si tua ções <strong>de</strong> exploração <strong>sexual</strong> (IOM, 2005). Por outro lado, o abandono do ambientefamiliar e o contacto com um contexto <strong>de</strong>sconhecido e uma socieda<strong>de</strong> com diferentesvalores, percepções e tradições po<strong>de</strong>m constituir importantes <strong>de</strong>safios à capacida<strong>de</strong> dosindivíduos para lidarem com a mudança (IOM, 2003). Nos países <strong>de</strong> acolhimento, os <strong>imigrantes</strong>en contram-se muitas vezes num estado <strong>de</strong> transição em que mantêm<strong>de</strong>terminadas representações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e crenças culturais enquanto, simultaneamente, seadaptam a um novo contexto, situação que po<strong>de</strong> constituir factor <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> (IOM,2004b).Aten<strong>de</strong>ndo ao frequente isolamento social das populações <strong>imigrantes</strong> e à opinião públicacorrente nos países <strong>de</strong> acolhimento sobre a imigração, estas populações po<strong>de</strong>m ser alvo<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s discriminatórias quanto à sua origem étnica, crenças religiosas ou condição <strong>de</strong>imigrante, o que condiciona a sua adaptação e integração na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento,com impacto no seu bem-estar físico e psicossocial (Scheppers et al., 2006; Stampino,2007).De acordo com algumas investigações, a associação positiva entre imigração e vulne ra bi -lida<strong>de</strong> em saú<strong>de</strong> parece estar relacionada com um reduzido acesso e utilização dos ser -viços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Dias e Gonçalves, 2007; Politzer et al., 2001; Stronks, Ravelli e Reji -neyveld, 2001). Estudos indicam que, na maior parte dos países <strong>de</strong>senvolvidos receptores<strong>de</strong> <strong>imigrantes</strong>, muitas vezes, as populações <strong>imigrantes</strong> não beneficiam <strong>de</strong> todos os ser vi -ços disponíveis e não são sistematicamente abrangidas pelos sistemas <strong>de</strong> informação, pre -ven ção ou tratamento (Mcmunn, Mwanje, Paine e Pozniak, 1998; IOM, 2004a). O acessoe a utilização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser condicionados por diferentes níveis <strong>de</strong> bar -reiras e/ou obstáculos, nomeadamente legislativos, estruturais, económicos e culturais(Dias e Gonçalves, 2007; Dias, Gonçalves, Luck e Fernan<strong>de</strong>s, 2004; Fennelly, 2004).A instabilida<strong>de</strong> e precarieda<strong>de</strong> da situação laboral dos <strong>imigrantes</strong>, a dificulda<strong>de</strong> em obterprotecção social e o custo associado aos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m constituir barreiras àutilização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> por parte <strong>de</strong>stas populações (Dias e Gonçalves, 2007).Tam bém as condições estruturais dos próprios serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, nomeadamente as infra-estruturase funcionamento (localização, horário e tempo <strong>de</strong> espera para atendimento),Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo (37)
