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mais fortes, critérios de correspondência que vinculassem ao<br />

cinema o tropicalismo. A partir sobretudo de trabalhos universitários,<br />

além da maturação de um debate sobre a alegoria,<br />

enxerga-se uma pertinência mais substantiva, para além do<br />

traço mais óbvio, temático, das cores berrantes, gestos exuberantes,<br />

personagens extravagantes. Isto de perceber a presença<br />

do tropicalismo em filmes dá-se facilmente desde o seu imediato<br />

surgimento, e batismo, com o conhecido artigo de Nelson<br />

Motta, dado que se disseminavam comportamentos, e a<br />

paisagem humana do país emprestava (e tomava emprestado)<br />

tons da nova postura. Estridências hiperbólicas apresentavam-<br />

-se, inopinadas. E o cinema as captou, realista ou não. Todavia<br />

podiam bem ser evidências mais gerais do pop, do iê-iê-iê, da<br />

contracultura, do desbunde – sem qualquer especificidade tropicalista,<br />

em sua gramática própria.<br />

Mas existiria então uma gramática própria? O que seria,<br />

afinal, um cinema tropicalista? Com a distância que temos a<br />

tarefa ficaria mais fácil. Mas isso traz também um risco. O fato<br />

é que em retrospecto não contamos com muito debate crítico<br />

interessado em explicar as correlações entre cinema e tropicalismo.<br />

A nosso ver, somente com as variantes fílmicas da forma<br />

alegórica sobre os momentos mais expressivos da nossa cinematografia<br />

moderna, propostas pela análise de Ismail Xavier 2 ,<br />

começa a se alicerçar o terreno sobre o qual o cinema e as outras<br />

manifestações nomeadamente tropicalistas podem se<br />

comparar de modo claro. A filmografia brasileira dos anos 60<br />

e 70 em sua inclinação moderna, vanguardística ou experimental,<br />

possui uma complexidade que requeria e requer até<br />

hoje análise e estudos aprofundados. Refletindo sobre o seu<br />

percurso de crítico, Jean-Claude Bernardet dizia em 1978 que a<br />

omissão da crítica sobre os filmes do Cinema Marginal, que<br />

eram pouco compreendidos, mas alvo de predileção e debates<br />

apaixonados, deve-se sobretudo à falta de instrumental de<br />

2 Allegories of undervelopment: From the æsthetics of hunger to the æsthetics of<br />

garbage. Nova York: NYU [tese de doutorado], 1982. Alegorias do subdesenvolvimento:<br />

Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal. São Paulo: Brasiliense,<br />

1993.<br />

Rubens Machado Jr.<br />

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