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Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

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Castro (1997), a escala tomada enquanto medida proporcional resume-se apenas em<br />

medida matemática, em forma abstrata.<br />

As escalas são, portanto, produtos das ações sociais ao longo <strong>de</strong> processos históricos<br />

<strong>de</strong> confrontos envolvendo disputas que perpassam por todas as escalas espaciais, na<br />

maioria das vezes acontecendo simultaneamente. Não há, assim, legitimida<strong>de</strong> em afirmar<br />

qual a mais importante. Para a abordagem transescalar, isso não importa; o que<br />

interessa é a perspectiva que inter-relacione as escalas envolvidas no processo em foco.<br />

Ora, qualquer objeto <strong>de</strong> transformação socioespacial envolve táticas e estratégias que<br />

exigem entendimento e ação em cada uma das escalas em que se configuram os conflitos.<br />

Dessa maneira, somente mudanças estruturais profundas transescalares serão capazes<br />

<strong>de</strong> possibilitar uma reviravolta no quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e miséria social que<br />

atinge o mundo hoje (VAINER, 2002).<br />

Em síntese, a análise transescalar é a que parece ser não apenas a mais capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

as inter-relações entre os fenômenos, pois articula os diversos espaços em seu<br />

processo <strong>de</strong> análise, mas também a que possibilita uma práxis socioespacial.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

O otimismo <strong>de</strong> Milton Santos, tendo o lugar como ponto <strong>de</strong> partida para as<br />

transformações sociais e a população carente e pobre como o principal agente <strong>de</strong>ssas<br />

transformações, parece não encontrar tanto respaldo na realida<strong>de</strong> socioespacial. As<br />

perspectivas <strong>de</strong> mudança ainda estão obscuras, bem como o próprio fenômeno da<br />

globalização. Até que ponto os movimentos <strong>de</strong> resistência assumem uma visão transescalar<br />

e emancipatória que conteste o mundo das mercadorias é uma questão que ainda não<br />

está tão nítida como sugere o professor, muito embora melhorias substantivas tenham<br />

sido conquistadas por esses movimentos sociais, como, por exemplo, maior número <strong>de</strong><br />

assentamentos rurais já concretizados, <strong>de</strong>sistência <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> barragens para<br />

hidrelétricas e, conseqüentemente, <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> pessoas, participação popular<br />

nas discussões sobre orçamentos municipais etc.<br />

É bom <strong>de</strong>stacar que Milton Santos, mesmo assumindo o lugar como ponto <strong>de</strong> partida<br />

das mudanças socioespaciais, pauta sempre sua análise por uma perspectiva transescalar<br />

que leve em conta as diversas escalas espaciais. Tal qual acontece com Vainer, que<br />

corrobora a perspectiva transescalar e vê, na cida<strong>de</strong>, o lugar ou o ponto <strong>de</strong> partida para<br />

a transformação social. O mesmo não se po<strong>de</strong> dizer <strong>de</strong> Massey, que <strong>de</strong>staca apenas a<br />

importância global/local para esse tipo <strong>de</strong> análise, e tampouco <strong>de</strong> Harvey, que vê muito<br />

mais na ação global a saída para a transformação socioespacial.<br />

Essa reflexão sobre as idéias apontadas por esses autores remete este ensaio à questão<br />

essencial para o aprofundamento e a conclusão do tema: a relação teoria e prática.<br />

Nesse sentido, algumas questões são pertinentes. Por exemplo: será que somente os<br />

discursos resolvem os problemas socioespaciais? É preciso somente agir? Ou ambos<br />

fazem parte <strong>de</strong> um mesmo processo <strong>de</strong> viver no mundo? Longe <strong>de</strong> traçar uma perspectiva<br />

ampla e coesa, preten<strong>de</strong>-se aqui, apenas brevemente, apontar um <strong>de</strong>ntre os vários<br />

possíveis caminhos para a compreensão da relação entre teoria e prática.<br />

104<br />

Geografias Belo Horizonte 02(1) 93-106 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />

ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

A importância das escalas espaciais para compreensão do processo <strong>de</strong> globalização

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