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que faz uma desorganização de lugares, para embaralhar dentro<br />

e fora, centro e periferia.<br />

Em um universo onde são necessários passaportes para<br />

cruzar os limites impostos, desfazer o centro pode ser o ato<br />

extremo de imagens que resistem ao estabelecimento de regras.<br />

São visualidades que irrompem como recusa a um mundo anterior,<br />

a uma lógica que seja irradiada de um ponto único, a<br />

um paradigma que estipula quem sai e quem fica. Não se trata<br />

aqui de resposta a uma situação social, não se trata de um movimento<br />

meramente reativo. Uma prática de injustiça é posta<br />

em tensão com figuras inventadas na ficção cinematográfica.<br />

É um gesto de cinema produtivo. E é sempre de forma bastante<br />

complexa que isso se dá, porque colocar-se na dicotomia seria<br />

justo mera afirmação dos lugares a todo instante já organizados<br />

pelo campo do instituído. O enfrentamento do filme<br />

se processa não como simples polarização com o que estaria<br />

antes, mas como geração de novas camadas ao mundo, uma<br />

maneira de torcer um mapa restrito de possíveis e apontar para<br />

a produção de outros lugares a partir das fabulações dos povos.<br />

A repressão sempre tem um perfil estabelecido, a ela interessa<br />

demarcar, isolar, e então mutilar as diferenças. A cavalaria<br />

quer atropelar, quer sufocar. A luta é entre a vida e as forças que<br />

investem no desaparecimento. E assim o filme vai constituir<br />

uma luz que elabore outras visibilidades dos homens na cena,<br />

inventar um ritmo de montagem que perceba as variações dos<br />

corpos populares, afirmar a ficção como constituinte de um<br />

entrelaçamento entre o vivido na experiência história e o movimento<br />

de elaboração de novas formas de vida.<br />

É que há uma potência muito própria do trabalho ficcional<br />

na elaboração das cenas, na pesquisa de dramaturgias, na organização<br />

dos personagens no espaço recortado pela câmera. Essa<br />

capacidade da ficção diz respeito ao trabalho de forjar situações<br />

em que o aparelho cinematográfico dispara um encontro que<br />

pode estar mais ou menos aberto ao risco, mas que ainda assim<br />

está pontuado por certa operação controlada das virtualidades,<br />

trabalhadas na dupla dinâmica do realizador que recorta e indica<br />

movimentos e dos atores que modulam no corpo as orientações,<br />

elaboram gestos e exprimem outras derivações do que es-<br />

66 Figuras do comum no cinema de garagem

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