por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
por Le Clézio revelado O mundo - Fonoteca Municipal de Lisboa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Kim Gordon e Julie Cafritz<br />
vestiram-se como versões femininas<br />
<strong>de</strong> Marc Bolan e vaguearam <strong>por</strong><br />
on<strong>de</strong> a intuição as levou<br />
Espaço<br />
Público<br />
Tenho muito gosto em<br />
partilhar as minhas<br />
escolhas pessoais em<br />
termos dos discos que<br />
mais me marcaram no ano<br />
<strong>de</strong> 2008. Músicos que têm<br />
direito ao merecidíssimo<br />
reconhecimento do seu<br />
trabalho. Destaco Peter<br />
Bro<strong>de</strong>rick, multiinstrumentista<br />
norteamericano<br />
a trabalhar<br />
na Dinamarca, autor do<br />
sublime “Home”. Os Fleet<br />
Foxes com o seu álbum<br />
homónimo remexeram<br />
nas suas raízes musicais<br />
e fizeram um belíssimo<br />
retrato dos EUA. A banda<br />
inglesa The Acci<strong>de</strong>ntal, no<br />
seu álbum <strong>de</strong> estreia “There<br />
were wolves”, conseguiu<br />
<strong>de</strong>monstrar como se fazem<br />
excelentes canções. O norteamericano<br />
Justin Vernon,<br />
sob a capa Bon Iver, <strong>de</strong>u<br />
uma lição <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong><br />
e criativida<strong>de</strong> com o seu<br />
melancólico “For Emma,<br />
forever ago”. Joan Wasser,<br />
a mulher-polícia <strong>de</strong> Nova<br />
Iorque, apresentou “To<br />
survive” em gran<strong>de</strong> forma<br />
e cheia <strong>de</strong> segurança.<br />
Em Portugal e em bom<br />
<strong>por</strong>tuguês, <strong>de</strong>staco<br />
B Fachada que, carregado<br />
<strong>de</strong> orgulho nacional,<br />
surpreen<strong>de</strong>u com a sua<br />
“Viola Braguesa”.<br />
João Semog, 39 anos, artista<br />
plástico<br />
padrões imediatamente<br />
reconhecíveis. A voz glaciar e<br />
sussurrada <strong>de</strong> Gordon e as<br />
guitarras, distorcidas, cruzando-se<br />
em espirais eléctricas (os Sonic Youth<br />
<strong>de</strong> “Dirty”, mas sem canções, só com<br />
uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> som). O garage-punk<br />
corrosivo berrado <strong>por</strong> Julie Cafritz,<br />
violência sónica cuspida com<br />
fervor, e a libertinagem rítmica<br />
<strong>de</strong> Yoshimi, em equilíbrio<br />
precário à beira do<br />
precipício.<br />
“Inherit” não é um<br />
álbum <strong>de</strong> quem procura<br />
explorar novas vertentes<br />
criativas em projecto<br />
secundário - “The poet” e<br />
“Erected girl” caberiam, <strong>de</strong>vidamente<br />
trabalhadas, num álbum dos Sonic<br />
Youth -, é um encontro<br />
<strong>de</strong>scomprometido numa garagem<br />
on<strong>de</strong>, <strong>por</strong> acaso, até havia um<br />
gravador e, vai daí, <strong>por</strong>que não gravar<br />
um disco? A história não é<br />
exactamente esta, mas é a isso que soa<br />
este ocasionalmente interessante,<br />
ocasionalmente redundante “Inherit”.<br />
Gordon e Cafritz vestiram-se como<br />
versões femininas <strong>de</strong> Marc Bolan (fase<br />
Tyranossaurus Rex) e vaguearam <strong>por</strong><br />
on<strong>de</strong> a intuição as levou: chegaram ao<br />
xamanismo psicadélico <strong>de</strong> “Free<br />
kitten on the mountain”, que no seu<br />
<strong>de</strong>lírio opiáceo, na sua escuridão<br />
pantanosa, é a melhor canção do<br />
