por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
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Livros<br />
Edição<br />
“A Solidão dos Números<br />
Primos”, o primeiro<br />
romance do jovem<br />
escritor Paolo Giordano<br />
e “best-seller” em Itália<br />
(ven<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> um<br />
milhão exemplares),<br />
vai ser editado pela<br />
Bertrand e irá para<br />
¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente<br />
as livrarias <strong>por</strong>tuguesas<br />
a 23 <strong>de</strong> Janeiro. O autor,<br />
que nasceu em 1982, é<br />
licenciado em Física<br />
na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Turim e está a fazer o<br />
doutoramento em Física<br />
<strong>de</strong> Partículas, e vai estar<br />
em Portugal na primeira<br />
semana <strong>de</strong> Fevereiro. O<br />
livro venceu a 62ª edição<br />
do Prémio Strega e obteve<br />
uma menção honrosa<br />
na edição <strong>de</strong> 2008 do<br />
Prémio Campiello. Os<br />
direitos para adaptação ao<br />
cinema também já foram<br />
vendidos.<br />
Isabel<br />
Coutinho<br />
Ciberescritas<br />
Bem-vindo, 2009<br />
É provável que as<br />
tendências incluam<br />
livros <strong>de</strong> “memórias”<br />
escritos <strong>por</strong><br />
celebrida<strong>de</strong>s<br />
iRex Digital<br />
Rea<strong>de</strong>r<br />
http://www.<br />
irextechnologies.<br />
com/irexdr1000<br />
Plastic Logic<br />
http://www.<br />
plasticlogic.com/<br />
Apple<br />
http://www.<br />
apple.com/<br />
itunes/<br />
Oque esperar <strong>de</strong> 2009? Crise, crise, crise. Todos<br />
os dias aparecem notícias <strong>de</strong> cortes e<br />
<strong>de</strong>spedimentos em grupos editorais<br />
estrangeiros. Por cá, o que po<strong>de</strong>rá mudar no<br />
<strong>mundo</strong> editorial <strong>por</strong>tuguês? Dois gran<strong>de</strong>s<br />
grupos editoriais espanhóis - a Planeta e a Santillana - vão<br />
entrar no mercado. Quer um, quer o outro estão a organizar<br />
as suas equipas e vão começar a publicar as suas colecções<br />
<strong>de</strong> ficção e não-ficção durante este ano. Depois da<br />
concentração das editoras que aconteceu em Portugal (em<br />
2007 e se prolongou pelo ano passado) vamos estar todos a<br />
seguir com atenção o que a concorrência <strong>de</strong>stes grupos irá<br />
trazer (<strong>de</strong> bom ou <strong>de</strong> mau) ao mercado <strong>por</strong>tuguês.<br />
Que género <strong>de</strong> livros vão invadir as livrarias<br />
<strong>por</strong>tuguesas? É provável que as tendências incluam<br />
livros <strong>de</strong> “memórias” escritos <strong>por</strong> celebrida<strong>de</strong>s - tal<br />
como já aconteceu no mercado internacional. Des<strong>de</strong><br />
há dois, três anos, nas feiras <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong><br />
direitos, quer <strong>de</strong> Londres, quer <strong>de</strong> Frankfurt, que se<br />
negoceiam os chamados “misery books”, histórias<br />
da <strong>de</strong>sgraçadinha verda<strong>de</strong>iras, que estão a <strong>de</strong>morar<br />
a chegar cá. Alguns até já foram publicados e não<br />
ven<strong>de</strong>ram muito mas é provável que outros comecem<br />
a surgir e quem sabe se, finalmente, a vingar no nosso<br />
mercado.<br />
Com as eleições à <strong>por</strong>ta <strong>de</strong>verão surgir nas editoras<br />
<strong>por</strong>tuguesas biografias <strong>de</strong> políticos. É claro que o<br />
primeiro-ministro José Sócrates é o tema mais tentador.<br />
E haverá certamente livros sobre a crise e como lidar<br />
com ela pois essa foi a principal tendência da última<br />
Feira <strong>de</strong> Frankfurt, em Outubro. 2009 po<strong>de</strong>rá também<br />
ser o ano em que o novo romance <strong>de</strong> Dan Brown será<br />
publicado. O escritor tem que entregar o manuscrito ao<br />
