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Das vagas de experimentação<br />
desde o tropicalismo: cinema e crítica.<br />
Rubens Machado Jr.<br />
“É possível conceber os frutos de um Tropicalismo,<br />
plural do singular, sem donos,<br />
sem heróis nem anti-heróis? Sem vítimas<br />
nem monumentos de papel no concreto<br />
desarmado? Sem auras do onipresente<br />
KAPITAL?” 1<br />
Há evidência suficiente de que o Tropicalismo levou mais longe<br />
o projeto moderno nas artes brasileiras, como se o completasse<br />
de uma postura crítica mais ampla e profundamente dialética,<br />
incorporando sem dogma um espectro de experiências<br />
sociais indefinidamente maior, ainda então indeterminado,<br />
talvez infinito. Esse espectro de experiências parecia envolver<br />
tudo, desde o que de mais nobre se almejasse, ainda que em<br />
chave distinta, derrisória ou irônica, até ao que de mais recalcado<br />
se percebesse ou de rebaixado se intuísse. Esta hipótese, a<br />
que várias almas vanguardistas estiveram desde lá sensíveis,<br />
incluindo Glauber Rocha, merece ser retomada com toda a<br />
vontade crítica e largueza espiritual possível; isto é, precisa ser<br />
tomada em sua própria medida.<br />
O moderno de vocação vanguardista se inicia no Brasil há<br />
quase um século nas artes plásticas, literatura, música e dança.<br />
Mas chegaria com mais de duas décadas de demora ao teatro.<br />
E ao cinema, só com mais duas décadas ainda, ali pela confluência<br />
dos anos 1950 e 1960. Talvez não tão diferente assim do<br />
resto do mundo, que registrava a agitação sísmica dos “novos<br />
cinemas” pela mesma época, em repercussões várias, sentidas<br />
como ecos amplificados do neorrealismo italiano, ressoantes<br />
desde o pós-guerra europeu, daquela barbárie uma espécie<br />
de epifenômeno, compartilhado em ondas concêntricas.<br />
1 Britto, Jomard Muniz de. “Poesia Interativa – o que é isto?”, in: Cyntrão, S. H. A<br />
forma da festa. Brasília: Ed. UnB, 2000, p. 112.<br />
Rubens Machado Jr.<br />
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