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laboratório (Cinegráfica São Luiz). Fenelon só conseguiu continuar<br />

sua carreira como produtor independente porque se associou<br />

a estúdios e empresários. De resto, agia como a maior<br />

parte dos demais realizadores da época: produzindo filmes<br />

basicamente por meio de cotas de financiamento, o que poderia<br />

incluir não só a participação de empresários, comerciantes<br />

e amigos ricos como também exibidores e distribuidores (dentre<br />

eles, ironicamente, o próprio Severiano Ribeiro Júnior).<br />

Esse sistema de cotas, aliás, já era antigo nos anos 1950. Desde<br />

a década de 1920 vinha sendo posto em prática. Em alguma medida,<br />

faz lembrar o que ocorre hoje com os projetos financiados<br />

por crowdfunding: eram ações entre amigos. Claro que há diferenças<br />

marcantes entre os dois sistemas, a principal delas sendo o<br />

fato de que os sócios-cotistas de antigamente pelo menos tinham<br />

a expectativa de recuperar o dinheiro investido na bilheteria.<br />

Ação entre amigos, financiamento privado, contrato direto<br />

com distribuidores e exibidores... Em termos econômicos, essas<br />

são características que historicamente aproximam filmes,<br />

realizadores e propostas estéticas e políticas absolutamente diversas,<br />

no entanto identificadas, de uma forma ou de outra, à<br />

estratégia da produção independente. De Barro humano<br />

(Adhemar Gonzaga, 1929) a O preço de um desejo (Aloísio T. de<br />

Carvalho, 1952); de O Rei do Samba (Luiz de Barros, 1952) a<br />

Rio, 40 graus (Nelson Pereira dos Santos, 1955); de Thesouro<br />

perdido (Humberto Mauro, 1927) a A mulher de todos (Rogério<br />

Sganzerla, 1970); de Rua sem sol (Alex Viany, 1954) a Patty, a<br />

mulher proibida (Luiz Gonzaga dos Santos, 1979), os mecanismos<br />

financeiros que possibilitaram a existência concreta desses<br />

filmes não são assim tão distantes.<br />

Pode-se portanto definir a expressão “cinema independente”<br />

por um viés historiográfico, econômico, político ou mesmo<br />

estético e temático: é só lembrarmos dos debates em torno da<br />

produção independente, ocorridas durante a primeira metade<br />

dos anos 1950, no contexto dos primeiros Congressos Nacionais<br />

do Cinema Brasileiro, isso para não falar do antiindustrialismo<br />

da primeira fase do Cinema Novo dos anos 1960.<br />

Mas como pensar o “cinema independente” em meio ao cenário<br />

atual? Num momento em que a expressão “independente”<br />

Luís Alberto Rocha Melo<br />

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