Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das polÃticas digitais
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vir a “processar” sua produção <strong>de</strong> forma superficial, <strong>de</strong>stinando<br />
uma arte a princípio revolucionária para fins comerciais.<br />
Para Aracy <strong>de</strong> Amaral, muitas vezes esta apropriação da<br />
arte pelo sistema acontece com a conivência dos artistas por seu<br />
“neutralismo”, recusando-se a reconhecer ou aceitar seu papel<br />
<strong>de</strong> produtores <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo. Ou seja, a <strong>de</strong>speito da intencionalida<strong>de</strong><br />
ou não, explícita pelo produtor, a obra <strong>de</strong> arte é<br />
freqüentemente manipulada politicamente em seus estágios <strong>de</strong><br />
circulação (galerias, bienais, salões) e consumo 121 .<br />
Na América Latina, on<strong>de</strong> existiram e existem muitos partidos<br />
comunistas e socialistas tendo entre seus militantes artistas<br />
e intelectuais, este engajamento se dá a partir da percepção da<br />
distância entre o fazer artístico e a realida<strong>de</strong> social, em um continente<br />
com tamanho <strong>de</strong>snível social. Explica Aracy Amaral:<br />
Enquanto gran<strong>de</strong> parte da arte oci<strong>de</strong>ntal se preocupa com<br />
a experiência individual ou relações entre os sexos, a maior<br />
parte <strong>das</strong> principais obras da literatura lati<strong>no</strong>-americana<br />
e mesmo algumas <strong>de</strong> suas pinturas são muito mais preocupa<strong>das</strong><br />
com fenôme<strong>no</strong>s sociais e idéias sociais 122 .<br />
A busca pelo alcance social imediato da arte buscava na<br />
década <strong>de</strong> 60 incitar um grupo social à resistência, principal argumento<br />
da arte politizada produzida pelo CPC, e este aspecto<br />
didático da arte comprometida está conectado ao realismo soviético:<br />
revela uma força moral e i<strong>de</strong>ológica, um <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong><br />
consciência coletiva que fazia do trabalhador um herói. O i<strong>de</strong>al<br />
pregado por Zda<strong>no</strong>v – e claramente i<strong>de</strong>ntificado <strong>no</strong> projeto<br />
121 Amaral, 2003, p. 14.<br />
122 O muralismo mexica<strong>no</strong>, por exemplo, que atraiu a tenção dos artistas<br />
inquietos <strong>de</strong> todo o continente como Di Cavalcante e Portinari <strong>no</strong> caso do<br />
<strong>Brasil</strong>, i<strong>no</strong>vava ao fazer herói da arte monumental as massas, o homem do<br />
campo, <strong>das</strong> fábricas, <strong>das</strong> cida<strong>de</strong>s, e não mais os <strong>de</strong>uses, reis e chefes <strong>de</strong> Estado.<br />
(In: Amaral, 2003)<br />
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