Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das polÃticas digitais
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2.2.2 – Na música<br />
Esta explicação da “Nova Objetivida<strong>de</strong> <strong>Brasil</strong>eira” se fez necessária<br />
para melhor enten<strong>de</strong>rmos as motivações que irão permear as experiências<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>das</strong> “<strong>tropical</strong>istas” em outros campos artísticos.<br />
Se as experimentações neoconcretas contribuíram para a formulação<br />
<strong>de</strong> uma teoria artística, foi graças à música e à indústria fo<strong>no</strong>gráfica<br />
que o Tropicalismo ganhou visibilida<strong>de</strong>. Em referência à obra homônima<br />
<strong>de</strong> Oiticica, é lançado em 1968 o álbum Tropicália – ou Panis<br />
et Circenses, trazendo logo <strong>no</strong> título uma crítica à socieda<strong>de</strong> brasileira<br />
que, a <strong>de</strong>speito da era <strong>de</strong>senvolvimentista, vivia sob uma política<br />
do “Pão e Circo” 72 . Neste álbum as composições <strong>de</strong> Caeta<strong>no</strong> Veloso,<br />
Gilberto Gil, Tom Zé, Capinam e Torquato Neto, acompanhados<br />
pelas belas vozes <strong>de</strong> Gal Costa e Nara Leão e da guitarra elétrica dos<br />
Mutantes, sob a orquestração <strong>de</strong> Rogério Duprat 73 marcam a MPB<br />
significativamente e propõem uma ruptura com a já consolidada “música<br />
engajada”. Sintetizando as experimentações musicais que vinham<br />
realizando <strong>de</strong> formas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, este álbum marcou a geração e<br />
foi um divisor <strong>de</strong> águas na discussão sobre música e engajamento.<br />
Neste sentido, os Festivais da Canção tiveram um importante<br />
papel para estes músicos em início <strong>de</strong> carreira. Foi em 1967<br />
que Gilberto Gil apresentou a canção “Domingo <strong>no</strong> Parque”,<br />
acompanhado do rock´n´roll <strong>de</strong> Os Mutantes, e Caeta<strong>no</strong> Veloso<br />
a canção “Alegria, alegria”, acompanhado do grupo <strong>de</strong> rock<br />
argenti<strong>no</strong> Beat Boys, lançando, <strong>no</strong> campo da música, a proposta<br />
<strong>tropical</strong>ista. No a<strong>no</strong> seguinte, a Tropicália já havia se consolidado<br />
enquanto “movimento” – muito em função da apropriação<br />
72 A política do pão e circo dizia respeito a uma tendência nacional-popular<br />
em contemplar “as massas” com entretenimento e políticas populistas, fazendo-a<br />
<strong>de</strong>ixar em segundo pla<strong>no</strong> os problemas políticos<br />
73 Duprat fazia parte do Movimento da “Música Nova”, que propunha a quebra<br />
do transcen<strong>de</strong>ntalismo na música a partir <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas experimentações estéticas<br />
e a integração do músico, enquanto profissional, <strong>no</strong> mercado fo<strong>no</strong>gráfico,<br />
motivações estas que muito se aproximavam da proposta <strong>tropical</strong>ista.<br />
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