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Após muita discussão no seminário<br />
"Estado, economia e saúde", promovido<br />
pela Universidade de Campinas no mês<br />
passado, chegou-se à "brilhante conclusão"<br />
de que só com a redução da remessa de divisas<br />
para o exterior para o pagamento dos<br />
juros da dívida externa, seria possível aumentar<br />
os investimentos e recuperar o sistema<br />
de saúde no Brasil.<br />
Quer dizer, um expressivo grupo de especialistas<br />
e técnicos em saúde não vislumbrou<br />
nenhuma luz no fim do túnel, para superação<br />
da dramática situação existente, limitando-se<br />
a constatar que, em 89, a América<br />
Latina remeteu 70 bilhões de dólares<br />
aos bancos internacionais, somente para pagamento<br />
dos extorsivos juros da dívida externa.<br />
Descompasso<br />
Enquanto isso, o Brasil investe 70 dólares<br />
anuais per capita em serviços de saúde,<br />
contra 170 dólares da Argentina, 350<br />
dólares do Canadá e 800 dólares da Itália. E<br />
o pior é que temos hoje 65 milhões de pessoas<br />
em condições de pobreza absoluta,<br />
conforme relatório recente do Núcleo de<br />
Istudos de Políticas Públicas, da Unicamp.<br />
nada menos de 45 milhões de pessoas<br />
(32% da população!) não tem acesso regular<br />
à assistência médico-hospitalar.<br />
Conseqüência de tudo isso é a precariedade<br />
dos serviços prestados pelo falecido<br />
lnamps: as filas da vergonha madrugada<br />
adentro, a situação de indigência da maioria<br />
dos hospitais e centros de saúde, tanto na<br />
órbita do poder público como na esfera privada.<br />
Paradoxalmente, por decisão de meia<br />
dúzia de tecnocratas, se apunhala pelas costas<br />
um sistema como o IPE, que em relação<br />
ao que se vê no Brasil pode ser considerado<br />
um serviço digno do primeiro mundo: marcação<br />
de consultas por telefone, ambiente<br />
higiênico, funcionários solícitos, médicos à<br />
disposição dos segurados e dependentes, em<br />
todas as especialidades, convênios com numerosos<br />
laboratórios e casas de saúde, etc.<br />
is<br />
Como foi<br />
Como chegamos a este ponto<br />
Tudo começou com uma simples portaria,<br />
do ex-ministro Jader Barbalho. A portaria<br />
n2 4.370, de 02/12/88. Se fosse uma lei<br />
do Congresso Nacional, pelo menos ela seria<br />
divulgada, debatida, as partes interessadas<br />
defenderiam os seus pontos de vista e talvez<br />
se chegasse a um resultado minimamente<br />
satisfatório. Como simples portaria, a decisão<br />
entrou em vigor imediatamente, sem<br />
qualquer contra-razões, afetando a vida de<br />
milhões de pessoas.<br />
Por aquela inusitada e esdrúxula portaria<br />
definiu-se que:<br />
a) as secretarias de Saúde promoveriam<br />
até 30/05/89 a reorganização de suas<br />
estruturas administrativas, de modo a<br />
viabilizar a absorção dos serviços até<br />
então confiados ao Inamps (com o<br />
agravante de que o atendimento médico-hospitalar<br />
via Inamps já havia<br />
sido universalizado, deixando de<br />
atender "apenas" os previdenciários,<br />
com carteirinha);<br />
b) esta reorganização daria prioridade à<br />
regionalização assistencial unificada e<br />
à municipalização; esta através da<br />
criação de distritos sanitários;<br />
c) o Inamps (hoje mero departamento do<br />
Ministério da Saúde) distribui mensalmente<br />
às secretarias de Saúde, lotes<br />
de autorização de internações<br />
hospitalares (AIHs), numeradas, de<br />
acordo com notas físicas de internações,<br />
aprovadas para cada Estado e<br />
incorporadas ao convênio Suds (Sistema<br />
Unico Descentralizado de Saúde);<br />
d) As secretarias de saúde são responsáveis<br />
pela distribuição de AIHs entre<br />
os diferentes prestadores de serviços<br />
assistenciais, bem como pelo recolhimento,<br />
conferência e autorização de<br />
processamento junto à Dataprev;<br />
e) A Dataprev processaria as AIHs e<br />
apresentaria ao Inamps a listagem dos<br />
pagamentos a serem efetuados pelo<br />
lapas, encaminhando cópia de seus<br />
relatórios às secretarias de Saúde<br />
(com a criação do INSS – Instituto<br />
