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O Movimento de Mulheres e os Novos Espaços Institucionais Estatais<br />
Estas são questões refleti<strong>da</strong>s por conselheiras, tanto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil como do<br />
governo; em especial, as representantes <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Mulher. Mas os dilemas inerentes ao<br />
problema ain<strong>da</strong> não foram resolvidos. A maioria <strong>da</strong>s mulheres ent<strong>revista</strong><strong>da</strong>s acredita que cabe à<br />
Secretaria a melhor preparação do conjunto de conselheiras, a fim de potencializar as ações do<br />
CMDM. Este é o caso de E. C., que abor<strong>da</strong> a proposta com mais objetivi<strong>da</strong>de em sua fala:<br />
Eu acho que é de grande responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Mulher estar<br />
discutindo com as conselheiras, com quem participa do Conselho, o<br />
necessário desatrelamento e a necessária autonomia que o Conselho tem<br />
que ter diante do governo. Não é um conselho do governo. É um conselho<br />
do qual participam pessoas... é paritário, participam pessoas do governo,<br />
mas é um conselho que tem que ter a sua autonomia e a sua independência,<br />
o que não tem, não tem mesmo, ninguém prova para mim que tem. (...) O<br />
conselho tem que ser autônomo, independente, tem que elogiar o prefeito ou<br />
o governo quando ele acerta, tem que cacetear, exigir, criticar, quando for<br />
necessário. Um conselho acéfalo que tem medo de criticar o governo e que<br />
tem medo de colocar as suas posições não é conselho, conselho é<br />
instrumento de democracia, e não um instrumento para ser usado de acordo<br />
... ao bel prazer do interesse do governo. É isso que tá acontecendo com o<br />
Conselho <strong>da</strong> Mulher, acontece com os outros conselhos ... de modo geral (E.<br />
C. – CEM e CMDM).<br />
22<br />
R<br />
E<br />
V<br />
I<br />
S<br />
T<br />
A<br />
No entanto, esta é uma alternativa muitas vezes ingênua, pois implica que a Secretaria<br />
deveria desencadear uma ação que resultaria na redução do seu poder dentro do Conselho. A<br />
rigor, seria isto possível por parte de quem detém os instrumentos de poder? Em virtude <strong>da</strong>s características<br />
<strong>da</strong> Secretaria, com sua composição de especialistas burocratas e, muitas vezes, sob a<br />
liderança de mulheres sem vínculo anterior com os movimentos de mulheres, muito menos com o<br />
feminismo, creio ser esta uma possibili<strong>da</strong>de remota. Não se trata de atribuir uma política maniqueísta<br />
à SEM, mas também não se pode desprezar os empecilhos impostos pela lógica estatal.<br />
Diferentemente desta expectativa, creio que as iniciativas pró-autonomia do Conselho<br />
devam partir <strong>da</strong>s próprias mulheres do Conselho, preferencialmente <strong>da</strong>quelas sem vínculos<br />
com a Secretaria. Isto é, <strong>da</strong> mesma forma que o conjunto <strong>da</strong> administração precisa ser pressionado<br />
para responder às deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mulheres, a Secretaria também precisa de pressão para reduzir<br />
seu domínio no Conselho.<br />
A conseqüência desta forma de atuação do Conselho e de relação com a Secretaria<br />
é percebi<strong>da</strong> na avaliação que as mulheres <strong>da</strong>s OCFs fazem a respeito dos dois órgãos. Das<br />
nove ent<strong>revista</strong><strong>da</strong>s, cinco não identificam diferenças entre os dois órgãos, sendo que duas destas<br />
disseram não conhecer ativi<strong>da</strong>des específicas do Conselho. Por outro lado, e, em parte em decorrência<br />
desta indistinção, cinco <strong>da</strong>s nove ent<strong>revista</strong><strong>da</strong>s julgam que a Secretaria é mais importante<br />
que o Conselho. Esta é uma situação que reduz a importância dos espaços de participação direta,<br />
no caso o Conselho, o que compromete o potencial democratizador <strong>da</strong> proposta.<br />
Acompanhando o cotidiano do Conselho, a impressão que se tem, via de regra, é<br />
de que as conselheiras “delegam” à Secretaria a tarefa de conduzir os trabalhos e propor ações.<br />
Trata-se do mesmo risco <strong>da</strong> delegação do movimento aos instrumentos estatais, como apontado<br />
por Eva BLAY (1999), mas, desta vez, ocorrendo dentro do próprio Conselho, que, a rigor, é o<br />
instrumento estatal. O fato de muitas <strong>da</strong>s conselheiras “delegar” à SEM a tarefa de condução do<br />
Conselho reforça um formato de participação passiva. Este é um quadro que envolve representan-<br />
TERRA E CULTURA - Nº 44 - Ano 23 - Jameiro a Julho 2007