Revista edicao #2. - IGC - Universidade Federal de Minas Gerais

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mentos finos (textura areia, silte e argila), os quais são transportados fundamentalmente em suspensão. Entretanto, o aumento de sólidos em suspensão aumenta também a turbulência das águas e a ruptura do equilíbrio das células hídricas convectivas que fazem parte da dinâmica própria dos canais. Por outro lado, parte da carga sedimentar em suspensão passa, sob condições de baixa energia, a ser depositada e a contribuir para a formação e o crescimento de barras de canal que marcarão o processo de assoreamento. Na realidade brasileira atual, diversos cursos d’água vêm sofrendo processos de assoreamento que têm levado a mudanças nos padrões fluviais. Canais tipicamente meandrantes passam, com a intensidade dos impactos, a apresentar padrão e comportamento hidrológicos que tendem ao entrelaçado, inclusive na região estudada (MAGALHÃES JÚ- NIOR, 1994). artigo recebido abril/2006 artigo aprovado julho/2006 Considerações finais Os resultados comprovaram que o eucalipto, na forma em que é cultivado e explorado em Caeté, contribui diretamente para a aceleração de processos erosivos nas encostas (erosão laminar) e para a degradação da qualidade da água naquele município. As florestas homogêneas de eucalipto, apesar de sua importância econômica, precisam ser monitoradas a fim de se controlar a perda de solos por erosão acelerada. Muitas vezes vistas como eficientes coberturas vegetais, fato derivado de sua homogeneidade e densidade de cobertura, as florestas de eucalipto nem sempre apresentam adequada proteção do solo, pois as taxas de erosão variam durante os ciclos de plantio e crescimento. A manutenção apenas da mata ciliar no período de corte da madeira mostra-se ineficiente para o controle dos processos erosivos na área investigada. A remoção da cobertura vegetal e da cobertura morta (liteira) tem efeitos diretos na erosão laminar e mesmo no surgimento de sulcos erosivos que podem levar ao aumento da turbidez e ao assoreamento de cursos d’água. Deve-se ponderar, entretanto, que fora do período de corte do eucalipto no município, a silvicultura tem sido a atividade econômica menos impactante sobre os cursos d’água locais, considerando-se os processos de poluição e assoreamento (SALGADO; VALADÃO, 2002, 2003; SALGADO; VALADÃO; NEEF, 2003). Tal fato indica que essa atividade econômica, desde que feita com técnicas adequadas como, por exemplo, a preservação parcial da floresta no período de corte, constitui, em termos de erosão de solos nas condições investigadas, uma alternativa econômica para o município. Como ficou claro nos objetivos do trabalho, não se pretendeu abordar outros possíveis impactos ambientais derivados da silvicultura do eucalipto, mas os estudos realizados podem contribuir para a integração de informações no sentido de alertar o poder público e a sociedade civil sobre a necessidade de reflexão e ponderação no fomento e desenvolvimento de atividades econômicas, cujos impactos ambientais não podem ser analisados isoladamente. Questões relativas aos eucaliptais, como a redução da biodiversidade e o desequilíbrio na dinâmica hidrológica de encostas, têm sido significativamente discutidas no meio acadêmico/científico, mas estudos sobre seus impactos no desequilíbrio das taxas de erosão ainda são raros. 56 Geografias Belo Horizonte 02(1) 47-57 janeiro-junho de 2006 ARTIGOS CIENTÍFICOS Impactos da silvicultura de eucalipto no aumento das taxas de turbidez das águas fluviais
Agradecimentos Ao SAAE de Caeté, em especial aos seus diretores Bernardo Mourão Vorcaro e Benedito Eufrásio de Castro e à técnica-química Raimunda Cecília dos Reis. À Profa. Dra. Magda Luzimar de Abreu e ao Aeroporto da Pampulha pelos dados pluviométricos. Ao mestrando Alexandre Abreu pela confecção dos mapas. Referências ALVES, E. E. Análise dos impactos ambientais gerados pelo uso e ocupação do solo na qualidade dos recursos hídricos das bacias dos ribeirões Juca Vieira e Ribeiro Bonito. 2001. 54 p. Monografia (Graduação em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001. BRAGA, P. I. S.; GRANDI, T. S. M. Botânica da Serra da Piedade. In: CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais. Serra da Piedade. Belo Horizonte: CEMIG, 1992. p. 98-111. BUENO, M. E. T. Geografia da Serra da Piedade. In: CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais. Serra da Piedade. Belo Horizonte: CEMIG, 1992. p. 56-75. LAMBERT, R. Geographie du cycle de l’eau. Paris: Presses Universitaires du Mirail, 1996. 435 p. MAGALHÃES JÚNIOR, A. P. Impactos ambientais em sistemas fluviais: a mudança no padrão de sedimentação do Rio das Velhas na Região de Belo Horizonte – MG. Caderno de Filosofia e Ciências Humanas, Belo Horizonte, n. 3, p. 39-47, 1994. PÔSSA, J. A água já é o recurso estratégico n° 1. Revista do Legislativo, Belo Horizonte, n. 7, p. 5-11, 1994. SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Caeté. Relatório técnico anual. Caeté: SAAE, 1997. 65 p. SALGADO, A. A. R.; VALADÃO, R. C. Diagnóstico ambiental, zoneamento ecológico-econômico e plano de manejo ambiental da APA do ribeirão Ribeiro Bonito: relatório técnico. Belo Horizonte: IGC/UFMG, 2002. 67 p. SALGADO, A. A. R; VALADÃO, R. C. Diagnóstico ambiental, zoneamento ecológico-econômico e plano de manejo ambiental da APA Águas Serra da Piedade: relatório técnico. Belo Horizonte: IGC/UFMG, 2003. 38 p. SALGADO, A. A. R; VALADÃO, R. C; NEEF, H. Zoneamento ambiental e plano de manejo da bacia do ribeirão Ribeiro Bonito, Caeté/ MG. Revista Geo UERJ, Rio de Janeiro, 2003. Edição especial. SALGADO, A. A. R. et al. Relação entre uso e ocupação do solo e qualidade das águas superficiais de bacias hidrográficas na Serra da Piedade/MG. Revista 7 Faces, Itabira, n. 5, 2004. No prelo. Belo Horizonte 02(1) 47-57 janeiro-junho de 2006 André Augusto Rodrigues Salgado Antônio Pereira Magalhães Júnior Geografias ARTIGOS CIENTÍFICOS 57
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