22.11.2014 Views

Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das políticas digitais

Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das políticas digitais

Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das políticas digitais

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

É importante assinalar que tais categorias não são estanques,<br />

pois os bens simbólicos associados a uma são freqüentemente<br />

próximos à outra. Além disso, enquanto <strong>de</strong>finições, possuem um<br />

local <strong>de</strong> fala, reafirmando a cultura como arena <strong>de</strong> disputa social.<br />

Entretanto, ainda que o campo <strong>de</strong> produção cultural seja muito<br />

mais complexo do que estas <strong>de</strong>finições, esta divisão permite-<strong>no</strong>s<br />

observar a arte <strong>no</strong> que diz respeito não somente a sua produção,<br />

mas também a suas formas <strong>de</strong> uso. Assim, <strong>de</strong>ntro do campo <strong>de</strong> produtores<br />

artísticos e intelectuais – tanto da classe dominante quanto<br />

<strong>de</strong> tendências resistentes – observa-se um certo questionamento<br />

da funcionalida<strong>de</strong> da arte e da participação pessoal do artista<br />

em seu momento e espaço. Segundo Dufrenne:<br />

O artista tem conhecimento <strong>de</strong> que <strong>de</strong>tém um certo estatuto,<br />

que <strong>de</strong>sempenha – ou fazem-<strong>no</strong> <strong>de</strong>sempenhar – um<br />

papel, que não po<strong>de</strong> acreditar na neutralida<strong>de</strong> da arte a<br />

me<strong>no</strong>s que ig<strong>no</strong>re o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>das</strong> obras a partir do momento<br />

em que entram <strong>no</strong> circuito comercial, e talvez mesmo a sua<br />

gênese, quando ele pensa só estar seguindo sua fantasia ou<br />

só obe<strong>de</strong>cendo seu apelo. Então ele se sente responsável,<br />

não apenas pela obra que cria, mas pelo uso que <strong>de</strong>la é<br />

feito, os efeitos por ela produzidos. Perdida a i<strong>no</strong>cência,<br />

<strong>de</strong>nunciando o álibi: não faço política, é necessário que se<br />

tome partido, e não apenas como cidadão, mas como artista<br />

e, portanto, sem renunciar a sê-lo 117 .<br />

O processo <strong>de</strong> separação entre o material e o simbólico <strong>no</strong><br />

campo cultural está ligado à Revolução Industrial e a reação romântica<br />

por parte do artista (“rebel<strong>de</strong>”, “iso<strong>lado</strong>”) <strong>de</strong> liberar sua produção e<br />

seus produtos <strong>de</strong> toda e qualquer <strong>de</strong>pendência social – que até então<br />

estavam sob a tutela da aristocracia e da Igreja. Aracy <strong>de</strong> Amaral afirma<br />

que “<strong>no</strong> fundo, é o divórcio <strong>de</strong>cretado a partir do século XIX entre os<br />

117 Apud Amaral, 2003, p. 14.<br />

96

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!