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a pergunta que foi feita pelo Marcos é exatamente esta, há condições<br />
sustentáveis para grandes empreendimentos, leia-se usina de geração de<br />
energia, e sobrevivência de comunidades ribeirinhas, principalmente<br />
comunidades que vivem de pesca? Claro que uma comunidade ribeirinha não<br />
fala em ecossistema, esse termo ecossistema foi interpretação minha. Mas<br />
enfim, será que existe essa possibilidade? Conseguir conciliar as duas coisas?<br />
Uma vez que um grande empreendimento, como geração de energia, altera<br />
completamente o ciclo hidrológico, mudando o período das cheias, das<br />
vazantes, alterando a vazão, a qualidade de água, e isso traz um impacto que<br />
certamente o ecossistema aquático sofre os efeitos. Sofrem primeiro os peixes,<br />
que abandonam, ou que são dizimados pelas novas espécies que invadem seu<br />
habitat. Então, a comunidade de pesca da Baía do Iguape exigiu do governo,<br />
representada pelo Ministério Público, que alguma ação fosse feita, no momento<br />
em que está ocorrendo o processo de renovação da licença de operação da<br />
usina hidrelétrica. Então parou todo o processo e a universidade foi chamada<br />
para propor uma solução. Nós estávamos finalizando um outro estudo, sobre a<br />
vazão ambiental do rio São Francisco, onde a questão foi levantada por<br />
questionamento do comitê. No São Francisco foi estabelecida uma vazão<br />
mínima de 1.300 metros cúbicos por segundo, que muita gente pode achar que<br />
é uma vazão muito grande. De fato, este valor foi definido com objetivo de<br />
atender à navegação do rio, ao abastecimento humano em Juazeiro e cidades<br />
ribeirinhas, ao funcionamento das turbinas para geração de energia. Tudo isso<br />
resultando em menos cheia, menos variação de vazão, menos para o meio<br />
ambiente. Ou seja, a vazão ecológica do São Francisco não foi definida por<br />
critérios ecológicos. Historicamente, a vazão ecológica não tem sido definia por<br />
critérios ecológicos. O valor da vazão ecológica, ou vazão mínima, era<br />
geralmente definido com base em Q 7,10 ou em Q 90 , Q 95 . Quem sabe de onde<br />
vieram esses números? Eu estava conversando com a Manuela, ela dizia, sete<br />
dias de uma semana, ou 10, é um número redondo para vazão, ocorre uma vez<br />
a cada 10 anos, poderia ser uma vez a cada 15, ou a cada 50, mas ficou um<br />
número muito bonito, Q 7,10 , pronto. No caso do Q 90 poderia também ser Q 95 .<br />
Nós especialistas estabelecemos os números e depois acreditamos que com<br />
isso o ecossistema está preservado. Ficamos satisfeitos, vamos todos para<br />
casa, felizes. O Ministério Público tem um número para balizar seus processos