13.03.2015 Views

por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa

por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa

por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Exposições<br />

“Bone Lonley”, Paulo Nozolino<br />

Contra<br />

mundum<br />

Trinta e duas imagens<br />

<strong>de</strong> resistência ao <strong>mundo</strong>.<br />

Óscar Faria<br />

Bone Lonely<br />

De Paulo Nozolino.<br />

<strong>Lisboa</strong>. Galeria Quadrado Azul - <strong>Lisboa</strong>. Largo dos<br />

Stephens, 4. Tel.: 213476280. Até 21/02. 3ª a Sáb. das<br />

13h às 20h.<br />

Fotografia.<br />

mmmmm<br />

<strong>Le</strong>mbremos a frase <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong><br />

“Quel Che Resta di Auschwitz”, livro<br />

escrito em 1998 <strong>por</strong> Giorgio Agamben:<br />

“Num campo, uma das razões para<br />

sobreviver, é a <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos<br />

tornarmo-nos uma testemunha.” O<br />

poeta Yitskhok Katzenelson, um dos<br />

gaseados nesse lugar infame, <strong>de</strong>ixounos<br />

em herança um texto intitulado<br />

“O Canto do Povo Ju<strong>de</strong>u Assassinado”,<br />

composto <strong>por</strong> versos escritos em<br />

yiddish, numa prisão para<br />

“personalida<strong>de</strong>s” situada em Vittel,<br />

entre 3 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1943 e 18 <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>de</strong> 1944. “Exterminaram-nos a<br />

todos sobre esta terra, do mais<br />

pequeno ao mais/ gran<strong>de</strong>,<br />

assassinaram-nos a todos” lê-se na<br />

última parte do poema (XV, “Depois<br />

do Fim”), que termina assim: “Não se<br />

amontoem numa bola <strong>de</strong> matéria para<br />

aniquilar os maus <strong>de</strong>ste <strong>mundo</strong>,<br />

<strong>de</strong>ixem-nos <strong>de</strong>struírem-se a eles<br />

próprios sobre esta terra!”<br />

Os escombros da II Guerra Mundial<br />

são o ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> “bone<br />

lonely”. A viagem proposta na<br />

exposição <strong>de</strong> Paulo Nozolino traduz o<br />

estado <strong>de</strong> incerteza que hoje se vive,<br />

mas essa inquietu<strong>de</strong> tem uma origem<br />

e essa é a do mal absoluto,<br />

simbolizado <strong>por</strong> Auschwitz - e no<br />

momento presente pelos<br />

acontecimentos em Gaza.<br />

Ninguém<br />

sobreviveu<br />

àquele lugar:<br />

cada um <strong>de</strong><br />

nós vive<br />

recluso <strong>de</strong><br />

uma época<br />

sem fim, na<br />

qual a barbárie<br />

continua a ditar,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o campo<br />

<strong>de</strong> concentração,<br />

a lei. Homens<br />

sós, resta-nos<br />

olhar e<br />

testemunhar esse<br />

crime sem legenda<br />

possível: <strong>por</strong> isso as<br />

imagens surgemnos<br />

na penumbra,<br />

numa linha<br />

contínua, sem data,<br />

nem geografia, ao<br />

contrário do que tinha<br />

acontecido até agora<br />

no percurso <strong>de</strong><br />

Nozolino. Captadas nos<br />

últimos trinta anos,<br />

estas fotografias,<br />

inéditas, procuram<br />

¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente<br />

A dança, como coreografia<br />

da sedução, sempre<br />

interesssou Picasso<br />

revelar silêncios, o não dito, o<br />

abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, a usura.<br />

Escutamos agora Ezra Pound,<br />

que, em 1942, recusou a permissão<br />

para ser evacuado, juntamente com<br />

alguns dos seus compatriotas, <strong>de</strong><br />

Itália para <strong>Lisboa</strong>. Ouvimos a sua<br />

“Voz da Europa”, uma das alocuções<br />

que o levaram a ser acusado <strong>de</strong> traição<br />

pelos Estados Unidos, tendo, <strong>por</strong> isso,<br />

sido internado no St Elizabeths<br />

Hospital for the Criminally Insane, um<br />

manicómio on<strong>de</strong> ficará mais <strong>de</strong> uma<br />

década e do qual só irá sair em 1958, já<br />

com setenta e dois anos. São palavras<br />

<strong>de</strong> um Pound fascista, transmitidas na<br />

Rádio Roma, a 28 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1942:<br />