seu editor e pelo que tem sido<br />
tornado público ainda não o<br />
fez. Talvez na Feira do Livro<br />
<strong>de</strong> Londres já se saiba se vai<br />
haver livro ou não.<br />
Logo nos primeiros dias<br />
<strong>de</strong>ste ano a empresa holan<strong>de</strong>sa<br />
iRex Technologies lançou<br />
um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitor <strong>de</strong><br />
e-Books, o iRex Rea<strong>de</strong>r 1000.<br />
Tem um ecrã maior do que<br />
o habitual, tem uma caneta que permite escrever no ecrã<br />
táctil e tem ligação <strong>de</strong> WIFI e Bluetooth. Este aumento<br />
do tamanho do ecrã po<strong>de</strong> ser seguido <strong>por</strong> empresas<br />
concorrentes que lançarão também novos mo<strong>de</strong>los.<br />
Lá para o final <strong>de</strong> ano a Plastic Logic <strong>de</strong>verá começar a<br />
comercializar o seu aparelho (ainda sem nome) que serve<br />
para ler livros em formato electrónico, jornais, revistas e<br />
outros documentos. Além <strong>de</strong> ser muito fino e leve, tem<br />
um ecrã maior que o dos leitores <strong>de</strong> livros electrónicos<br />
existentes e é também “touch screen” (no You Tube existem<br />
já ví<strong>de</strong>os com o protótipo e vale a pena ir ver).<br />
O seu ecrã <strong>de</strong> e-Ink (tinta electrónica) ainda não é a cores<br />
mas tem tudo para revolucionar o mercado. Ainda não<br />
se sabe quanto vai custar e em ano <strong>de</strong> crise, o preço será<br />
<strong>de</strong>cisivo. Este ano po<strong>de</strong>rão finalmente aparecer ecrãs <strong>de</strong><br />
e-Ink a cores mas só em 2012 é que esses mesmos ecrãs<br />
permitirão a visualização <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os. Tudo isso já está<br />
disponível num telemóvel.<br />
A verda<strong>de</strong> é que a Apple (com o iPhone e o iPod Touch)<br />
já fez mais pelos e-Books do que qualquer um <strong>de</strong>stes<br />
aparelhos. A prová-lo está o sucesso que durante 2008<br />
tiveram todas as aplicações que servem para ler livros<br />
nestes gadgets e os acordos que editoras norte-americanas<br />
já fizeram para lançar livros em formatos compatíveis. Têm<br />
uma vantagem sobre todos os outros: ecrã a cores e são<br />
aparelhos multifunções. Pertencem ao grupo dos objectos<br />
que você nunca quer esquecer quando sai <strong>de</strong> casa.<br />
isabel.coutinho@publico.pt<br />
(Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/<br />
ciberescritas)<br />
dizia o gran<strong>de</strong> surrealista, “o<br />
inimigo mortal da sentimentalida<strong>de</strong>”.<br />
Aliás, e <strong>por</strong> acasos bem objectivos,<br />
os “crimes” <strong>de</strong> Aub foram escritos e<br />
pela primeira vez publicados<br />
(primeiro dispersamente, <strong>de</strong>pois em<br />
volume, em 1957) no México, país que<br />
era ou foi para Breton a “terra<br />
prometida do humor negro”. Os<br />
acasos <strong>por</strong> que Max Aub foi parar ao<br />
México foram dois: o franquismo em<br />
Espanha e o nazismo em França.<br />
Falta-nos dizer que o “escritor<br />
espanhol e cidadão mexicano”, como<br />
Aub se auto-<strong>de</strong>finiu pelo final da vida,<br />
coleccionou nacionalida<strong>de</strong>s e exílios:<br />
filho <strong>de</strong> pai alemão e mãe francesa,<br />
nasceu em Paris; foi para Espanha<br />
com 11 anos, adquirindo a<br />
nacionalida<strong>de</strong> espanhola dois anos<br />
<strong>de</strong>pois (e também a língua, que fez<br />
sua); mas perdida a Guerra Civil (ele<br />
esteve do lado dos Republicanos)<br />
regressou a França, em 1939; foi preso<br />
e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><strong>por</strong>tado para a Argélia, <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> escapou em 1942, para o México,<br />
seu exílio final. Publicou algumas<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> livros (ficção narrativa,<br />
