por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
As imagens<br />
também<br />
po<strong>de</strong>m ser<br />
entendidas<br />
como uma<br />
reflexão sobre<br />
o pós-11 <strong>de</strong><br />
Setembro<br />
exposição é quase a sentir que há<br />
uma felicida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sfazer-se, há um<br />
local que para mim começa a per<strong>de</strong>r<br />
interesse e finalmente só po<strong>de</strong>mos<br />
ter alguma verda<strong>de</strong> neste trabalho se<br />
o levarmos até às últimas consequências.<br />
O que <strong>de</strong>pois acontece à nossa<br />
vida já é indiferente.<br />
As fotografias po<strong>de</strong>m ser<br />
agrupadas tematicamente:<br />
morte, i<strong>de</strong>ologia, ruína, sexo<br />
e consumo são alguns dos<br />
assuntos abordados pelas<br />
imagens. Há, contudo, um<br />
que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar-se, até pela<br />
relação possível <strong>de</strong> estabelecer<br />
com alguns poemas <strong>de</strong> Ezra<br />
Pound, que é o da usura...<br />
Acabo sempre <strong>por</strong> voltar aos escombros<br />
da II Guerra Mundial, que é o<br />
ponto <strong>de</strong> partida da exposição. On<strong>de</strong><br />
estamos <strong>de</strong>pois do que aconteceu em<br />
1945? É pensar não só na reconstrução<br />
da Europa, mas também nas falhas<br />
dos sistemas, quer o capitalista, quer<br />
o comunista. Voltar a passar pelo<br />
genocídio da Bósnia e chegar à conclusão<br />
<strong>de</strong> que o crime perdura. A<br />
reconstrução não se vê. Há edifícios<br />
inacabados, cassetes que pingam sangue,<br />
i<strong>de</strong>ologias sem sentido. Sexo em<br />
casas <strong>de</strong> alterne, homens que discutem<br />
em bares. O neo-fascismo em que<br />
vivemos. O medo e o pânico. O terror<br />
global. No fundo, sermos prisioneiros<br />
da liberda<strong>de</strong> que nos tentaram ven<strong>de</strong>r<br />
e pela qual pagámos caro.<br />
Po<strong>de</strong>m ser estas imagens também<br />
entendidas como uma reflexão<br />
acerca do pós-11 <strong>de</strong> Setembro?<br />
Sem dúvida. O 11 <strong>de</strong> Setembro<br />
mudou tudo. É inevitável termos <strong>de</strong><br />
pensar que estamos num <strong>mundo</strong> no<br />
qual a procura da “felicida<strong>de</strong>” - que<br />
fez pessoas endividarem-se e comprarem<br />
viagens para irem para o Brasil<br />
<strong>de</strong>itarem-se <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> coqueiros<br />
a pensar ser era essa a solução - po<strong>de</strong><br />
ser <strong>de</strong>struída <strong>por</strong> um indivíduo com<br />
uma botija <strong>de</strong> gás e um <strong>de</strong>spertador,<br />
a viver algures, num apartamento<br />
sórdido. Nós tentamos viver, essa pessoa<br />
quer morrer. Como se po<strong>de</strong><br />
ganhar a luta contra tal tenacida<strong>de</strong>?<br />
Numa das fotografias da<br />
exposição há um puzzle on<strong>de</strong> se<br />
vê uma paisagem a que falta uma<br />
peça. Que peça é esta?<br />
Sou eu. O <strong>mundo</strong> é como é e, embora<br />
não consiga mudar a paisagem do<br />
puzzle, aquilo que ainda posso fazer<br />
é não me encaixar nela.<br />
Ver crítica <strong>de</strong> exposições pág. 29<br />
28 • Ípsilon • Sexta-feira 9 Janeiro 2009