“Até on<strong>de</strong> a minha memória chega, a<br />

América quis a diplomacia do dólar.<br />

Não ten<strong>de</strong>s quaisquer escrúpulos com<br />

a diplomacia do dólar, com essa<br />

penetração comercial a pretexto da<br />

expansão do domínio; faz agora<br />

quarenta anos, ainda eu não tinha o<br />

Dodge preto.” (in “Esta é a Voz da<br />

Europa”, Hugin Editores, <strong>Lisboa</strong>,<br />

1996).<br />

De um lado o campo <strong>de</strong><br />

concentração, do outro a expansão do<br />

domínio. E ainda há os totalitarismos<br />

e a pequenez da <strong>de</strong>lação. Ninguém<br />

está imune. Há o lixo que se amontoa.<br />

I<strong>de</strong>ologias ar<strong>de</strong>m: <strong>Le</strong>nine e Estaline,<br />

os carros parados, cobertos <strong>de</strong> neve<br />

americana, as chaminés sem fumo. A<br />

revolução industrial há muito que<br />

estagnou e o neo-liberalismo não tem<br />

saída, tal como do outro lado dos<br />

muros não há solução. Um homem<br />

está parado no meio <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>struição,<br />

“bone lonely.” Testemunha que “nada<br />

dura para sempre”; sente “a carne a<br />

envelhecer e prova a saliva seca na sua<br />

boca” (excertos da apresentação do<br />

livro que acompanha a exposição, a<br />

ser editado pela Steidl, em Maio <strong>de</strong>ste<br />

ano, com poemas em inglês <strong>de</strong> Rui<br />

Baião). Tenta resistir dando-nos a ver<br />

imagens <strong>de</strong>sse anunciado <strong>de</strong>stino,<br />

<strong>por</strong>que estas são também imagens <strong>de</strong><br />

guerra: “contra mundum”, elas<br />

<strong>de</strong>safiam qualquer crença aceite sem<br />

discussão.<br />

Tente-se o jogo da adivinha. São 32<br />

imagens a preto e branco colocadas<br />

numa sequência não cronológica,<br />

quase coladas umas às outras. O<br />

formato é pequeno. Sabe-se que<br />

foram captadas entre 1976 e 2008. A<br />

primeira mostra prédios em ruína:<br />

Londres após o Blitz, fotografia tirada<br />

no Imperial War Museum. A última<br />

revela uma re<strong>de</strong> em arame,<br />

pontiaguda nas pontas: mais ruínas,<br />

as do fórum romano, em Roma. Nada<br />

está <strong>de</strong> pé, contudo a história<br />

testemunha os acontecimentos: os<br />

impérios caíram, as i<strong>de</strong>ologias ruíram,<br />

os homens retiraram-se para uma<br />

noite que percorrem sem saberem<br />

muito bem <strong>por</strong>quê. Entre estas obras,<br />

há imagens <strong>de</strong> morte, <strong>de</strong> uma<br />

morgue, <strong>de</strong> funerárias, <strong>de</strong> mortos, <strong>de</strong><br />

prédios, <strong>de</strong> colchões, <strong>de</strong> tanques <strong>de</strong><br />

lavar a roupa, <strong>de</strong> um sem abrigo, <strong>de</strong><br />

um bar <strong>de</strong> alterne, <strong>de</strong> estreitos<br />

corredores, <strong>de</strong> graffitis, <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s<br />

sem saída, <strong>de</strong> sombras, <strong>de</strong> montras,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos. Angeiras e Sarajevo,<br />

