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Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

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e a mandioca são cultivados num primeiro momento; os feijões vêm <strong>de</strong>pois, quando o<br />

milho, já seco, serve <strong>de</strong> apoio para o feijão subir e, assim, produzir melhor. Em troca, o<br />

feijão, enquanto leguminosa, fixa nitrogênio no solo. Assim, potencializa-se o uso <strong>de</strong><br />

terra numa mesma área.<br />

Em relação à pecuária, o gado tem <strong>de</strong> ser transferido aos mangueiros no período <strong>de</strong><br />

estiagem, uma vez que o carrasco fica bastante árido. Quando criado no pasto, é preciso<br />

realizar o rodízio do rebanho, a cada seis meses, entre os locais <strong>de</strong> pastagem. Conta-se<br />

que antigamente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se tirar o leite pela manhã, o gado era colocado na “solta<br />

nativa”, <strong>de</strong>ixando-se os bezerros no mangueiro, na área <strong>de</strong> roça ou próximos ao quintal;<br />

à noite, o gado ficava no curral. O leite era utilizado no fabrico <strong>de</strong> queijo e requeijão.<br />

– O gado ia pra lá... pros furado, que o povo trata hoje Furado Mo<strong>de</strong>sto, né? E aí por diante, os<br />

furado assim, que tratava os furado aí <strong>de</strong> cima, né? Então, o gado era à solta, e eles prendia os<br />

bezerrinho no curral. Quando era ali pras 7, 8 hora, as vaca que atrasava chegava ali pras 8, 9 hora,<br />

berrando lá do carrasco, e os bezirrinho ia respon<strong>de</strong>ndo. Aí eles chegava com a cabaça <strong>de</strong> leite – que<br />

num tinha lata aquela época, tratava ali, que e o povo trata <strong>de</strong> cabaça, né? –, abria a boca e ia com<br />

o copão <strong>de</strong> leite. Aí tirava, encostava restelando no canto, ia qualhá; às vezes eles fazia requeijão,<br />

algumas vezes eles fazia doce...<br />

(Seu A<strong>de</strong>lino Pereira <strong>de</strong> Aquino, 60 anos, morador <strong>de</strong> Cabaceiros; 20/04/04)<br />

Quanto à pesca, a ocorrência da <strong>de</strong>sova é sinal <strong>de</strong> chuva e <strong>de</strong> cheia. As lagoas enchem<br />

uma a uma e recebem a piracema, e os peixes procriam. Na vazante, durante os meses<br />

<strong>de</strong> julho, agosto e setembro, a pesca intensifica-se. Se, por um lado, a pesca espera as<br />

águas, por outro lado a própria subida do peixe para a <strong>de</strong>sova é sinal das águas, como<br />

relata Seu A<strong>de</strong>lino Pereira <strong>de</strong> Aquino:<br />

Seu A<strong>de</strong>lino – “Tá <strong>de</strong>sovando, peguei um peixo”. E como é que é, esse menino? Esse peixo<br />

como é que tá? “É, o peixo tá <strong>de</strong>sovando”. É enchente, já vai chovê, vai tê enchente, porque, se tá<br />

<strong>de</strong>sovando, as água é boa. Tá enten<strong>de</strong>ndo? É o que eles fala, né?<br />

– Em que época eles <strong>de</strong>sovam? É na época das águas, no final do ano?<br />

Seu A<strong>de</strong>lino – Época <strong>de</strong> enchente é quando começa. É janeiro, <strong>de</strong>zembro, assim por diante, né?<br />

E agora eles pega, cê sabe como é que é... A gente pega <strong>de</strong> tarrafa, outros faz uma tapage: pega um,<br />

vai no mato cortá umas vara, faz o jequi, assim... Alguém mostrô pr’ocês, não? Então sai, ó, pega<br />

o peixo, enfia a mão <strong>de</strong>ntro, igual aqui assim, e vai rodando o peixo, pega. É... uns enfia no<br />

enfisgo; tem mulher aí que pega o peixo, enrola aqui assim, pra mó <strong>de</strong>... né?<br />

– Em que época se pega mais peixe aqui, então?<br />

Seu A<strong>de</strong>lino – Na época da enchente eles pega; eles faz uma tapage, né? E outra, na seca, quando<br />

a água encurta nas lagoa, eles pega, pega <strong>de</strong> tarrafa.<br />

(Seu A<strong>de</strong>lino Pereira <strong>de</strong> Aquino, 60 anos, morador <strong>de</strong> Cabaceiros; 20/04/04)<br />

Entre os produtos das ativida<strong>de</strong>s extrativistas estão os medicamentos <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong><br />

ervas medicinais e gorduras e banhas <strong>de</strong> alguns animais <strong>de</strong> caça, que são usados para a<br />

70<br />

Geografias Belo Horizonte 02(1) 58-77 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />

ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

Brejo dos Crioulos: saberes tradicionais e afirmação do território

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