álbum, e chegaram à agressivida<strong>de</strong><br />
riot-grrrl <strong>de</strong> “Bananas”, canção<br />
afogada em fuzz, canção que nos<br />
agarra pelos colarinhos para vociferar<br />
não sabemos bem o quê (mas é<br />
melhor levá-la a sério).<br />
Nada do que aqui ouvimos é<br />
particularmente inspirador - falta-lhe<br />
foco, falta-lhe transformar muitas das<br />
divagações eléctricas em matéria viva.<br />
Nada nos levará a consi<strong>de</strong>rar as Free<br />
Kitten mais que curiosida<strong>de</strong><br />
interessante a que<br />
regressaremos <strong>de</strong><br />
muito em muito<br />
tempo. Bem vistas as<br />
coisas, já é feito<br />
assinalável para uma<br />
coisa chamada<br />
“supergrupo”. M.L.<br />
Bernardo Devlin<br />
Ágio<br />
Nau, distri. Flur<br />
mmmnn<br />
Pop<br />
hermética<br />
po<strong>de</strong> ser um<br />
oxímoro,<br />
mas é isso<br />
que<br />
Bernardo Devlin propõe há<br />
muito. Com uma carreira<br />
on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>staca uma<br />
passagem pelos Osso Exótico e<br />
um percurso a solo on<strong>de</strong> cabe<br />
a banda-sonora do filme <strong>de</strong><br />
animação “A Suspeita”, o<br />
lisboeta lança agora “Ágio”,<br />
quarto álbum em nome<br />
próprio. De novo, Devlin,<br />
que se assume<br />
fundamentalmente como<br />
cantor, faz canções, mas<br />
que se <strong>de</strong>sviam do apelo<br />
fácil e das estruturas simples próprias<br />
da pop. “Ágio” é pesado, estranho e<br />
difícil, como os discos anteriores,<br />
todos eles impossíveis <strong>de</strong> colocar<br />
numa prateleira, mas, ao mesmo<br />
tempo, caloroso. A voz, cavernosa,<br />
lembra Scott Walker, mas é única a<br />
forma como Devlin coloca as palavras,<br />
cheia <strong>de</strong> maneirismos. Este é um disco<br />
mais rico que o antecessor, “Circa<br />
1999”, <strong>de</strong> 2003, menos classicista,<br />
mais dado ao ritmo e à tensão,<br />
mudanças conseguidas com a ajuda<br />
<strong>de</strong> músicos convidados como Tiago<br />
Miranda (Loosers, Slight Delay, etc.) e<br />
Pedro Oliveira, dos Sétima <strong>Le</strong>gião -<br />
banda que, curiosamente, parece<br />
pairar sobre estas melancólicas<br />
canções que vinham sendo<br />
preparadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005. Em “Desvio<br />
para o vermelho”, os sintetizadores<br />
(instrumento central no disco) fazem<br />
a cama para Devlin, que repete coisas<br />
como “noite, dia, dia, noite” - também<br />
as letras assumem riscos. O álbum<br />
ganha quando é mais directo e<br />
<strong>de</strong>spido, como em “Turno da noite”,<br />
construída em torno <strong>de</strong> batidas<br />
simples, com a voz <strong>de</strong> Devlin<br />
multiplicada, ou “Solário”, espécie <strong>de</strong><br />
balada em que o canto é engolido pela<br />
reverberação e linhas <strong>de</strong> sintetizador<br />
glaciais. Pela sua radicalida<strong>de</strong>, “Ágio”<br />
é um daqueles objectos capazes <strong>de</strong><br />
apaixonar uns, afastar alguns e <strong>de</strong>ixar<br />
outros tantos perplexos, sem saberem<br />
on<strong>de</strong> o situar. Pedro Rios<br />
Lucky Dragons<br />
Dream Island Laughing Language<br />
Upset! The Rhythm, distri. Sabotage<br />
mmmmn<br />
Bernardo Devlin<br />
apaixonará uns,<br />
afastará alguns<br />
e <strong>de</strong>ixará outros<br />
tantos perplexos<br />