po<strong>de</strong>m condicionar o acesso e utilização por parte das populações <strong>imigrantes</strong> (Gonçalves,Dias, Luck, Fernan<strong>de</strong>s e Cabral, 2003; Scheppers et al., 2006). Muitas vezes, os imigran -tes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m economicamente <strong>de</strong> vários empregos, o que impossibilita recorrerem aosserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> durante o horário <strong>de</strong> funcionamento, que coinci<strong>de</strong> em geral com o ho -rário <strong>de</strong> trabalho.Por outro lado, no acesso aos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, muitas vezes são impostas restriçõesaos <strong>imigrantes</strong> <strong>de</strong>vido à sua situação irregular. Os profissionais dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>apre sentam, frequentemente, um limitado conhecimento do quadro legal do acesso aoscuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou da sua aplicabilida<strong>de</strong>, o que po<strong>de</strong> resultar na exclusão das comu -ni da<strong>de</strong>s <strong>imigrantes</strong> do sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Dias e Gonçalves, 2007). Adicionalmente,verifica-se, muitas vezes, o receio <strong>de</strong> <strong>imigrantes</strong> indocumentados verem <strong>de</strong>nunciada a suasituação <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong> pelos profissionais e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> às autorida<strong>de</strong>s para aimigração (Carta et al., 2005; CCHS, 1997; Hansen e Krasnik, 2007; Kullgren, 2003;Gon çalves et al., 2003; IOM, 2005). Estas situações po<strong>de</strong>m levar a que as populações<strong>imigrantes</strong> evitem utilizar os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, recorrendo à automedicação, à medicinaalternativa e a serviços em que não seja pedida documentação, como urgências, far má -cias, unida<strong>de</strong>s móveis, entre outros (CCHS, 1997; Dias e Gonçalves, 2007). A utilização<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> serviços em <strong>de</strong>trimento dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> compromete a prevenção eleva a que os <strong>imigrantes</strong> apenas recorram a serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em caso <strong>de</strong> emergência ounuma fase avançada da doença, que se traduz num elevado custo do tratamentoassociado a uma intervenção tardia (Gonçalves et al., 2003; WHO, 2003a).Os costumes, as tradições, a religião, as questões <strong>de</strong> género, e as crenças e repre sen ta -ções sobre saú<strong>de</strong> e doença influenciam as práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, os comportamentos <strong>de</strong> riscoe a percepção dos <strong>imigrantes</strong> sobre a necessida<strong>de</strong> da utilização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>(Dias, Matos e Gonçalves, 2002; Fongwa, 2001; Stronks, Ravelli e Rejineyveld, 2001;Fenton et al., 2005; Gonçalves et al., 2003; IOM, 2004a; Marston e King, 2006; Schep -pers et al., 2006). Práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> utilizadas nos países <strong>de</strong> origem, como o recurso àme dicina tradicional em <strong>de</strong>trimento da medicina convencional, po<strong>de</strong>m perpetuar-se nospaíses <strong>de</strong> acolhimento, traduzindo-se numa menor procura dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Por outrolado, a relação entre utilizadores e prestadores <strong>de</strong> cuidados po<strong>de</strong> ser condicionada(38) Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo
- Page 1 and 2: OBSERVATÓRIO DA IMIGRAÇÃOSAÚDE
- Page 3 and 4: Biblioteca Nacional de Portugal - C
- Page 5 and 6: 3. POLÍTICAS DE SAÚDE SEXUAL E RE
- Page 7 and 8: LISTA DE TABELASTabela 1 - Distribu
- Page 9 and 10: Importa cultural do recordar nosso
- Page 11 and 12: O estudo em apreço é delicado.As
- Page 13 and 14: AGRADECIMENTOSA equipa do estudo ag
- Page 15 and 16: tiva implica uma perspectiva positi
- Page 17 and 18: com portamentos na área da sexuali
- Page 19 and 20: tituída por dois capítulos relati
- Page 21 and 22: Em 1960, a população estrangeira
- Page 25 and 26: Porém, têm vindo a ser desenvolvi
- Page 27 and 28: seus direitos fundamentais. Neste c
