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Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

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mundo contemporâneo. O global está em todos os lugares: tal condição atual apresenta-se<br />

como uma dificulda<strong>de</strong> para a compreensão dos lugares e, simultaneamente, um referencial<br />

para a leitura <strong>de</strong> todos os pontos que representam, nas possíveis cartografias, o universo <strong>de</strong><br />

todos os lugares que povoam o mundo. O mundo existe nos lugares porque a vida existe nos<br />

lugares. Vida cotidiana: o seu significado conduz o pensamento para a vivência dos lugares.<br />

Pensar o cotidiano dos lugares é também esten<strong>de</strong>r as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reflexão sobre<br />

a importância da comunicação no universo dos lugares. O mundo mo<strong>de</strong>rno é feito <strong>de</strong><br />

movimentos e fluxos intensos, instantâneos. Ele parece sugerir comunicação, a <strong>de</strong>speito<br />

<strong>de</strong> fazer com que a informação se sobreponha ao próprio intercâmbio. Nos lugares, nas<br />

relações feitas <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong>, a comunicação po<strong>de</strong> ser mais intensa e ampliar as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> vida social. A comunicação, no entanto, po<strong>de</strong> se realizar mesmo sem a informação,<br />

como nos lembra Milton Santos (2002). As origens etimológicas da palavra são<br />

ainda mais esclarecedoras e mais úteis à reflexão sobre a importância da vida cotidiana<br />

como instrumento reconhecedor dos lugares: comunicar significa pôr em comum, dividir,<br />

partilhar. É certo que, daí, emergem outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação dos lugares:<br />

disponibilizar para muitos ou para todos e, conseqüentemente, pôr em comum é também<br />

pensar na força política e social dos lugares. A socialida<strong>de</strong> é tanto mais presente<br />

entre os indivíduos quanto maior é a sua proximida<strong>de</strong>. As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong><br />

são mais evi<strong>de</strong>ntes nos lugares, o que fortalece as relações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.<br />

A força política, latente nos lugares, é um importante instrumento para pensar<br />

as ações, as práticas que se relacionam com as referências <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que se materializam,<br />

<strong>de</strong> algum modo, na construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s entre os sujeitos da vida, que também<br />

marcam o caráter dos lugares.<br />

Algumas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> simplificação, no entanto, <strong>de</strong>vem ser sublinhadas. Nos lugares,<br />

especialmente nas cida<strong>de</strong>s, a ocorrência <strong>de</strong> encontros é muito maior. Se, por um lado,<br />

o encontro é uma manifestação da socialida<strong>de</strong>, assim como uma expressão <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> fortalecimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> ambiências <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, por outro<br />

lado, po<strong>de</strong> ser visto e interpretado a partir <strong>de</strong> processos contrários que parecem dotar o<br />

quadro <strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong>: a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontro é também a do <strong>de</strong>sencontro<br />

e da alterida<strong>de</strong>. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da interpretação, os lugares são a expressão do<br />

mundo feito da vida <strong>de</strong> aproximações e <strong>de</strong> estranhamentos. Tais observações po<strong>de</strong>m ser<br />

vistas, ainda, como uma indicação da natureza híbrida dos conceitos i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e cotidiano.<br />

Na vida cotidiana dos lugares, o partilhar e o dividir estão mais presentes como<br />

possibilida<strong>de</strong>, assim como a própria alterida<strong>de</strong>.<br />

A vida cotidiana dos lugares é uma fábrica <strong>de</strong> aproximações, estranhamentos, emoções,<br />

afetivida<strong>de</strong>s, subjetivida<strong>de</strong>s. A vida cotidiana nos lugares, por sua vez, faz emergir<br />

o que é comum, <strong>de</strong>senvolvido pela comunicação entre os sujeitos da vida, fortalecido pelos<br />

laços <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. A dimensão espacial do cotidiano, tal como a ela se referiu Milton<br />

Santos (2002), está repleta <strong>de</strong>sses laços <strong>de</strong> coexistência e, especialmente, do que po<strong>de</strong> ser<br />

compreendido como cooperação e conflito. Os lugares contêm o mundo e, por isso,<br />

são a sua expressão. A rua da cida<strong>de</strong> é a rua do mundo. 22 Nela os indivíduos po<strong>de</strong>m se<br />

encontrar, mas também po<strong>de</strong>m não se reconhecer.<br />

22<br />

Milton Santos (2005, p. 170) fala-nos das possíveis<br />

respostas dos lugares, en<strong>de</strong>reçadas ao<br />

mundo: “A or<strong>de</strong>m global busca impor, a todos<br />

os lugares, uma única racionalida<strong>de</strong>. E os lugares<br />

respon<strong>de</strong>m ao mundo segundo os diversos<br />

modos <strong>de</strong> sua própria racionalida<strong>de</strong>”.<br />

Belo Horizonte 02(1) 7-21 janeiro-junho <strong>de</strong> 2006<br />

Cássio Eduardo Viana Hissa Rosana Rios Corgosinho<br />

Geografias<br />

ARTIGOS CIENTÍFICOS<br />

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