<strong>Lisboa</strong> e Berlim. Não existe passado,<br />

nem futuro. Apenas tédio. E está tudo<br />

a ar<strong>de</strong>r, está tudo coberto <strong>de</strong> sujida<strong>de</strong><br />

nestas fotografias on<strong>de</strong> um único<br />

corpo se <strong>de</strong>spe para<br />

nós, <strong>de</strong> frente, oferecendo-nos<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sexo, sonhado <strong>de</strong><br />

encontro a um vidro on<strong>de</strong> a<br />

<strong>por</strong>nografia é vizinha <strong>de</strong> um<br />

esqueleto.<br />

“Cadáveres dispostos no banquete/<br />

às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> usura”, assim se po<strong>de</strong><br />

resumir, com recurso ao célebre canto<br />

XLV, <strong>de</strong> Ezra Pound, “bone lonely”.<br />

As bailarinas<br />

<strong>de</strong> Picasso<br />

Picasso y la Danza<br />

CASCAIS. Fundação D. Luís I. Centro Cultural <strong>de</strong><br />

Cascais. Av. Rei Humberto II <strong>de</strong> Itália. De 3ª a<br />

domingo, das 10h às 18h. Até 11 <strong>de</strong> Janeiro.<br />

mmmmn<br />

Está já nos últimos dias a exposição<br />

que a Fundação D. Luís I <strong>de</strong>dicou à<br />

obra <strong>de</strong> Picasso que tem <strong>por</strong> temática<br />

a dança: não apenas as gravuras que<br />

realizou durante os últimos anos da<br />

sua vida, mas também os cenários e<br />

figurinos feitos para bailados. Esta é<br />

uma exposição que se teve a sua<br />

origem no núcleo <strong>de</strong> múltiplos<br />

pertencentes à fundação Bancaja, <strong>de</strong><br />

Valência, que já tem colaborado com a<br />

instituição <strong>de</strong> Cascais em outras<br />

ocasiões. Para os <strong>por</strong>tugueses é a<br />

o<strong>por</strong>tunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usufruírem uma<br />

obra gráfica única e exemplar, tanto<br />

plástica como tecnicamente.<br />

O interesse <strong>de</strong> Picasso pela dança<br />

manifesta-se cedo, em <strong>de</strong>senhos e<br />

esboços realizados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1899. Mas é<br />

em 1917, quando recebe um convite <strong>de</strong><br />

Diaghilev para realizar figurinos e<br />

telões para “Para<strong>de</strong>”, bailado <strong>de</strong> Jean<br />

Cocteau e Léoni<strong>de</strong> Massine, com<br />

música <strong>de</strong> Satie, que surge a primeira<br />

o<strong>por</strong>tunida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>senvolver um<br />

