por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
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FOTOGRAFIAS A PRETO E BRANCO RETIRADAS DO LIVRO “J.M.G. LE CLÉZIO, VÉRITÉ ET LÉGENDES”, ÉDITIONS DU CHÊNE, PARIS 1999<br />
LUDOVIC CAREME/CORBIS<br />
Imagem <strong>de</strong><br />
Saint-Martin-<br />
Vésubie, on<strong>de</strong><br />
<strong>Le</strong> Clézio<br />
viveu, sentindo<br />
partilhar<br />
o <strong>de</strong>stino<br />
dos ju<strong>de</strong>us<br />
que aí estavam<br />
acossados<br />
O “L.A. Times” nem se esforçou. “<strong>Le</strong><br />
Clézio — quem é ele?”, foi a pergunta,<br />
em título, quando se soube que o Nobel<br />
da Literatura <strong>de</strong> 2008 ia para J.M.G. <strong>Le</strong><br />
Clézio. Por baixo, o editor <strong>de</strong> livros do<br />
jornal proclamava que não só não tinha<br />
lido <strong>Le</strong> Clézio como nunca ouvira o seu<br />
nome, garantindo que o mesmo se passava<br />
com vários ilustres das letras americanas,<br />
do National Book Award ao<br />
National Endowment for the Arts.<br />
Isto num suposto contexto <strong>de</strong> guerra<br />
fria entre a Aca<strong>de</strong>mia Sueca e os escritores<br />
americanos — como era possível Philip<br />
Roth não ganhar, enquanto o Nobel<br />
ia para um tal <strong>Le</strong> Clézio quase sem livros<br />
traduzidos em inglês, provavelmente<br />
fora do mercado?<br />
Demonstração <strong>de</strong> paroquialismo americano<br />
ou dos preconceitos da Aca<strong>de</strong>mia,<br />
o <strong>de</strong>bate seguiu para quem quis. Também<br />
houve quem visse nisto uma evidência<br />
<strong>de</strong> como a obra <strong>de</strong> <strong>Le</strong> Clézio se<br />
esquiva à or<strong>de</strong>m dominante.<br />
Convocado para uma conferência <strong>de</strong><br />
imprensa, o atordoado Nobel disse que<br />
não ia per<strong>de</strong>r tempo <strong>de</strong> escrita <strong>por</strong> causa<br />
do prémio, que <strong>de</strong> resto é dinheiro, ou<br />
seja tempo <strong>de</strong> escrita. Estava a escrever<br />
um novo livro e tencionava continuar.<br />
Em Dezembro cumpriu os seus compromissos<br />
suecos com um discurso <strong>de</strong><br />
tributo a quem o fez ser quem é,<br />
incluindo, nome a nome, muitos escritores<br />
<strong>de</strong> quem o editor do “L.A. Times”<br />
e boa parte do <strong>mundo</strong> literário em geral<br />
provavelmente nunca ouviram falar. E<br />
<strong>de</strong>pois a Gallimard começou a respon<strong>de</strong>r<br />
que “Mr. <strong>Le</strong> Clézio não vai dar qualquer<br />
entrevista”, como no mail ao Ípsilon.<br />
<strong>Le</strong> Clézio é o homem que durante três<br />
anos foi viver com os índios quando se<br />
cansou <strong>de</strong> escrever livros sobre a loucura<br />
nas cida<strong>de</strong>s. Viajou <strong>por</strong> todos os continentes,<br />
entre mares <strong>de</strong> piroga e <strong>de</strong>sertos<br />
a pé. Está com 68 anos, continua a viver<br />
uns meses em Nice (o lugar on<strong>de</strong> nasceu),<br />
uns meses no Novo México (o lugar<br />
que escolheu), uns meses na Maurícia (o<br />
lugar dos avós), <strong>de</strong> vez em quando na<br />
Bretanha (o lugar dos tetravós), e ainda<br />
recentemente viajou pela Oceania, <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> trouxe o maravilhoso “Raga” (tradução<br />
na Sextante).<br />
Que não perca tempo com trivialida<strong>de</strong>s<br />
pós-Nobel, nem perca as folhas <strong>de</strong><br />
papel Revolución em que escreve à mão,<br />
é o que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sejar os seus leitores,<br />
incluindo os <strong>por</strong>tugueses, que têm boas<br />
Diego Rivera e<br />
Frida Khalo, a<br />
quem <strong>Le</strong><br />
Clézio <strong>de</strong>dicou<br />
uma<br />
apaixonante<br />
biografia<br />
8 • Ípsilon • Sexta-feira 9 Janeiro 2009