Há algo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sconcertante na<br />
música dos Lucky<br />
Dragons, o projecto<br />
em que o<br />
californiano Luke<br />
Fischbeck se ro<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> outros<br />
músicos (com <strong>de</strong>staque para<br />
Sarah Rara - o duo esteve em<br />
Portugal em Outubro). Não<br />
fazem canções, mas também<br />
ocupam um lugar único no<br />
cenário experimental. Neste<br />
disco, o último <strong>de</strong> uma série<br />
<strong>de</strong> 20 registos em vários<br />
formatos,<br />
aprofundam a sua<br />
visão peculiar do<br />
que po<strong>de</strong> ser a<br />
música filtrada<br />
pelas<br />
tecnologias<br />
digitais. Além<br />
<strong>de</strong> tocar<br />
vários<br />
instrumentos<br />
(flautas,<br />
piano,<br />
dulcimer,<br />
entre outros),<br />
cabe também<br />
a Fischbeck a<br />
função <strong>de</strong><br />
editar este<br />
caleidoscópio<br />
sonoro, on<strong>de</strong><br />
cabem<br />
elementos<br />
como<br />
retalhos <strong>de</strong> guitarras folk, gongos,<br />
percussão tribal e vozes<br />
murmurantes. O método dos Lucky<br />
Dragons consiste em provocar um<br />
acontecimento (um objecto percutido,<br />
uma frase <strong>de</strong> guitarra) para, em<br />
seguida, manipulá-lo, num jogo entre<br />
banda e maquinaria electrónica que<br />
impele o ouvinte a participar <strong>de</strong><br />
alguma forma (ao vivo, esta i<strong>de</strong>ia<br />
ganha força, com a banda a convidar o<br />
público a interferir na performance).<br />
A simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas como “Free<br />
guys by the sea” (uma flauta<br />
<strong>de</strong>sgarrada, percussão básica) é<br />
<strong>de</strong>sarmante. Em “Band hammer”,<br />
com uma guitarra acústica em “loop”<br />
e a voz <strong>de</strong> Fischbeck, evocam a<br />
austerida<strong>de</strong> doce <strong>de</strong> Richard Youngs.<br />
“Givers” lembra os Black Dice dos<br />
últimos discos, enveredando <strong>por</strong><br />
caminhos mais lúdicos mas também<br />
fortemente rítmicos, e “My are<br />
singing”, outro momento alto, põe<br />
uma guitarra acústica roufenha em<br />
círculos <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> vozes em cascata.<br />
Como os Lucky Dragons já nos<br />
habituaram, “Dream Island Laughing<br />
Language” inclui várias faixas que não<br />
são mais do que a simples exploração<br />
<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia. Este lado ingénuo e<br />
brincalhão é, ao mesmo tempo, o seu<br />
trunfo e calcanhar <strong>de</strong> Aquiles, já que<br />
fica a impressão que a banda só<br />
beneficiaria <strong>de</strong> uma maior filtragem<br />
antes <strong>de</strong> editar um disco. P.R.<br />
Jazz<br />
Som <strong>de</strong><br />
mestre<br />
Acompanhado <strong>por</strong> uma<br />
big band e uma orquestra<br />
sinfónica, Joe Lovano<br />
apresenta um dos seus<br />
projectos mais ambiciosos.<br />
Paulo Barbosa<br />
Joe Lovano<br />
Symphonica<br />
Blue Note; Dist. EMI<br />
mmmnn<br />
À excepção<br />
<strong>de</strong> “Duke<br />
Ellington’s<br />
sound of<br />
love”, <strong>de</strong><br />
Charles<br />
Joe Lovano<br />
Mingus, todo o material <strong>de</strong>ste álbum é<br />
da autoria <strong>de</strong> Joe Lovano, que não<br />
escon<strong>de</strong> a sua enorme satisfação <strong>por</strong><br />