projecto específico nesta área. Nos<br />

anos seguintes, sempre com Diaghilev,<br />

trabalha para “<strong>Le</strong> Tricorne”,<br />

“Pulcinella”, “<strong>Le</strong> Train Bleu” e muitos<br />

outros. Diaghilev, empresário dos<br />

Ballets Russes, sabia captar a<br />

colaboração dos artistas seus<br />

contem<strong>por</strong>âneos para uma i<strong>de</strong>ia da<br />

dança que se afastava do bailado<br />

romântico sem hipótese <strong>de</strong> retorno.<br />

Picasso foi um <strong>de</strong>les.<br />

A exposição revela justamente<br />

reproduções do telão pintado para<br />

“<strong>Le</strong> Tricorne” (juntamente com um<br />

filme que apresenta excertos do<br />

bailado) e <strong>de</strong>senhos dos seus<br />

figurinos. Mas não só. De facto, a<br />

dança, como coreografia da sedução,<br />

sempre interesssou o pintor espanhol.<br />

E, na sequência do seu projecto <strong>de</strong><br />

apropriação total da história da arte,<br />

revisita as bailarinas e cortesãs<br />

celebrizadas pela pintura: Salomé<br />

seduzindo Hero<strong>de</strong>s, ninfas bailando<br />

ao luar, odaliscas e outras musas,<br />

todas são pretexto para o pintor se<br />

auto-retratar passivo, músico,<br />

espectador, e sempre seduzido: em<br />

suma, a dança revela-se aqui como<br />

um tema apropriado às obsessões <strong>de</strong><br />

Picasso. Luísa Soares <strong>de</strong> Oliveira<br />

Agenda<br />

Inauguram<br />

Chinoiserie<br />

De Ana<br />

Pérez-<br />

Quiroga.<br />

<strong>Lisboa</strong>. 3 + 1 Arte<br />

Contem<strong>por</strong>ânea.<br />

Rua António Maria<br />

Cardoso, 31. Tel.:<br />

210170765. Até<br />

21/02. 3ªa Sáb. das<br />

12h30 às 20h.<br />

Inaugura 9/1 às<br />

22h.<br />

Objectos,<br />

Desenho.<br />

Even If You Win<br />

The Rat Race,<br />

You’re Still a Rat<br />

De Alexandre Farto.<br />

<strong>Lisboa</strong>. Vera Cortês - Agência <strong>de</strong> Arte. Avenida<br />

24 <strong>de</strong> Julho, 54 - 1ºE. Tel.: 213950177. Até<br />

21/02. 3ª a 6ª das 11h às 19h. Sáb. das 15h às<br />

20h. Inaugura 9/1 às 22h.<br />

Instalação, Escultura.<br />

Max Frey<br />

<strong>Lisboa</strong>. Vera Cortês - Agência <strong>de</strong> Arte. Avenida<br />

24 <strong>de</strong> Julho, 54 - 1ºE. Tel.: 213950177. Até<br />

21/02. 3ª a 6ª das 11h às 19h. Sáb. das 15h às<br />

20h. Inaugura 9/1 às 22h.<br />

Instalação.<br />

Vestígio<br />

De Ana Anacleto, Ana Fonseca,<br />

Ângelo Ferreira <strong>de</strong> Sousa, Carla<br />

Cruz, Carlos Correia, Carlos<br />

Noronha Feio, Cecília Costa,<br />

Gabriel Abrantes, João<br />

<strong>Le</strong>onardo, Mara Castilho, Maria<br />

Condado, Marta Moura, Mikael<br />

Larsson, Paulo Brighenti,<br />

Romeu Gonçalves, Samuel<br />

Rama, Valter Barros.<br />

<strong>Lisboa</strong>. Pavilhão 28. Av. do Brasil, 53. Tel.:<br />

217917000. Até 27/01. 2ª a 6ª das 10h às 17h.<br />

Inaugura 9/1 às 21h30.<br />

Instalação, Performance, Ví<strong>de</strong>o,<br />

Desenho, Fotografia, Pintura,<br />

Escultura.<br />

Flatland<br />

De Catarina <strong>Le</strong>itão.<br />

<strong>Lisboa</strong>. Galeria Pedro Cera. Rua do Patrocínio,<br />

67E. Tel.: 218162032. Até 21/02. 3ª a Sáb. das<br />

14h30 às 19h30. Inaugura 10/1 às 18h.<br />

Pintura, Desenho, Outros.<br />

O Banquete<br />

De Elsa Marques.<br />

<strong>Lisboa</strong>. Carlos Carvalho - Arte Contem<strong>por</strong>ânea.<br />

Rua Joly Braga Santos, Lote F - r/c. Tel.:<br />

217261831. Até 15/02. 2ª a 6ª das 10h30 às<br />

19h30. Sáb. das 12h às 19h30. <strong>Lisboa</strong>rte.<br />

Inaugura 10/1 às 16h.<br />

Pintura.<br />

White Landscape<br />

De Ana Cintra.<br />

<strong>Lisboa</strong>. Galeria Arte Periférica. Praça do Império<br />

- Centro Cultural <strong>de</strong> Belém, Loja 3. Tel.:<br />

213617100. Até 25/02. 2ª a Dom. das 10h às 20h.<br />

<strong>Lisboa</strong>rte. Inaugura 10/1 das 15h às 20h.<br />

Pintura, Desenho.<br />

Trinta Anos <strong>de</strong> Diferença II<br />

De vários autores.<br />

<strong>Lisboa</strong>. Galeria Diferença. Rua São Filipe Neri,<br />

42 - Cave. Tel.: 213832193. Atéa 28/02. 3ª a Sáb.<br />

das 15h às 20h. <strong>Lisboa</strong>rte. Inaugura 10/1 das<br />

15h às 20h.<br />

Fotografia.<br />

Ípsilon • Sexta-feira 9 Janeiro 2009 • 29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!