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Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

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Todavia, o mundo <strong>de</strong> hoje, dominado por re<strong>de</strong>s financeiras e pelo comércio transnacional<br />

apoiados pela ciência e pela técnica difundidas pelos sistemas <strong>de</strong> informação,<br />

procura a todo momento, através dos agentes hegemônicos, dissolver esses núcleos <strong>de</strong><br />

resistência. Os movimentos sociais <strong>de</strong> contestação ganham espaço na mídia, quase que<br />

somente por suas ações “controversas” e raramente pela questão social que eles realmente<br />

trazem. São exemplos disso o movimento dos sem-terras e as invasões <strong>de</strong> terras<br />

improdutivas, o movimento dos sem-casas e a invasão <strong>de</strong> prédios <strong>de</strong>socupados nas<br />

gran<strong>de</strong>s metrópoles, os movimentos anti-globalização e seus protestos nos encontros do<br />

comércio mundial, e o movimento dos <strong>de</strong>salojados por barragens, entre outros. Exemplos<br />

não faltam <strong>de</strong> movimentos sociais contestatórios, porém ainda existem pessoas que<br />

continuam a vê-los como questão <strong>de</strong> polícia e nunca como um problema social enraizado<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens da formação do território nacional.<br />

A perspectiva transescalar<br />

Vainer (2002) é muito perspicaz ao apontar que somente uma estratégia transescalar<br />

permitirá uma visão integrada dos fenômenos e uma transformação socioespacial. De<br />

fato, na vida cotidiana, estão expressas e impressas todas as escalas espaciais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

corpo, passando pelo lugar e percorrendo o território, até o espaço maior (no sentido <strong>de</strong><br />

global). As pessoas vivem no cotidiano do corpo, do lugar, do território e do mundo.<br />

Desse modo, uma visão apenas localista do cotidiano produz um i<strong>de</strong>alismo da esfera<br />

local, como se esta fosse constituída por comunida<strong>de</strong>s “tradicionais”, coesas e homogêneas.<br />

Feitas essas observações, os processos são, na perspectiva transescalar, analisados em<br />

sua totalida<strong>de</strong>. Nenhum recorte espacial tem primazia sobre os outros; ao contrário,<br />

todos são importantes para o entendimento do mundo contemporâneo. Destacando-se<br />

apenas um <strong>de</strong>les, po<strong>de</strong>-se correr o risco <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar levar por dogmatismos ou por<br />

“romantismos”. Deve-se compreen<strong>de</strong>r que cada escala espacial guarda um aspecto da<br />

realida<strong>de</strong>, ou uma significação do movimento <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>. Afinal é preciso enten<strong>de</strong>r<br />

que cada elemento é importante, uma vez que faz parte <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> fenômenos<br />

que se inter-relacionam.<br />

Infere-se, então, que a compreensão transescalar dos processos políticos, econômicos,<br />

sociais e culturais só é possível perante o entendimento <strong>de</strong> que a construção <strong>de</strong> escalas é<br />

fruto <strong>de</strong> um processo social, “isto é, a escala é produzida na e através da ativida<strong>de</strong><br />

societária, a qual, por seu turno, produz e é produzida pelas estruturas geográficas da<br />

interação social” (SMITH apud VAINER, 2002, p. 25).<br />

Nesses termos, as escalas são também processos e não apenas receptáculo das transformações<br />

sociais. Existem, então, processos socioespaciais em suas dimensões transescalares,<br />

porque, nos dias atuais, parecem não mais existir fenômenos <strong>de</strong> origem uniescalar,<br />

con<strong>de</strong>nados apenas a um espaço <strong>de</strong>terminado.<br />

Cumpre assinalar, ainda, que as escalas não são neutras por serem produzidas por<br />

processos heterogêneos e <strong>de</strong> conflito. Elas não estão dadas a priori nem são geometricamente<br />

<strong>de</strong>finidas. Elas são frutos <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> apropriação e <strong>de</strong> dominação do<br />

espaço e, por isso, carregam consigo todo um conteúdo estratégico e político. Segundo<br />

Belo Horizonte 02(1) 93-106 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />

Thiago Macedo Alves <strong>de</strong> Brito<br />

Geografias<br />

ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

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