de</strong>, os homens, as socieda<strong>de</strong>s, assim como os lugares<br />
possam ser compreendidos. Se po<strong>de</strong>m ser vistos a partir <strong>de</strong> traços <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> —<br />
que se <strong>de</strong>smancham, se metamorfoseiam, se fortalecem ou se enfraquecem —, os lugares<br />
também <strong>de</strong>vem ser avaliados a partir da consi<strong>de</strong>ração das mobilida<strong>de</strong>s no seu interior,<br />
sob a consi<strong>de</strong>ração da alterida<strong>de</strong>:<br />
Se a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pressupõe as relações <strong>de</strong> aproximação, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>ssemelhança marcam<br />
o seu princípio oposto. Portanto, se há um princípio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a alterida<strong>de</strong> é o seu contrário.<br />
Se o primeiro é construído pela aproximação e pela natureza equivalente dos seres, <strong>de</strong>senvolve-se<br />
um grupo, por oposto, com base na repulsão ou na contraposição. Isso significa que nas relações<br />
20<br />
Deve-se avaliar ainda que, no mundo contemporâneo,<br />
o pensamento po<strong>de</strong> facilmente<br />
ser conduzido à tentação <strong>de</strong> redução da cultura<br />
e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a mercadorias. Embora a cultura<br />
possa se manifestar como mercadoria,<br />
esta é privilégio <strong>de</strong> quem po<strong>de</strong> pagar. Alguns<br />
lugares são planejados para o consumo. Citam-se<br />
o Disney World e outros que são representativos<br />
da homogeneida<strong>de</strong> das condições<br />
econômicas e sociais <strong>de</strong> um grupo (ZUKIN, 2000).<br />
Belo Horizonte 02(1) 7-21 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />
Cássio Eduardo Viana Hissa Rosana Rios Corgosinho<br />
Geografias<br />
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