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só se relaciona com o filme se sua concepção for fiel à vida,<br />
mais afetivo que intelectual. Para atingir as pessoas a arte deve<br />
mergulhar profundamente em sua essência, tentar reconstruir<br />
a estrutura viva de suas conexões interiores. Sinceridade, honestidade<br />
e mãos limpas. Dizer às pessoas sobre nossa existência<br />
comum através da nossa própria experiência e compreensão.<br />
Tentar estabelecer os vínculos que ligam as pessoas além da<br />
carne, laços que nos conectam com a humanidade e com tudo<br />
que nos circunda. Em seu manifesto “Estética do Sonho”,<br />
Glauber afirmou que a existência não se sujeita a conceitos filosóficos<br />
e que a arte revolucionária deveria enfeitiçar o homem<br />
para que ele não suportasse mais viver na realidade absurda.<br />
A revolução é uma mágica porque é o imprevisto dentro<br />
da razão dominadora. Uma estética do eterno movimento humano<br />
em busca de sua integração cósmica.<br />
O que nomeamos afetivamente de Cinema de Garagem<br />
ainda resiste dentro da genealogia experimental e poética dos<br />
nossos antepassados, das tradições xamânicas e subversivas<br />
dessas “estéticas do sonho”. Não apenas por seus aspectos econômicos,<br />
mas também por suas características estéticas, éticas<br />
e políticas. Um cinema de hibridismos, de dramaturgias mínimas,<br />
de caminhos intransponíveis, de resistência, de amores<br />
possíveis, de solidão, de desconstrução do cotidiano, de rompimento<br />
com muros e correntes, de conciliação com a morte e o<br />
cosmos, de sonhos lúcidos.<br />
Texto livremente inspirado nas obras de Andrei Tarkovsky,<br />
Carl Jung, Gilles Deleuze, Glauber Rocha, Peter Lamborn Wilson,<br />
Sigmund Freud e Walter Benjamin.<br />
Belo Horizonte, inverno de 2014<br />
Delllani Lima<br />
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