Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das polÃticas digitais
Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das polÃticas digitais
Produção de Cultura no Brasil - O lado tropical das polÃticas digitais
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
mática do povo, da experiência do povo e, conseqüentemente, dos canais<br />
do povo, para, então ter acesso e po<strong>de</strong>r dialogar com eles, inserindo<br />
a questão política neste contexto (a exemplo <strong>de</strong> “Domingou”, <strong>de</strong><br />
Gil: “Hoje é dia <strong>de</strong> feira, é domingo, quanto custa hoje em dia o feijão?”)<br />
Dessa forma, a natureza dialética da Tropicália permitia o contato<br />
e a troca <strong>de</strong> experiências com a música engajada – tanto <strong>no</strong> nível<br />
da temática quanto <strong>de</strong> seus atores, como na música “Lunik 9”, <strong>de</strong> Gilberto<br />
Gil, gravada por Elis Regina, ícone da MPB, ou “Lindonéia”, <strong>de</strong><br />
Caeta<strong>no</strong> Veloso, gravada pela musa do show Opinião, Nara Leão.<br />
Heloísa Buarque <strong>de</strong> Hollanda, gran<strong>de</strong> pesquisadora da temática,<br />
afirma:<br />
“Nesse clima <strong>de</strong> fragmentação, <strong>de</strong>sagregação e contradições,<br />
a intervenção cultural do pós-<strong>tropical</strong>ismo se faz múltipla e<br />
polivalente: os produtores ‘atacam’ em várias frentes, diversificam-se<br />
profissionalmente. (...) ele [Caeta<strong>no</strong> Veloso] quer<br />
ocupar e intervir naquilo que chama <strong>de</strong> ‘cultura popular <strong>de</strong><br />
massa’. A TV, a <strong>no</strong>vela, as revistas kitch etc, são vistas como<br />
cultura, situações <strong>no</strong> sistema que <strong>de</strong>vem ser mexi<strong>das</strong>” 79 .<br />
Reconhecendo a importância da TV naquele momento<br />
para a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira, os <strong>tropical</strong>istas participaram<br />
diversas vezes do programa do Chacrinha, por exemplo.<br />
Dialogando com os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa e com<br />
outras tendências musicais – como o tão criticado “Iê iê iê” da<br />
Jovem Guarda 80 – a música <strong>tropical</strong>ista buscava ampliar o escopo<br />
da MPB, rompendo com os rígidos padrões fixados até então,<br />
propondo maior flexibilida<strong>de</strong> e experimentações.<br />
79 Hollanda, 1981, p. 71.<br />
80 Mas isso também não significava uma falta <strong>de</strong> visão crítica sobre a alienação<br />
<strong>de</strong> boa parte da juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> classe média, como na música “Hey Boy”,<br />
dos Mutantes: “Hey boy, mas teu cabelo tá bonito, hey boy, tua caranga até assusta,<br />
hey boy, mas você nunca fez nada”.<br />
79