poesia, teatro, ensaio).<br />
“Crimes Exemplares” é o assassínio<br />
consi<strong>de</strong>rado como uma das artes<br />
fatais do quotidiano. Talvez uma<br />
questão <strong>de</strong> acaso e o<strong>por</strong>tunida<strong>de</strong>.<br />
“Matei-o <strong>por</strong>que tinha a certeza <strong>de</strong><br />
que ninguém me estava a ver” - conta<br />
um dos “criminosos” <strong>de</strong> Aub. Há<br />
muitas <strong>de</strong>srazões para assassinar e<br />
todas elas são (<strong>por</strong> assim dizer) boas,<br />
se não houver premeditação.<br />
Apresenta-se o livro, <strong>por</strong>tanto, como<br />
um catálogo <strong>de</strong> “confissões<br />
espontâneas” <strong>de</strong> assassínios ingénuos<br />
e até mesmo líricos, alguns,<br />
arrebatados, absurdos, risíveis,<br />
<strong>de</strong>spropositados. O livro, que tem<br />
variado quanto ao número <strong>de</strong> textos e<br />
respectiva or<strong>de</strong>nação, inventaria 87<br />
“crimes” na presente edição. O juízo,<br />
moral ou legal, que possa ir na palavra<br />
“crimes” é puro equívoco. O “bem”<br />
não tem morada certa: “Nunca vos<br />
apeteceu assassinar um cauteleiro<br />
quando eles começam a chatear e não<br />
largam, a suplicar? Eu fi-lo em nome<br />
<strong>de</strong> todos nós.” E uma outra voz<br />
pergunta-nos (supomos que<br />
retoricamente): “Nunca matou<br />
ninguém <strong>por</strong> tédio, <strong>por</strong>que não sabia<br />
o que fazer?” (o belo “acto gratuito”<br />
<strong>de</strong> tão alta ascendência literária). As<br />
citações evi<strong>de</strong>nciam a principal<br />
característica <strong>de</strong>stes textos: uma<br />
extrema brevida<strong>de</strong>, que obriga a<br />
uma narração secamente elíptica<br />
e como que indirecta. Estas<br />
micronarrativas <strong>de</strong> Aub<br />
<strong>de</strong>safiam as <strong>de</strong> Augusto<br />
Monterroso (ou o inverso).<br />
Cada uma <strong>de</strong>las, funcionando<br />
embora autonomamente,<br />
mantém alguma<br />
<strong>de</strong>pendência da<br />
macronarrativa do<br />
conjunto. Em alguns casos,<br />
a inter<strong>de</strong>pendência entre<br />
um texto e outro(s) é mesmo<br />
sublinhada pela or<strong>de</strong>m que<br />
assume no conjunto.<br />
“Crimes Exemplares”, <strong>de</strong><br />
Max Aub, já é (e ainda bem)<br />
um título clássico e recorrente<br />
(foi mais do que uma vez<br />
reimpresso) do catálogo da<br />
editora Antígona, que o publicou pela<br />
primeira vez há mais <strong>de</strong> um quarto <strong>de</strong><br />
século. Mas a presente e pródiga<br />
edição é uma novida<strong>de</strong>: vale também<br />
como objecto gráfico <strong>por</strong> assim dizer<br />
“exemplar”. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />
reprodução da edição feita em 2001<br />
em Valência, Espanha, pela Media<br />
Vaca, uma editora especializada em<br />
livros ilustrados e “atípicos”. O <strong>de</strong> Aub<br />
tem 32 ilustrações (uma <strong>de</strong>las sendo<br />
um retrato do autor) <strong>de</strong> outros tantos<br />
artistas espanhóis. E todas elas, notese,<br />
estão nas páginas ímpares.<br />
O contador<br />
<strong>de</strong> histórias<br />
Dezasseis pequenos contos<br />
revelam um contador <strong>de</strong><br />
histórias <strong>por</strong> vezes exímio.<br />
João Bonifácio<br />
Histórias Possíveis<br />
David Machado<br />
Presença, €10<br />
mmmnn<br />
Sem contar com os<br />
livros infantis que<br />
escreveu,<br />
“Histórias<br />
Possíveis” é a<br />
segunda obra <strong>de</strong><br />
David Machado,<br />
após um romance<br />
marcado pelo<br />
“fantástico”: “O<br />
Fabuloso Teatro do Gigante” era uma<br />
estreia feliz, mas fica abaixo da<br />
exactidão que <strong>por</strong> vezes Machado<br />
exibe neste “Histórias<br />
Possíveis”.<br />
Cortando a eito,<br />
diga-se que há<br />
