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de como elaborar um plano, de como pensar a montagem e a<br />
dramaturgia dos corpos, de como articular tempos e espaços,<br />
de como também elaborar novos processos de criação, já distantes<br />
de lógicas esquemáticas e industriais de produção. São<br />
várias figuras do comum que poderiam, então, ser cartografadas,<br />
moduladas segundo forças próprias às estratégias de cada<br />
filme. O interesse aqui é investigar os gestos de cada filme na<br />
sua ponte com uma política do comum ou, ainda, com uma<br />
instância coletiva.<br />
Trabalhos de realizadores brasileiros recentes parecem buscar<br />
uma inscrição no mundo que tenta sair de uma postura isolada<br />
e partem para contágio com os seres filmados, com a cidade,<br />
com os amigos. Uma vontade de cinema talvez esteja<br />
imbricada a um desejo de encontro. Mas nem sempre se tratará<br />
de um encontro harmônico, nem serão encontros de uma mesma<br />
natureza. Também não se trata de um gesto conexionista,<br />
para retomar problematizações já desenvolvidas por Cezar Migliorin<br />
(2009), mas um acontecimento constituído como imagem<br />
e som, uma possibilidade de apontar na própria escritura<br />
fílmica para uma comunidade por vir. Seria, então, o comum da<br />
imagem, daí também destacar a noção de figuras do comum,<br />
multiplicadas e bifurcadas pelos realizadores, ora ressoando<br />
umas nas outras, ora também explorando veredas particulares.<br />
Também é vasta a quantidade de filmes que podem oferecer<br />
longas discussões a respeito do modo de operar a ponte entre o<br />
individual e o coletivo na cena fílmica: poderiam ser lembradas<br />
obras como Europa e Mauro em Caiena (2012), de Leonardo<br />
Mouramateus, Retrato de uma paisagem (2012), de Pedro Diógenes,<br />
Estrada para Ythaca (2010) e Os monstros (2011), de Guto<br />
Parente, Pedro Diógenes, Ricardo Pretti e Luiz Pretti, Avenida<br />
Brasília Formosa (2010), de Gabriel Mascaro, O céu sobre os ombros<br />
(2011), de Sérgio Borges e A cidade é uma só? (2011), de<br />
Adirley Queirós. Esses são filmes que destaco aqui, sabendo o<br />
quanto pode ser temerário reuni-los nesse conjunto tão diversificado.<br />
Mas, cabe insistir, não se trata de colocá-los juntos para<br />
aglutinar e fazer as diferenças desaparecerem, mas de ter em<br />
mente as proliferações que eles desencadeiam como gestos de<br />
cinema e formas de estar junto. São forças múltiplas e descen-<br />
60 Figuras do comum no cinema de garagem