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contempladas de um pós-guerra europeu, ou a arte deste e daquele<br />
realizador, e sua geração etc.<br />
Fundamental também é integrar ao panorama experimental<br />
como no de vanguarda o filme político, o agit-prop, o filme<br />
militante com frequência observadores daquele princípio básico<br />
atribuído a Maiakovski: não há conteúdo revolucionário sem<br />
forma revolucionária. Com isto, mesmo os mais “conteudistas”<br />
intuem que é preciso mexer com a forma também; a forma convencional,<br />
suspeita-se, não vai mexer muito com os conteúdos.<br />
Há aí uma vontade artística que se associa à vontade política,<br />
num encadeamento em que uma passa a exigir a outra, ainda<br />
que tardiamente, ainda que demore o tempo de uma maturação<br />
pessoal e coletiva do processo de trabalho criativo. A diferença<br />
conhecida dos filmes experimentais para com o restante dos<br />
filmes de esquerda feitos no país é notável. Entretanto a zona<br />
limítrofe entre um campo e outro não me parece muito fixa e<br />
estabelecida. Isto se deve de algum modo ao pouco interesse e<br />
mesmo pouco preparo da crítica para a discussão tanto do aspecto<br />
político quanto do formal e estético do nosso cinema<br />
mais experimental. A boa crítica, como disse Siegfried Kracauer,<br />
não é a que conhece só cinema, é a que conhece também<br />
o assunto dos filmes, exigindo uma formação dupla do analista:<br />
em arte e em sociedade. O cientista social ingênuo em estética e<br />
cinema não terá muito o que dizer sobre um filme experimental,<br />
mesmo que se interesse. Um crítico de cinema pode enquanto<br />
cinéfilo típico avaliar bem uma obra estilisticamente,<br />
mas pouco terá a dizer de um filme além de clichês sobre o ponto<br />
de vista político, histórico, psicológico etc. O filme experimental<br />
é aquele que tenta fazer aquilo que é potencialmente<br />
possível com o cinema mas que nenhuma prática está fazendo;<br />
aquilo que é potencial do cinema e ultrapassa ou surpreende os<br />
parâmetros com que a crítica está trabalhando.<br />
Um dos interesses centrais do cinema experimental tem<br />
sido o de fazer aquilo que interroga o que estamos fazendo; seja<br />
na sociedade; seja na própria atividade cinematográfica. Como<br />
definição provisória, estamos diante de algo que é difícil de se<br />
sair definindo, pois depende de circunstâncias singulares, depende<br />
do que está sendo praticado, é nesse caso uma questão<br />
88 Das vagas de experimentação desde o tropicalismo