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Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

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tentando atravessar a fronteira do México<br />

com os Estados Unidos vem logo à mente.<br />

No filme, há alusões a gran<strong>de</strong>s espaços<br />

vazios, em que não ocorrem ligações <strong>de</strong><br />

afetivida<strong>de</strong>, chamados por Marc Augé<br />

(1994) <strong>de</strong> “não-lugares”. Esses espaços<br />

contrapõem-se aos espaços <strong>de</strong> significação,<br />

<strong>de</strong> conforto, <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> proteção:<br />

os “lugares”. Os não-lugares –<br />

saguões <strong>de</strong> hotéis, shoppings, supermercados,<br />

salas <strong>de</strong> embarque em aeroportos,<br />

por exemplo – são vácuos locacionais,<br />

<strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> significados para as pessoas<br />

que passam por eles. Sobre os lugares,<br />

encontraremos a conceituação <strong>de</strong> importantes<br />

e diferentes autores, tais como Henri<br />

Lefébvre, Rogério Haesbaert, Milton Santos<br />

e Yi-fu Tuan, entre outros.<br />

Espaços <strong>de</strong> trânsito, <strong>de</strong> nomadismo errante<br />

– no caso <strong>de</strong> Código 46, os não-lugares<br />

– acabam por ser o cenário dos <strong>de</strong>sterritorializados<br />

física e socialmente, como<br />

os que foram punidos e banidos para o al<br />

fuera. A idéia <strong>de</strong> território e <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>s<br />

envolve relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre grupos<br />

ou indivíduos, por via seja política,<br />

seja econômica ou cultural, como argumenta<br />

Rogério Haesbaert da Costa (2004,<br />

p. 95-96):<br />

Po<strong>de</strong>ríamos dizer que o território, enquanto<br />

relação <strong>de</strong> dominação e apropriação<br />

socieda<strong>de</strong>-espaço, <strong>de</strong>sdobra-se ao longo <strong>de</strong><br />

um continuum que vai da dominação<br />

político-econômica mais “concreta” e<br />

“funcional” à apropriação mais subjetiva<br />

e/ou “cultural-simbólica”. Embora seja<br />

completamente equivocado separar estas<br />

esferas, cada grupo social, classe ou<br />

instituição po<strong>de</strong> “territorializar-se” através<br />

<strong>de</strong> processos <strong>de</strong> caráter mais funcional<br />

(econômico-político) ou mais simbólico<br />

(político-cultural) na relação que <strong>de</strong>senvolve<br />

com os “seus” espaços, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da<br />

dinâmica <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e das estratégias que<br />

estão em jogo. Não é preciso dizer que são<br />

muitos os potenciais conflitos a se<br />

<strong>de</strong>sdobrar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse jogo <strong>de</strong><br />

territorialida<strong>de</strong>s.<br />

A impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acessar as benesses<br />

da tecnologia também implica em processos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sterritorialização. Em geral, a<br />

aparição <strong>de</strong> artefatos tecnológicos mirabolantes<br />

em filmes <strong>de</strong> ficção é recorrente<br />

e não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada no roteiro.<br />

Curiosamente, não é o que acontece em<br />

Código 46. Nele são mostradas tecnologias<br />

que apresentam uma forte semelhança ou<br />

factibilida<strong>de</strong> em relação ao que a ciência e<br />

a indústria já po<strong>de</strong>m realizar hoje. Como<br />

exemplos, po<strong>de</strong>m ser vistos os seguintes<br />

elementos: espaços arquitetônicos hi-tech;<br />

sensores <strong>de</strong> luminosida<strong>de</strong> nos vidros das<br />

janelas, que substituem cortinas; telas <strong>de</strong> TV<br />

e monitores <strong>de</strong> computadores, com touchscreen,<br />

instalados em janelas ou pare<strong>de</strong>s que<br />

separam ambientes; controle <strong>de</strong> acesso aos<br />

lugares, por verificação biométrica; dispositivos<br />

“vestíveis” <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />

virtual, para a prática <strong>de</strong> esportes; uso <strong>de</strong><br />

palavras-senha, emitidas por comando <strong>de</strong><br />

voz, para permitir o acesso a lugares, compras,<br />

pagamento <strong>de</strong> contas e registro e catalogação<br />

<strong>de</strong> dados. Da mesma forma<br />

como em nossa realida<strong>de</strong>, também em<br />

Código 46 essas tecnologias não estão disponíveis<br />

a todos os membros da socieda<strong>de</strong>.<br />

Algumas das novida<strong>de</strong>s tecnológicas<br />

mostradas no filme, que esperamos não se<br />

disponibilizem em tempo algum, são, <strong>de</strong><br />

qualquer maneira, intrigantes: procedimentos<br />

médicos que removem a memória<br />

pontual das mentes; operações que inoculam<br />

vírus <strong>de</strong> “empatia” – capacitando o<br />

indivíduo a adivinhar o pensamento alheio<br />

Belo Horizonte 02(1) 109-113 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />

Geografias<br />

Allaoua Saadi Antônio Pereira Magalhães JúnioTânia Bittencourt Bloomfield RESENHA<br />

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