provocar cancro. Estas evidências são importantes pois a falta <strong>de</strong> conhecimento po<strong>de</strong>rá<strong>de</strong>terminar, directa ou indirectamente, uma fraca ou incorrecta utilização dos métodoscontraceptivos (Dias, 2005; London e Robles, 2000).De igual forma, os resultados <strong>de</strong>ste estudo apontam para a existência <strong>de</strong> lacunas im por -tantes no conhecimento sobre a transmissão e prevenção das infecções <strong>sexual</strong>mentetransmissíveis, sobretudo nas participantes <strong>africanas</strong>, o que po<strong>de</strong>rá ter implicações naadopção <strong>de</strong> práticas sexuais saudáveis ou <strong>de</strong> estratégias preventivas. Por outro lado, asparticipantes brasileiras <strong>de</strong>monstram um nível <strong>de</strong> conhecimentos mais elevado e expressama opinião <strong>de</strong> que é importante existir um maior investimento na área da informaçãosobre esta temática.As diferenças encontradas nos grupos focais com <strong>mulheres</strong> <strong>africanas</strong> e brasileiras,relativamente ao nível <strong>de</strong> conhecimento sobre estas temáticas, po<strong>de</strong>rão em parte ser explicadaspela diferença no nível educacional entre estes dois grupos. Tem vindo a serapontado que um maior nível <strong>de</strong> conhecimento sobre planeamento familiar, contracepçãoe IST está associado a níveis educacionais mais elevados (Burns et al., 2005; Dias, Matose Gon çal ves, 2006; Wong, Campsmith, Nakamura, Crepaz e Begley, 2004). Segundoalguns estudos, os indivíduos que apresentam níveis mais elevados <strong>de</strong> conhecimentosobre IST ten<strong>de</strong>m a percepcionar a doença como um risco pessoal e a reconhecer aimportância <strong>de</strong> tomar medidas protectoras (Norman e Gebre, 2005; Worthington e Myers,2003).Nas discussões dos grupos focais, as <strong>mulheres</strong> <strong>africanas</strong> salientam a associação entre oscomportamentos sexuais <strong>de</strong> risco dos parceiros e a sua vulnerabilida<strong>de</strong> à infecção peloVIH/Sida. Os resultados do estudo sugerem que a negociação do preservativo nas relaçõesheterossexuais é frequentemente difícil. De acordo com alguns autores, em muitos casosas <strong>mulheres</strong> <strong>africanas</strong> apercebem-se que têm muito pouco controlo sobre o comportamento<strong>sexual</strong> dos seus parceiros e oportunida<strong>de</strong>s limitadas para adoptar medidas <strong>de</strong> prevençãoda infecção pelo VIH, como a introdução do uso do preservativo (Dias et al., 2002;Lauby, Semaan, O’Connell, Person e Vogel, 2001; Weeks, Schensul, Williams, Singer eGrier, 1995; Williams, Gardos, Ortiz-Torres, Toss e Ehrhardt, 2001; Wingood e DiCle men -Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo (127)
te, 2000). Neste contexto, é importante consi<strong>de</strong>rar a influência das questões <strong>de</strong> género eas diferenças <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre o uso <strong>de</strong> preservativo, na medida emque, muitas vezes, esta é uma <strong>de</strong>cisão unilateral do homem (APF, 2006; Wall, Nunes eMatias, 2005; Woollett et al., 1998). O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> programas efectivos <strong>de</strong> pre -ven ção e promoção do uso do preservativo requer que os comportamentos sexuais e a ne -gociação do «sexo seguro» sejam contextualizados na realida<strong>de</strong> em que a comunida<strong>de</strong> estáinserida. Esta realida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>terminada pela situação epi<strong>de</strong>miológica, pela mobilida<strong>de</strong>,pelos tabus e crenças religiosas, pelas dinâmicas <strong>de</strong> género e po<strong>de</strong>r implícitas nesta problemática,pelos factores sociais, económicos e culturais e pelo acesso aos serviços <strong>de</strong>saú <strong>de</strong> (Kelly, Murphy, Sikkema e Kalichaman, 1993; Mann, 1992; Wingood e DiCle men -te, 2000; Woollett et al., 1998). Por outro lado, será necessário promover uma imagemsocial do preservativo que reafirme a sua eficácia no âmbito da prevenção, bem como asua a<strong>de</strong>quação no contexto <strong>de</strong> uma relação estável.Actualmente é reconhecido que as intervenções na área da saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong> <strong>de</strong>vem<strong>de</strong>senvolver esforços para envolver também os homens neste processo, dado que emmuitos contextos é o seu comportamento que, directa ou indirectamente, afecta a saú<strong>de</strong>das <strong>mulheres</strong> (Lawrence et al., 1998; Elwy, Hart, Hawkes e Petticrew, 2002).No entanto, nas discussões dos grupos focais verificou-se existir um grupo <strong>de</strong> participantesque <strong>de</strong>monstra uma atitu<strong>de</strong> assertiva e parece estar <strong>de</strong>cidida a assumir parte do controloem relação à adopção <strong>de</strong> estratégias preventivas, criticando as <strong>mulheres</strong> que sobrestimamo po<strong>de</strong>r dos parceiros nas relações heterossexuais.Gran<strong>de</strong> parte das discussões dos grupos focais foi relacionada com a gravi<strong>de</strong>z, a ma ter -nida<strong>de</strong> e as experiências ligadas ao parto. É importante salientar que neste estudo, as <strong>mulheres</strong><strong>africanas</strong> reportam ter maior número <strong>de</strong> filhos do que as <strong>mulheres</strong> brasileiras, factoque po<strong>de</strong> em parte ser explicado pelas diferenças <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e tempo <strong>de</strong> residência em Por -tu gal observadas entre os dois grupos. Em geral, os discursos das participantes revelammuitos receios em relação ao parto, sendo esta te má tica bastante relevante para todaselas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> já terem ou não tido filhos. No entanto, enquanto que as<strong>africanas</strong> consi<strong>de</strong>ram que as experiências relativas ao parto vividas no país <strong>de</strong> origem são(128) Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo
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