Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais
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<strong>de</strong> contraste e <strong>de</strong> diferença po<strong>de</strong>m ser estimulados a exclusão e o “sentimento estrangeiro”.<br />
Nesses termos, a alterida<strong>de</strong> se contrapõe à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ao evi<strong>de</strong>nciar a condição <strong>de</strong> “outrida<strong>de</strong>”, <strong>de</strong><br />
estranhamento (HISSA; GUERRA, 2002, p. 68).<br />
As i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser interpretadas como i<strong>de</strong>ntificações em processo <strong>de</strong> transformação.<br />
Portanto, ao se refletir sobre os processos <strong>de</strong> transformação experimentados<br />
pelos lugares, também movimentados pelas dinâmicas contemporâneas que evocam a<br />
imagem <strong>de</strong> mundo, há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar o curso assumido pelas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Isso significa que<br />
a maximização dos sentimentos <strong>de</strong> pertencimento e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ocasionar “[...]<br />
formas <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>s exclusivas e conflitivas” (HISSA; GUERRA, 2002, p. 68). Assim,<br />
pensar o lugar a partir das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s é também, necessariamente, refletir sobre a alterida<strong>de</strong><br />
nos lugares.<br />
21<br />
Milton Santos (2005, p. 170) faz referência às<br />
distinções entre as or<strong>de</strong>ns global e local: “A<br />
or<strong>de</strong>m global funda as escalas superiores ou<br />
externas à escala do cotidiano. Seus parâmetros<br />
são a razão técnica e operacional, o cálculo<br />
<strong>de</strong> função, a linguagem matemática. A or<strong>de</strong>m<br />
local funda a escala do cotidiano, e seus<br />
parâmetros são a co-presença, a vizinhança,<br />
a intimida<strong>de</strong>, a emoção, a cooperação e a socialização<br />
com base na contigüida<strong>de</strong>”.<br />
Lugar e cotidiano<br />
Uma discussão sobre o conceito <strong>de</strong> lugar implica a percepção da localização significante<br />
<strong>de</strong> todos os lugares: eles estão em toda parte, feitos <strong>de</strong> espaço e <strong>de</strong> tempo, recobertos <strong>de</strong><br />
valores e <strong>de</strong> ética prática; eles <strong>de</strong>senvolvem dimensões espaciais variadas, o que po<strong>de</strong> ser<br />
importante para a leitura da contigüida<strong>de</strong>, da magnitu<strong>de</strong> das aproximações e das<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s, do <strong>de</strong>senvolvimento das diversas formas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> socialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
alterida<strong>de</strong>. A vida nos lugares é feita <strong>de</strong> cotidianos. A cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>, nos seus interiores,<br />
nos seus subterrâneos e meandros, é uma gran<strong>de</strong> fábrica <strong>de</strong> comunicação — manufatura <strong>de</strong><br />
contatos e <strong>de</strong> intercâmbios — que põe em comum o que estaria, em princípio, restrito;<br />
pôr em comum é, no mínimo, aparentemente, dar a todos as condições mínimas para a<br />
participação na vida: viver na cida<strong>de</strong>, viver a cida<strong>de</strong>. Mas o que ela fornece, contraditoriamente,<br />
é o que também subtrai. A vida na cida<strong>de</strong>, feita <strong>de</strong> diversos significados, é a<br />
vida carregada <strong>de</strong>nsamente através das experiências práticas, das vivências dos diversos<br />
sujeitos da vida realizada a partir <strong>de</strong> coisas comuns. Nada disso po<strong>de</strong> ser dispensado para<br />
uma leitura dos lugares.<br />
Compreen<strong>de</strong>r os lugares é, especialmente, consi<strong>de</strong>rar as possíveis e necessárias leituras<br />
da vida cotidiana. Se são feitos da vida dos indivíduos, os lugares <strong>de</strong>vem, ainda, ser<br />
interpretados como plenos <strong>de</strong> hábitos, <strong>de</strong> comportamentos que se referem a uma ética<br />
cotidiana que, por sua vez, encaminha o pensamento para o universo das repetições, das<br />
rotinas que libertam e que escravizam.<br />
O cotidiano refere-se ao que se <strong>de</strong>senvolve através do hábito comum, rotineiro. Tratase<br />
do chão rotineiro dos lugares, formado do que é corrente e costumeiro. O cotidiano,<br />
assim, é abundante nos lugares e faz com que eles sejam, por isso, fartos, ricos, abastados<br />
em experiências. Refere-se à vida cotidiana dos lugares ao se pensar na fertilida<strong>de</strong> da<br />
experiência comum que não se interrompe, que expan<strong>de</strong> os saberes comuns feitos <strong>de</strong><br />
praticida<strong>de</strong>. O cotidiano é feito <strong>de</strong> freqüências e <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong>s que referenciam as trilhas<br />
dos indivíduos e das coletivida<strong>de</strong>s. Mas também é feito <strong>de</strong> freqüências e <strong>de</strong> vazios, ou <strong>de</strong><br />
incompletu<strong>de</strong>s que traduzem a experiência humana. 21<br />
O cotidiano: as reflexões sobre o significado <strong>de</strong>ssa categoria da existência, tal como a trata<br />
Milton Santos (2002), fortalecem a sua importância para discutir a questão do lugar no<br />
16<br />
Geografias Belo Horizonte 02(1) 7-21 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />
ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />
Recortes <strong>de</strong> lugar