ter a o<strong>por</strong>tunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, pela primeira<br />
vez, apresentar as suas composições<br />
ornamentadas com arranjos para uma<br />
orquestra sinfónica (a Rundfunk<br />
Orchester) e uma orquestra <strong>de</strong> jazz (a<br />
WDR Big Band).<br />
As primeiras notas com que Lovano<br />
faz planar o seu saxofone sobre uma<br />
massa orquestral <strong>de</strong> quase 80 músicos<br />
fazem com que <strong>de</strong> imediato nos<br />
reconheçamos na presença <strong>de</strong> um dos<br />
gran<strong>de</strong>s mestres do jazz das últimas<br />
duas décadas. Empunhando o<br />
saxofone tenor em cinco temas e o<br />
soprano em outros dois, Lovano<br />
apresenta-se em apuradíssima forma<br />
ao longo <strong>de</strong> todo o álbum. Com um<br />
som tipicamente cheio e<br />
inconfundível - mais sensual e<br />
envolvente ou mais nervoso e picante,<br />
consoante cada ocasião -, Lovano<br />
acaba, como seria <strong>de</strong> esperar, <strong>por</strong><br />
dominar quase todo o álbum. E<br />
melhor seria que, enquanto voz<br />
solista, o dominasse <strong>por</strong> completo, já<br />
que, <strong>por</strong> comparação com a<br />
excelência <strong>de</strong> Lovano, as intervenções<br />
improvisadas <strong>por</strong> músicos da WDR Big<br />
Band acabam <strong>por</strong> constituir<br />
momentos anti-climáticos que em<br />
nada beneficiam este registo. Os<br />
arranjos <strong>de</strong> Michael Abene são<br />
ambiciosos, mas acabam <strong>por</strong> se<br />
revelar como meramente funcionais<br />
na criação <strong>de</strong> um contexto para os<br />
mais diversos movimentos do<br />
saxofonista.<br />
Por tudo isto se prevê que o ouvinte<br />
mais atento compare os resultados<br />
aqui obtidos com os <strong>de</strong> “Rush Hour”,<br />
álbum com orquestrações entregues a<br />
Gunther Schuller, e reconheça uma<br />
clara vantagem àquela gravação,<br />
<strong>por</strong>ventura uma das melhores que o<br />
jazz nos ofereceu nos últimos anos<br />
com este tipo <strong>de</strong> formação.<br />
“Symphonica” é recomendável aos<br />
mais acérrimos seguidores do gran<strong>de</strong><br />
som <strong>de</strong> Lovano; os outros <strong>de</strong>verão<br />
iniciar o contacto com este<br />
im<strong>por</strong>tante saxofonista através <strong>de</strong><br />
outros álbuns, alguns dos quais<br />
verda<strong>de</strong>iramente essenciais, como<br />
“Landmarks”, “Sounds of Joy”, “From<br />
the Soul”, “Quartets” ou o referido<br />
“Rush Hour”.<br />
O som<br />
do cinema<br />
O trompetista luso faz uma<br />
revisão jazzística a músicas<br />
que marcaram a<br />
história da sétima<br />
arte. Nuno<br />
Catarino<br />
Laurent Filipe<br />
Flick Music<br />
iPlay<br />
mmmnn<br />
O que é mais<br />
sensual, o corpo<br />
lânguido <strong>de</strong><br />
Maria Schnei<strong>de</strong>r<br />
no “Último Tango<br />
em Paris” ou o<br />
saxofone fogoso <strong>de</strong><br />
Gato Barbieri a<br />
crepitar sobre esse<br />
mesmo filme? A resposta fica para o<br />
leitor, mas não há dúvida que a ligação<br />
entre imagens e música sempre foi<br />
frutuosa. São inúmeros os exemplos,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o cinema integrou o som<br />
(<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pioneiro “The Jazz Singer”)<br />
até aos nossos dias, da união da<br />
música à imagem animada. De facto,<br />