- Page 29 and 30: As mulheres imigrantes oriundas dos
- Page 31 and 32: A sistematização e adopção de p
- Page 33 and 34: assegurar a colaboração técnica
- Page 35 and 36: e acessibilidade aos ser viços de
- Page 37: et al., 2006). No contexto laboral,
- Page 41 and 42: ferência Internacional sobre Popul
- Page 43 and 44: fantil apresentam-se mais elevadas
- Page 45 and 46: pelos seus maridos ou outros elemen
- Page 47 and 48: uma cultura e língua diferentes po
- Page 49 and 50: dência económica verifica-se muit
- Page 51 and 52: 2.4. ViolênciaA violência contra
- Page 53 and 54: ces sidade de capacitar os profissi
- Page 55 and 56: A nível internacional, e com base
- Page 57 and 58: Acor dos de Cooperação Internacio
- Page 59 and 60: ção Internacional de Planeamento
- Page 61 and 62: CPLP de combate ao VIH/Sida (Diári
- Page 63: os participantes discutem sobre um
- Page 66 and 67: facilitador do processo, mantendo a
- Page 68 and 69: tras mulheres imigrantes que corres
- Page 70 and 71: ca nas. Destas últimas, 9 provêm
- Page 72 and 73: Em relação à situação profissi
- Page 74 and 75: A Tabela 9 refere-se às 10 mulhere
- Page 76 and 77: não fui entregar. Mas eu não faç
- Page 78 and 79: Eu não gosto do aparelho, eu sempr
- Page 80 and 81: No mesmo sentido, salientam ainda a
- Page 82 and 83: Eu acho que os homens é que deviam
- Page 84 and 85: Por seu lado, as africanas descreve
- Page 86 and 87: comida, limpar a casa, não tinha m
- Page 88 and 89:
No entanto, um grupo de participant
- Page 90 and 91:
com medo de dizer aos pais. Então
- Page 92 and 93:
• Práticas tradicionais/receitas
- Page 94 and 95:
Eu acho que aqui tem menos divulga
- Page 96 and 97:
(…) eu acho que tudo é important
- Page 98 and 99:
Uma participante africana realça a
- Page 100 and 101:
Processo de Migração3.12. Experi
- Page 102 and 103:
chave para não fugir (…). Ela ar
- Page 104 and 105:
drugada, para entrar no trabalho à
- Page 106 and 107:
Eu fui fazer uns exames (…) e eu
- Page 108 and 109:
pouca frequência a estes serviços
- Page 110 and 111:
No posto médico, eu fui só em que
- Page 112 and 113:
Na opinião das mulheres brasileira
- Page 114 and 115:
(…) a médica lá no Brasil tinha
- Page 116 and 117:
meses. (…) nós já temos o nosso
- Page 118 and 119:
Em vários grupos focais, as atitud
- Page 120 and 121:
Em alguns grupos focais é também
- Page 122 and 123:
(…) não sei como são as questõ
- Page 124 and 125:
No final dos grupos focais foi soli
- Page 126 and 127:
Salientam ainda a importância de o
- Page 128 and 129:
provocar cancro. Estas evidências
- Page 130 and 131:
geralmente mais difíceis do que aq
- Page 132 and 133:
Nos discursos das participantes, as
- Page 134 and 135:
Nas discussões dos grupos focais,
- Page 136 and 137:
fe rentes razões para a sua escolh
- Page 138 and 139:
ar reira no acesso aos serviços de
- Page 140 and 141:
Nos grupos focais foi referido que
- Page 142 and 143:
CONCLUSÕESOs resultados deste estu
- Page 144 and 145:
ção devem promover a inclusão so
- Page 146 and 147:
ter utilizado uma amostra intencion
- Page 148 and 149:
BIBLIOGRAFIAABBOTT, M., WONG, S., W
- Page 150 and 151:
BOYD, M. (2006), «Push Factors Res
- Page 152 and 153:
COKER, R. (2003), Migration, Public
- Page 154 and 155:
DINIZ, E. (2004), «A mulher brasil
- Page 156 and 157:
FOWLER, N. (1998), «Providing prim
- Page 158 and 159:
HYMAN, I. (2007), Immigration and H
- Page 160 and 161:
KULLGREN, J. (2003), «Restrictions
- Page 162 and 163:
MANUEL, H. (2007), Conhecimentos, A
- Page 164 and 165:
ORMOND, M. (2004), Barriers to Immi
- Page 166 and 167:
SALAMA, P., e DONDERO, T. (2001),
- Page 168 and 169:
UN - United Nations (1994), Report
- Page 170 and 171:
WHO - World Health Organization (19
- Page 172 and 173:
ANEXO - GUIÃO UTILIZADOPARA A COND
- Page 174 and 175:
Saúde Sexual e Reprodutiva de Mulh