30.08.2014 Views

Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mente existente, tido como verda<strong>de</strong>iro. Busca-se, assim, a compreensão da realida<strong>de</strong> tal<br />

como se procura <strong>de</strong>scobrir a verda<strong>de</strong>. A realida<strong>de</strong> e o real seriam feitos, portanto, das coisas<br />

e dos objetos como realmente são, e à ciência caberia o papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>scortinar o que encobre<br />

a verda<strong>de</strong>. 7 Recorre-se a José Saramago (2001), que surpreen<strong>de</strong> com a sabedoria <strong>de</strong> poucas<br />

palavras repletas <strong>de</strong> vastos conteúdos: “Se eu acreditar que Deus fez os meus olhos<br />

para que eu visse a realida<strong>de</strong> tal como ela [é], então, estupendo. Mas como nós sabemos<br />

que não é assim, não vale a pena estarmos a per<strong>de</strong>r tempo com isso”.<br />

Já não são poucos os estudos teóricos sobre a condição dos lugares, sobre a sua<br />

natureza, especialmente em função da vasta literatura voltada para a compreensão dos<br />

processos associados à globalização. Assim, sobretudo a partir dos últimos instantes do<br />

século XX, uma profusão <strong>de</strong> estudos — entre os quais também vários empíricos —<br />

assinalava os esforços e as possibilida<strong>de</strong>s analíticas <strong>de</strong> todos os saberes ocupados com a<br />

problemática espacial. O lugar, por razões compreensíveis, emerge como um conceito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque central na discussão sobre a globalização. Pouco restou do que se imaginou<br />

como resultado <strong>de</strong>sse manto abstrato que, em princípio, foi tomado como o que veio,<br />

sob o nome <strong>de</strong> globalização, para neutralizar o espaço, homogeneizar as diferenças e as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, suprimir os lugares, os valores e as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Esse manto feito <strong>de</strong> fluxos,<br />

especialmente <strong>de</strong> caráter econômico, assume o significado <strong>de</strong> uma superfície eletrônica<br />

mercantil que, em princípio, foi tomada como capaz <strong>de</strong> suprimir as superfícies do passado,<br />

os lugares, a vida cotidiana, as diferenças e, quem sabe, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. Tudo sucumbiria<br />

à globalização: a partir <strong>de</strong> então, não haveria como pensar noutra cultura originária<br />

<strong>de</strong> outras concepções <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> outros fluxos. O passado não mais existiria para as<br />

culturas alternativas: restaria um futuro comum, <strong>de</strong> contornos nitidamente mercantis,<br />

como se fosse esse um <strong>de</strong>stino inevitável para todos. Mas a história e o pensamento<br />

crítico fizeram com que a discussão sobre a questão espacial readquirisse a relevância:<br />

não há como receber o mundo, em sua abstração digital, sem que os olhos estejam voltados<br />

para os lugares, para as mobilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que são feitos, para as relações i<strong>de</strong>ntitárias que os<br />

caracterizam, para a sua vida cotidiana.<br />

Um estudo reflexivo, teórico, sobre os lugares, contudo, po<strong>de</strong> não se restringir à discussão<br />

acerca <strong>de</strong> sua natureza movente, que correspon<strong>de</strong>, em parte, aos movimentos do<br />

mundo. Do mesmo modo, um estudo teórico sobre os lugares po<strong>de</strong>, assim, ultrapassar<br />

a própria interpretação acerca <strong>de</strong> suas relações com o seu universo aparentemente exterior.<br />

Um estudo reflexivo sobre os lugares po<strong>de</strong> também, pensando sobre o seu caráter,<br />

fazer referência às relações que se <strong>de</strong>senvolvem nos seus interiores, entre elementos <strong>de</strong>finidores<br />

<strong>de</strong> suas características e através <strong>de</strong> situações que fazem <strong>de</strong>les o que são. Assim,<br />

portanto, neste breve ensaio são abordadas as relações entre os lugares e as mobilida<strong>de</strong>s,<br />

entre os lugares e as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, entre as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e a vida cotidiana.<br />

Mobilida<strong>de</strong>s e lugares<br />

A discussão sobre o fenômeno da mobilida<strong>de</strong> assume a centralida<strong>de</strong>, sob a referência<br />

dos fortes ritmos da vida contemporânea. Para que se refira à dinâmica espacial,<br />

compreen<strong>de</strong>-se que os lugares sejam feitos também, como observava Milton Santos<br />

7<br />

Como conceber as coisas e os objetos como<br />

realmente são? Tal concepção nos faz pensar<br />

na existência <strong>de</strong> coisas e <strong>de</strong> objetos ensimesmados,<br />

presentes no mundo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

dos significados advindos da interpretação,<br />

da leitura que se faz <strong>de</strong>les.<br />

Belo Horizonte 02(1) 7-21 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />

Cássio Eduardo Viana Hissa Rosana Rios Corgosinho<br />

Geografias<br />

ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!