Nacional de Seguridade Social, através<br />
de recente decreto do presidente<br />
Collor (por que não através de lei) o<br />
lapas e a Dataprev foram extintos,<br />
assim como o INPS);<br />
f) Os recursos são transferidos às secretarias<br />
de Saúde, para que efetuem<br />
os pagamentos;<br />
g) todas as modalidades de prestação de<br />
serviços assistenciais, incluído o credenciamento<br />
de prestadores privados,<br />
são objetos de convênios;<br />
i) as atividades de suprimento de medicamentos<br />
passaram a ser coordenadas<br />
pelas secretarias de Saúde, incorporando<br />
as antigas centrais de distribuição<br />
de medicamentos do Inamps.<br />
Elefantíase<br />
A simples leitura simplificada daquela<br />
portaria de triste memória, revela que em<br />
nome da descentralização dos serviços de<br />
saúde, se criou uma estrutura paquidérmica,<br />
empenada, superburocratizada, que só serviu<br />
para piorar ainda mais a situação existente,<br />
por impossível que isso possa parecer.<br />
Atribui-se agora aos estados falidos e<br />
aos municípios paupérrimos, a carga maior<br />
de responsabilidades na prestação de serviços<br />
que sempre couberam à União, e maiores<br />
encargos financeiros. E é em nome dessa<br />
"descentralização" que se pretende inviabilizar<br />
o IPE, construído e mantido exclusivamente<br />
com o dinheiro do funcionalismo;<br />
destruir o seu exemplar serviço de assistência<br />
médico-hospitala:- e odontológico.<br />
Instituição construída com o esforço do<br />
funcionalismo público do Paraná – como já<br />
foi dito anteriormente no ADEUS IPE 1, e<br />
que sempre prestou relevantes serviços de<br />
saúde ao pobre funcionário, através de médicos<br />
exemplares, de renome, farmácia farta<br />
... bons tempos, de administrações que efetivamente<br />
feiram administrações.<br />
O que estão fazendo com a saúde do<br />
funcionalismo público do Paraná Não. Não<br />
podemos concordar absolutamente com isso.<br />
Não se pode admitir que agora que o dito<br />
órgão passou a cobrar um percentual sobre<br />
o valor total dos vencimentos, deixe de<br />
prestar os bons serviços de assitência médica<br />
ao funcionalismo púolico.<br />
Tempos do IPE da Marechal Deodoro,<br />
806, ampliação de sua sede atual: orgulho<br />
do funcionalismo público na área da Saúde,<br />
tristemente vai morrer no descaso, e sem<br />
qualquer conotação de achar-se perto do<br />
Cemitério Municipal.<br />
A administração deve saber quais são as<br />
falhas, pois, após um trabalho árduo de funcionários<br />
hoje aposentados, e que mais precisam<br />
de assistência à saúde, simplesmente<br />
vai desaparecer.<br />
Amigo funcionário aposentado, o nosso<br />
reconhecimento pela grande obra que Você<br />
foi responsável por erigir, perdoa-nos por<br />
não conseguirmos tocar no coração endurecido<br />
daqueles que não dão devido valor ao<br />
esforço que Você fez em prol da comunidade<br />
do funcionalismo público.<br />
O nosso sistema de saúde é mercantilista,<br />
esquecido por pura conveniência.<br />
O Estado está pecando no atendimento à<br />
saúde do povo, direito proporcionado pela<br />
própria Constituição, Jato que jamais deve<br />
ser esquecido.<br />
O que temos visto na televisão e em toda<br />
a imprensa, são sofredores nos corredores<br />
de Hospitais, onde a assitência não é assistência,<br />
e onde a pessoa humana está perdendo<br />
a sua dignidade.<br />
Temos visto muita propaganda de serviços<br />
médico-hospitalares, em convênios e<br />
mais convênios. E o funcionário público (imaginem<br />
o professor), esse não tem condições<br />
de se filiar. Ah! pessoa humana! Está a<br />
perder a dignidade. Ah, funcionário público!<br />
Está a perder o IPE! de saudosa memória,<br />
da Marechal Deodoro, do prédio Novo que<br />
ainda é novo, da farmácia farta, que não é<br />
mais farta, do atendimento médico, que, ao<br />
que tudo indica, Você não vai ter. Ou se tiver,<br />
veja os exemplos da televisão. – Pobre<br />
gente sem saúde! Pobre povo! Pobre administração!<br />
(Transcrito de "Contato", jornal do S nclapol).<br />
ANO VIII N° AGOSTO/90