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com a ilusão, de que talvez eu mesmo fosse uma companhia para<br />
estas imagens e talvez para as pessoas que compartilhassem este<br />
encontro. O que fica, sobretudo, é o que pode uma relação?<br />
O que é uma relação? O que acontece depois do encontro?<br />
Pode uma vida ser feita só de encontros sem relações? A relação<br />
estaria no cotidiano e na regularidade, seja ela do viver junto<br />
no dia a dia ou em outras formas de ritos comuns, como encontros<br />
semanais? E a arte, se é um estado de encontro (Bourriaud),<br />
mais do que um encontro, ela é uma possibilidade, um<br />
convite que podemos aceitar ou recusar. Para além da estética<br />
relacional que privilegia obras processuais, intervenções e performances,<br />
em detrimento de objetos acabados, seria possível<br />
pensar um filme como criador de encontros e relações, não<br />
pelo que ele gera, na criação ou na sua recepção, numa sala,<br />
num cineclube, na internet, ao compartilhar opiniões sobre<br />
ele? Do que estaríamos falando? Se a obra cria sensações, ela<br />
poderia produzir encontros e relações singulares? Não estamos<br />
falando de qualquer obra de arte, mas aquelas que colocam no<br />
seu centro um desejo de comunidade, de coletividade, de pertencimento.<br />
Portanto, não é tanto que o/a realizador/a construa<br />
uma rede de diálogos em torno do filme, mas este se situe<br />
numa rede de afetos, sem ocupar um lugar central mas ainda<br />
sendo um lugar privilegiado, especialmente para os amantes<br />
das imagens, para aqueles que sem as imagens sua vida se tornaria<br />
mais pobre e solitária. O mundo da imagem, não como<br />
escape compensatório nem representação da realidade, mas<br />
como a possibilidade de outras sensações, afetos, mundos. Mas<br />
qualquer obra de arte teria esta potência a depender de quem a<br />
vê? Talvez sim, mas o desafio é como este vocabulário nos permitiria<br />
escolher um posição de fala como crítico que é também<br />
uma posição na vida.<br />
Ao encontrar estes filmes de realizadores, em grande parte,<br />
quinze, vintes anos mais jovens do que eu, fui seduzido, em<br />
parte pelos filmes, em parte pelos deslocamentos que estes filmes<br />
me produziram. Me aproximando dos cincoenta anos, os<br />
filmes me convidavam para um outro modo de vida que não<br />
fosse o do peso do trabalho, mas como não ser assim numa cidade<br />
de custos tão altos, como o Rio de Janeiro, em que mesmo<br />
52 De Volta à Orgia