alguma da melhor música <strong>de</strong> sempre<br />
foi composta para cinema - as<br />
ligações <strong>de</strong> Bernard Herrmann a<br />
Hitchcock e <strong>de</strong> Ennio Morricone a<br />
<strong>Le</strong>one são lendárias e no campo do<br />
jazz também há casos <strong>de</strong> relevo,<br />
como o trabalho <strong>de</strong> Herbie Hancock<br />
no “Blow Up” <strong>de</strong> Antonioni, Ellington<br />
para “Anatomia <strong>de</strong> um Crime” <strong>de</strong><br />
Preminger ou Miles em “Ascenseur<br />
<strong>por</strong> l’échafaud” <strong>de</strong> Louis Malle. Se<br />
muitas vezes a música tem papel<br />
meramente <strong>de</strong>corativo, outras vezes<br />
ganha mais im<strong>por</strong>tância que as<br />
imagens - que po<strong>de</strong>m valer mais que<br />
mil palavras, mas menos que um solo<br />
<strong>de</strong> trompete.<br />
O trompetista Laurent Filipe<br />
aventura-se agora numa revisão<br />
jazzística <strong>de</strong> alguns clássicos que<br />
ficaram famosos enquanto “banda<br />
sonora”. Já sabemos que o som do<br />
seu trompete é <strong>de</strong> uma rara doçura<br />
(faz sentido lembrar a sua recente<br />
homenagem a Chet Baker, “O<strong>de</strong> to<br />
Chet”) e os comparsas neste projecto<br />
estão em bom nível - Filipe conta com<br />
as colaborações <strong>de</strong> André Fernan<strong>de</strong>s<br />
na guitarra, Demian Cabaud no<br />
contrabaixo e Pedro Viana na bateria.<br />
A tarefa torna-se complicada quando<br />
se levanta a questão: o que fazer<br />
quando as músicas originais já são<br />
tão boas? A tarefa não é fácil e o<br />
resultado não é sempre igual. Se <strong>por</strong><br />
vezes a nova roupagem proposta<br />
assenta que nem uma luva sobre as<br />
melodias (particularmente quando à<br />
partida estas já assumem um registo<br />
bala<strong>de</strong>iro, como é o caso <strong>de</strong> “Il<br />
Postino”, do filme “O Carteiro <strong>de</strong><br />
Pablo Neruda”), outras vezes o<br />
resultado soa <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quado. Há dois<br />
casos flagrantes: “Can’t Buy Me Love”<br />
e “Raindrops (Keep Falling On My<br />
Head)”. Antes <strong>de</strong> mais po<strong>de</strong>ríamos<br />
questionar a escolha daquela música<br />
dos Beatles, quando haveriam tantas<br />
outras mais cinéfilas - nesta versão<br />
Laurent Filipe opta <strong>por</strong> manter<br />
alguma frescura rítmica, mas acaba<br />
sempre <strong>por</strong> ficar longe do original,<br />
per<strong>de</strong>ndo-se num meio termo<br />
jazzístico, num limbo incaracterístico.<br />
Já a versão do clássico <strong>de</strong> Burt<br />
Bacharach assume uma dimensão<br />
popularucha que <strong>de</strong>stoa da essência<br />
original - ingénua, agridoce, feliz. A<br />
forma como estes temas são<br />
maltratados po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sconcentrarnos<br />
do resto do projecto, bem<br />
intencionado, e que <strong>por</strong> vezes alcança<br />
resultados bem satisfatórios - a<br />
penúltima, “Chinatown”, é talvez a<br />
mais conseguida, a que melhor<br />
<strong>de</strong>monstra a envolvência do grupo e<br />
on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>staca a guitarra <strong>de</strong> André<br />
Fernan<strong>de</strong>s, em intervenções discretas<br />
mas precisas.<br />
Ípsilon • Sexta-feira 9 Janeiro 2009 • 45