dois contos <strong>de</strong><br />
excepção nos 16<br />
que compõem<br />
o volume: “O<br />
Mundo<br />
silencioso<br />
David Machado traz<br />
a narrativa <strong>por</strong> uma<br />
ré<strong>de</strong>a bem curta<br />
<strong>de</strong> Diamantino” e “Três memórias”.<br />
Há outros dois que nos parecem<br />
apenas simpáticos: “As viagens <strong>de</strong><br />
Dom Renato” e “O violinista”.<br />
Não é preciso muito para contar<br />
uma boa história e estas tomam mais<br />
tempo a recordar que a ler: têm todas<br />
a mesma dimensão, escassas cinco<br />
páginas (à excepção dos dois últimos,<br />
que têm nove), o que obriga a uma<br />
rara economia <strong>de</strong> linguagem, sageza<br />
na escolha da informação essencial e<br />
or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias - mais valias que<br />
Machado manifestamente possui,<br />
bem como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />
uma personagem num par <strong>de</strong> linhas.<br />
A sua escrita é pouco dada a piruetas e<br />
é parca em adjectivos, antes procura<br />
que o leitor se passeie pelas páginas<br />
sem cansar os olhos. Isto implica<br />
precisão e minúcia.<br />
Todos estes contos são narrados<br />
não <strong>por</strong> quem experienciou o que se<br />
conta, mas <strong>por</strong> quem assistiu aos<br />
factos à distância ou é próximo do<br />
protagonista, o que traz credibilida<strong>de</strong><br />
à narração, mas não diminui uma<br />
possível a<strong>de</strong>são emocional. Não sendo<br />
um livro <strong>de</strong> “fantástico”, vive <strong>de</strong>ssa<br />
ambiência e estas histórias são<br />
atravessadas pelo insólito. Em alguns<br />
casos este revela-se nos actos dos<br />
protagonistas (como o homem que<br />
procurava obsessivamente ser<br />
costurado em “A costura <strong>de</strong><br />
Clemente”), noutros é inexplicável<br />
(em “Zanga <strong>de</strong> padres” um homem<br />
compra um par <strong>de</strong> estatuetas, mas<br />
uma <strong>de</strong>las insiste em <strong>de</strong>saparecer).<br />
Venha o insólito <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vier, <strong>por</strong><br />
norma persiste, após a leitura, uma<br />
atmosfera <strong>de</strong> estranheza que se <strong>de</strong>ve,<br />
antes do mais, à própria escrita, que<br />
instala <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira linha um<br />
clima <strong>de</strong> suspense - sendo que o mais<br />
exímio exemplo <strong>de</strong>sse talento <strong>de</strong><br />
construção <strong>de</strong> ambientes encontra-se<br />
em “Sete gatos cagam às escuras”.<br />
Por norma, o facto que <strong>de</strong>termina<br />
os acontecimentos narrados é<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado pelo protagonista sem<br />
que este tenha consciência das<br />
consequências dos seus actos. É assim<br />
com a Bernardina <strong>de</strong> “A doce <strong>de</strong>sgraça<br />
<strong>de</strong> Bernardina dos Prazeres” que,<br />
após uma vida asceta, <strong>de</strong>scobre um<br />
prazer que a conduz à <strong>de</strong>sgraça. É<br />
assim com o Emílio <strong>de</strong> “Emílio, o<br />
negociador <strong>de</strong> amores”,<br />
homem para quem o amor<br />
era um comércio até ser<br />
exposto à falência do<br />
seu corpo. É assim<br />
com o Hél<strong>de</strong>r Vaz <strong>de</strong><br />
“Penélope” que passa<br />
43 anos à espera da<br />
morte da mulher,<br />
para <strong>de</strong>scobrir que<br />
o que pensara a<br />
seu respeito<br />
estava errado.<br />
Este sistema<br />
com<strong>por</strong>ta<br />
variações: o<br />
protagonista <strong>de</strong><br />
“Nada <strong>por</strong> nós,<br />
Caetano”, um<br />
rapaz cujo pai<br />
aspirava a ver o<br />
filho tornar-se<br />
em exímio<br />
nadador, <strong>de</strong>ixa a<br />
natação após<br />
32 • Ípsilon • Sexta-feira 9 Janeiro 2009